Um verdadeiro guião para a campanha eleitoral da Aliança Democrática. Numa rara intervenção de fundo sobre política nacional, Paulo Portas tomou conta do palco da “Convenção por Portugal” para escrever as grandes linhas orientadoras do combate que PSD e CDS vão travar até 10 de março: responsabilizar os socialistas pelo estado atual do país, desmontar a tese de que Pedro Nuno Santos não teve intervenção neste período, acenar com o papão do radicalismo à esquerda e provar que um voto no Chega é um voto desperdiçado.
“A 10 de março a AD deve vencer, deve vencer com margem, o PS deve ir para a oposição. A principal missão da AD é dar garantias a quem ainda tenha receios. Substituir o ressentimento pela esperança. Dar uma oportunidade à mudança e não deixar prevalecer a resignação com o que temos e não é bom”, começou por dizer Paulo Portas.
Para o antigo vice-primeiro-ministro os eleitores devem encarar as próximas legislativas com uma pergunta na cabeça: o país está melhor ou pior do que há dois anos. “Está pior a saúde, a educação, a habitação, a carga fiscal, a segurança, a execução dos fundos e a contingência com que temos de executar o PRR. É evidente que Portugal ficou pior comparando com o início da maioria absoluta do PS. Parece-me evidente que se olharmos para este princípio da democracia a única opção racional é um voto de castigo ao PS.”
[Ouça aqui a intervenção de Paulo Portas]
Referindo-se a António Costa, que disse só o PS poderia fazer melhor do que o PS, Paulo Portas propôs, de resto, uma correção: “Só o PS pode fazer pior do que o PS”. “Parecem um grupo de marcianos que não viveram neste país e que não estiveram sentados no conselho de ministros nos últimos oito anos e querem apresentar-se como turistas.”
Num segundo momento, Portas tentou responsabilizar Pedro Nuno Santos, que “leu, viu e concordou” com tudo o que aconteceu durante os últimos oito anos. No caso concreto da TAP e dos CTT, o antigo líder do CDS sublinhou mesmo as responsabilidades diretas de Pedro Nuno Santos no processo de nacionalização, da contratação da então CEO, da demissão de Alexandra Reis, da compra “clandestina” de ações dos CTT.
“O PS quer vender a imagem de Pedro Nuno Santos como o político que decide. Decidir bem é muito mais importante do que decidir mal. Se como ministro revelou tantas vezes impulsividade, o que seria como primeiro-ministro. Um político que revela tanta leviandade e tanta amnésia não é o mais qualificado para chefiar o Governo de Portugal.”
Ora, continuou Portas, uma vitória de Pedro Nuno Santos representaria uma “guinada” decisiva à esquerda. “Fica bastante claro o que está em causa: ou a AD ganha, ou que teremos é uma repetição da ‘geringonça’ com um primeiro-ministro inexperiente e com o BE e o PCP sentado no Conselho de Ministros. Seria o governo mais radicalizado desde 1976”, sugeriu o antigo líder do CDS.
À direita, e sem nunca nomear André Ventura ou o Chega, o antigo vice-primeiro-ministro sugeriu que “há uma tenaz virtual” contra a AD, que tem como “único objetivo perpetuar o PS no poder”. “Como já todos notámos, anda por aí uma tenaz virtual a que querem submeter a coligação: esta eleição disputar-se-ia entre um PS supostamente reinventado e um populismo supostamente interessante. Essa tenaz virtual tem um único objetivo: perpetuar o PS no poder.”
Portas pediu aos eleitores que com “tentações populistas” que tenham “cuidado” com os exemplos do que esses movimentos fizeram quando chegaram ao poder, como o Brexit, o assalto ao Capitólio nos Estados Unidos ou no Brasil, com a gestão da pandemia feita por Jair Bolsonaro.
“Eu sugiro, como aliás tem sido feito, que a coligação oponha a essa tenaz virtual a bipolarização entre dois projetos de Governo, a bipolarização nunca foi radicalização, mas a clarificação de opções, porque há dois modelos para governar Portugal e um está muito deteriorado. Não somos pela desordem. Não somos pela insurreição. Somos pelas reformas e pela estabilidade”, rematou.