À semelhança do que tem sido habitual nas últimas intervenções públicas, Pinto da Costa reservou parte do seu discurso para a imprensa, sobretudo a lisboeta mas no caso da apresentação da recandidatura a tocar até na capa do JN por não fazer referência à cerimónia no Coliseu. “Temos uma comunicação social que nos hostiliza. Ouvi um comentador dizer que mantinha o discurso contra a imprensa lisboeta e que o meu adversário era para combater isso mesmo. Basta ouvir alguns programas para se sentir a vontade com que querem ver-me daqui para fora. Sou afrontado, atacado, até insultado, mas isso só me dá força. Enquanto sentir isso, fico e digo ‘Vamos em frente FC Porto'”, atirou já numa parte final da intervenção, num momento em que foram arremessados dois isqueiros para a zona onde estava concentrava a comunicação social, tendo atingido dois jornalistas sem ferimentos. Aí, esse “ataque” foi feito de forma expressa. No entanto, e ao longo do discurso, foram vários os alvos do líder portista, nomeados ou nas entrelinhas. Ninguém foi poupado.

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Alguns dos destinatários não foram identificados. Exemplo? A oferta que Otávio teve para que não rumasse ao FC Porto. “Contratámos esta semana porque era uma lacuna que faltava. Não foi fácil, com o negócio assinado apareceu um iluminado, que não sei se será da minha campanha, mas apareceu com uma proposta rocambolesca para o Dubai. Mas o jogador teve palavra e veio para o FC Porto”, referiu numa parte em que destacou as renovações de Galeno, Danny Namaso e Gonçalo Ribeiro. “Este vai ser sem dúvida o meu último mandato mas vou cumpri-lo até ao final. Não é para ir a meio e abrir a porta. Não serão os lóbbies, as grandes construtoras, os grupos económicos nem os que querem ter o preço ao desbarato da TV que vão impedir”, atirou depois. Todavia, alguns “alvos” foram “identificados” ou ficaram nas entrelinhas, de Villas-Boas a Angelino Ferreira, passando por ex-jogadores, Joaquim Oliveira e Antero Henrique.

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André Villas-Boas: sem segurança, sem teleponto e “sem ninguém ressabiado”

Como não poderia deixar de ser, André Villas-Boas, antigo treinador do FC Porto que venceu a Liga Europa numa temporada de 2010/11 em que os azuis e brancos ganharam também o Campeonato, a Taça de Portugal e a Supertaça (feitos recordados num vídeo que passou na sala mas que, ao contrário de outros momentos, não teve imagens do técnico), foi um dos principais alvos das palavras de Pinto da Costa, que começou logo o discurso a lançar “farpas” à apresentação do rival nas eleições. “Entrei e cheguei aqui sem ter nenhum segurança a acompanhar-me. Não venho ler nenhum discurso nem tenho ao fundo qualquer teleponto”, começou por dizer numa parte inicial em que se mostrou emocionado perante a sala cheia do Coliseu.

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“Para mim, todo e qualquer dragão é notável. Orgulho-me de ter uma plateia cheia e de não ter aqui ninguém ressabiado”, referiu de seguida, fazendo uma alusão sem nomes a alguns dos mais conhecidos apoiantes de Villas-Boas. “O meu currículo está provado e por isso sou candidato à presidência do FC Porto. Não basta dizer que se sonhou com uma cadeira de sonho mas hoje está aqui e amanhã está acolá”, apontou, apresentando todo o percurso que fez nos dragões desde que entrou via hóquei em patins no clube em 1962 e os 2.558 títulos conquistados nas várias modalidades desde que assumiu a presidência, recordando com isso o verão em que o antigo técnico decidiu trocar o FC Porto pelo Chelsea (que pagou 15 milhões de euros). As alusões prosseguiram no discurso e tiveram prolongamento nas declarações aos jornalistas que fez no final da cerimónia, ironizando com o apontado “clima de medo” no clube aludindo à necessidade de… um cão.

Angelino Ferreira: da conta para pagar ligaduras em 1982 aos tempos sem liquidar salários

Pinto da Costa já tinha apontado a Angelino Ferreira, antigo vice-presidente e administrador da SAD entre 2010 e 2014 antes da entrada de Fernando Gomes, na Assembleia Geral para votação do Relatório e Contas do exercício de 2022/23 do clube, nesse momento sobretudo em relação à discordância que tinha em relação ao Museu. Agora, na apresentação da sua candidatura, o líder dos dragões alargou as críticas ao ex-dirigente, que entretanto foi confirmado como líder do Conselho Fiscal e Disciplinar na lista de Villas-Boas.

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“A arma de arremesso às minhas direções era a questão das contas e dos capitais positivos. Pela lei e pela CMVM não posso revelar nada mas dentro de uma ou duas semanas vamos apresentar um saldo de dezenas de milhões de euros e capitais próprios positivos. Explicámos que era uma estratégia para podermos resistir ao ataque que nos foi feito para levarem o Diogo Costa e o Pepê. Optámos por manter, sabendo que no final do ano estaria a situação invertida com capitais próprios positivos. Não me lembro nunca de ter tido um momento de desafogo financeiro. Em 1982, tive de abrir uma conta na Farmácia para que pudessem dar ligaduras. Pedi uns meses depois para debitarem ao FC Porto, ou podiam achar que tinha uma fábrica de múmias, e assim foi. Tínhamos de pagar as viagens a pronto mas com muita luta fomos passando todas estas dificuldades. Li que um ex-membro da minha Direção que está na outra lista se preocupava com a situação financeira. Ninguém se preocupa mais do que eu. O tempo em que Angelino Ferreira foi responsável foi o mais complicado para mim porque estivemos meses sem pagar. Estejam sossegados…”, salientou.

