O Livre avisou esta quarta-feira que a falta de clareza dos partidos sobre o pós-legislativas pode acarretar “uma surpresa negativa” e considerou que uma maioria à esquerda “deve ter tempo para negociar um acordo escrito de governação”.

“Quem não der essa clareza às pessoas até dia 10 de março, achando que com isso, de certa forma, coloca pressão sobre o eleitorado, pode ter uma surpresa negativa. Vimos que isso funcionou nas últimas eleições, deu uma maioria absoluta ao PS, mas depois vimos no que resultou”, defendeu o porta-voz do Livre Rui Tavares, em declarações à agência Lusa, na sede do partido, em Lisboa.

O deputado único do Livre falava após uma reunião com a Associação Natureza Portugal, altura em que foi questionado sobre um apelo lançado esta quarta-feira por mais de 150 personalidades de diferentes áreas aos partidos de esquerda para, nas próximas legislativas, apresentarem propostas e compromissos para “resolver problemas que atormentam o país”, pedindo “as contas certas de medidas urgentes”.

Rui Tavares disse acolher este apelo “com muita alegria”, considerando que é “exatamente o tipo de linguagem clara” que os partidos devem ter com os eleitores.

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Para o dirigente do Livre, uma eventual maioria de esquerda “deve ter tempo para negociar um acordo escrito de governação, que possa ser escrutinado pela população, que seja transparente, responsabilizável e multilateral”.

O objetivo do partido nas legislativas, além de conquistar um grupo parlamentar, é ser parte de uma maioria de esquerda “progressista e ecológica”. Tavares defendeu que “não há discurso ecológico da parte do Governo” e que, “mesmo na ‘geringonça’, uma boa parte desse discurso ficou resumido à transição energética”.

“E, portanto, na mesa negocial ou no diálogo para a construção de uma maioria parlamentar na próxima legislatura temos que juntar ao contrato democrático e ao contrato social, um contrato ambiental“, sublinhou.

Rui Tavares considerou ainda que “o que a direita tem para oferecer para Portugal é uma enorme barafunda”.

O dirigente vê uma direita “autofágica, que está a roubar deputados uns aos outros” e que “deu cabo de uma legislatura nos Açores” – que terá eleições regionais em 4 de fevereiro.

“Uma parte dessa direita, basicamente, promete rasgar o contrato democrático e até de uma certa capacidade de diálogo, de harmonia e de respeito mútuo que tem havido até agora na sociedade portuguesa, introduzindo no discurso uma grande agressividade que vai deteriorar a nossa democracia”, advertiu.

Após a reunião com a Associação Natureza Portugal, Rui Tavares manifestou preocupação com a crise hídrica no Algarve, dizendo que ficou claro neste encontro que “há ações de restauro da natureza, no caso restauro de cursos de água e de restauro arbóreo, de florestas na serra algarvia, que têm um efeito mais imediato na boa gestão da água do que projetos às vezes megalómanos em que alguns partidos nos querem meter”.

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Tavares salientou que os projetos de dessalinização “demoram muito tempo, são muito caros, produzem resíduos sob a forma de salmoura que depois são complicados de tratar e tóxicos”.

A número dois do Livre no círculo de Lisboa para as legislativas, Isabel Mendes Lopes, frisou a necessidade de garantir que a transição energética é feita sem deixar os trabalhadores da indústria poluente “para trás”, e o dirigente Carlos Teixeira, também candidato pela capital, disse existir um “alinhamento fortíssimo” entre as medidas propostas pela associação ambiental, em conjunto com outras, e o programa eleitoral do partido.