Os ex-jogadores do outro lado da “barricada”: a diferença entre passar e estar no FC Porto

A presença de Cecília Pedroto, viúva do mestre José Maria Pedroto, na apresentação de André Villas-Boas foi algo que não passou ao lado de Pinto da Costa. No entanto, o líder dos azuis e brancos nunca irá visar nem aludir a esse facto em termos públicos: custou-lhe, ficou registado, ponto final. Essa não é a posição no que toca a outras figuras que passaram pelo clube e estão agora do outro lado da “barricada”. Sem falar em nomes, embora seja percetível que em causa estão nomes como Jorge Costa, Maniche, Nuno Valente ou Helton, entre outros, o número 1 dos dragões deixou uma especial saudação a toda uma fila de ex-jogadores e treinadores (alguns da atual estrutura) que fizeram questão de marcar presença este domingo no Coliseu.

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“Fico orgulhoso por ver aqui tantos ex-atletas que escreveram a letra de ouro. Não passaram, estiveram aqui. Na pessoa do eterno capitão João Pinto, queria a todos envolver-vos num grande abraço. Não como slogan mas como um estado de alma, todos pelo Porto, todos pelo Porto! Se estivermos todos pelo Porto, o Porto será melhor. O clube, a cidade, o país, porque a palavra Portugal nasce do Porto”, atirou na parte final da cerimónia, olhando para a fila onde estavam nomes não só como o antigo número 2 dos azuis e brancos mas também Bandeirinha, Domingos, Jaime Magalhães, Paulinho Santos, Capucho Ricardo Costa, Silvestre Varela ou Bruno Moraes (e nesse momento ainda não tinha visto que Sérgio Conceição estava na sala).

Joaquim Oliveira: os direitos televisivos “ao desbarato” e a “possibilidade de negócio”

Um dos irmãos, Joaquim, tinha estado na apresentação de Villas-Boas; outro dos irmãos, António, foi agora à apresentação de Pinto da Costa. De forma mais ou menos direta, a família Oliveira tem uma ligação estreita com o FC Porto mas desta vez os caminhos estão cruzados em direções distintas. Embora numa alusão que passou despercebida a muitos, por estar envolvida numa série de outras ideias, Pinto da Costa não esqueceu a presença do antigo dono da Olivedesportos no anúncio do ex-treinador portista na Alfândega do Porto com uma passagem sobre os direitos televisivos dos portistas numa fase a caminho da centralização.

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“Quem vai escolher sempre o presidente do FC Porto serão os sócios do FC Porto, não serão os lobbies, as grandes construtoras, não serão as televisões nem os que aspiram a ter ao desbarato os direitos televisivos do FC Porto. Os sócios não permitirão que isso aconteça e fico orgulhoso, comovido mesmo ao olhar para esta plateia e ver tanta gente que está aqui por amor ao FC Porto. Não vejo aqui ninguém que, não sendo do nosso clube, tendo camarote nos rivais, vê apenas uma possibilidade de negócio. Não, aqui o FC Porto será sempre o dono da SAD do FC Porto”, referiu a determinada altura do discurso Pinto da Costa.

Antero Henrique: a recusa ao “entreposto para andarem a fazer negócios com os árabes”

Os nomes de Antero Henrique, antigo diretor geral e CEO da SAD do FC Porto que deixou o clube no final do mercado de verão de 2016, e Raul Costa, ex-diretor jurídico que saiu pouco depois quebrando uma passagem de oito anos pelos dragões, ainda não foram vistos em qualquer ação de campanha ligada às eleições portistas mas entraram na mesma através de uma entrevista de Vítor Baía, antigo campeão europeu e administrador da SAD nos dias que correm, ao jornal O Jogo. Aí, o ex-número 1 confessava que, em 2017/18, foi convidado pela dupla para se juntar a um movimento de portistas que está agora a ser liderado por André Villas-Boas. “Os mentores da campanha de Villas-Boas, que são os senhores Antero Henrique e Raul Costa, convidaram-me. Disse na altura que não, não me revia nessas pessoas”, apontou a meio de janeiro.

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Agora, sem fazer alusão qualquer um desses nomes que acabaram por nunca sair do universo azul e branco, Pinto da Costa fez menção aos mesmos através de eventuais investimentos árabes que pudessem resolver problemas financeiros. “Aqui, o FC Porto será sempre o dono da SAD. Quando se criaram as SAD, o FC Porto tinha apenas 40% do seu capital. Hoje, passados tantos anos, temos 74%. E não, não conseguirão vender o lote de ações com agentes da Arábia, do Iraque ou do Irão para entrarem no nosso capital (…) Não vou deixar que façam do FC Porto um entreposto para andarem a fazer negócios com os árabes”, apontou o presidente portistas, recusando também a ideia de que os dragões pudessem ceder parte da SAD.