Quando concedeu a entrevista a Fátima Campos Ferreira para o programa “Primeira Pessoa” da RTP, entre os sítios diferentes por onde passaram ao longo da conversa, Pinto da Costa não tinha ainda decidido se iria ou não recandidatar-se. Essa parte acabou por ser atropelada pelo passar dos dias e dos acontecimentos, com o presidente do FC Porto a anunciar a apresentação oficial para a 16.ª corrida eleitoral pela liderança do clube no domingo, mas antes, nos excertos que foram lançados, ficaram duas mensagens a esse propósito.

“Não vou deixar que seja o entreposto para árabes”: a apresentação de Pinto da Costa, com revelações e muitas “farpas” a Villas-Boas

“Então os nossos inimigos é que apoiam um candidato para o meu clube? Aqui há gato… Mesmo gostando de animais, desse tipo de gatos não gosto. Isso pode ser um argumento para eu tomar decisão diferente daquela que eu acho que, para mim, era a melhor”, referiu num desses excertos. Mensagem 1: o facto de haver André Villas-Boas na corrida, e entre as críticas que foi fazendo ao antigo treinador e à ligação que foi tendo com o clube, fez com que contrariasse aquilo que achava ser o melhor para si (ou seja, não avançar para a corrida). “Nunca fiz campanha eleitoral, nem vou fazer. Se perdesse estas eleições não seria uma humilhação, sairia de consciência tranquila porque tenho um projeto. As pessoas sabem qual é o meu projeto, tenho uma obra feita, as pessoas sabem. Se as pessoas quiserem mudar, plenamente. Os sócios é que mandam”, frisou num outro. Mensagem 2: nada mudaria em relação às outras eleições. Afinal, pode não ser bem assim.

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“Convidamos calorosamente todos os sócios e adeptos a testemunhar o lançamento do projeto ‘Todos Pelo Porto’, marcado para domingo, 4 de fevereiro, pelas 17h00, no Coliseu do Porto”, anunciava Pinto da Costa na semana passada, sem referir que iria fazer o anúncio da recandidatura nesse momento. “O ‘Todos pelo Porto’ é um projeto de renovação, que irá redefinir o patamar competitivo do clube, contando com uma equipa de gestão contemporânea, comprometida em assegurar a sustentabilidade financeira e preservar o nosso espírito indomável”, descrevia o site da candidatura, dando o mote para a apresentação que já seria sempre um momento relevante nesta corrida eleitoral e que ganhou redobrado relevo ao longo da semana.

Por um lado, e no âmbito da “Operação Pretoriano”, Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, a mulher, Sandra Madureira, e mais dois funcionários do clube azul e branco entre os quais Fernando Saúl, Oficial de Ligação aos Adeptos, foram detidos e muito provavelmente ainda estarão à espera de conhecer as medidas de coação por altura da apresentação da recandidatura. Por outro, o Ministério Público fez também a ligação entre as ameaças, agressões e intimidações na Assembleia Geral Extraordinária de 13 de novembro e Adelino Caldeira, vice-presidente e administrador da SAD do FC Porto que alegadamente terá combinado via Fernando Saúl a criação desse clima na reunião magna além da aprovação dos pontos sufragados e que visavam a alteração dos estatutos. Até aqui, Pinto da Costa não fizera comentários sobre o tema.

Perante todo este contexto, a apresentação ganhava um peso redobrado. E, ciente do peso que a candidatura de André Villas-Boas tem vindo a ganhar, a estrutura do líder portista tentou apresentar também outras “armas” eleitorais além de todo o legado que foi criando e consolidando ao longo de mais de quatro décadas. Nesse sentido, José Mourinho, antigo treinador da Roma que foi campeão europeu pelos portistas quando liderava a equipa técnica onde se encontrava também Villas-Boas como observador, foi um dos nomes que recebeu o convite para ir à cerimónia no Coliseu do Porto. A possível “surpresa” não existiu, até porque o técnico estava no Estádio da Luz a ver o Benfica-Gil Vicente, mas foi a presença de outro treinador que mais sensibilizou Pinto da Costa: Sérgio Conceição. O atual técnico, que entrou na sala de forma muito discreta durante a cerimónia, ficou nas primeiras filas e trocou um emocionado abraço com o presidente dos azuis e brancos no final do discurso, naquela que ficou como imagem mais marcante da cerimónia.

Antes, numa sala que contou com a presença de várias figuras conhecidas do atual líder entre um ministro (Manuel Pizarro), vários políticos (Eduardo Vítor Rodrigues ou Tiago Barbosa Ribeiro), antigos e atuais treinadores (Artur Jorge, António Oliveira, António Folha, Rui Barros, Capucho e Ricardo Costa) e muitos ex-jogadores (João Pinto, Bandeirinha, Domingos, Jaime Magalhães, Paulinho Santos, Silvestre Varela ou Bruno Moraes), quase todos os elementos dos atuais órgãos sociais estiveram na sala a não ser Adelino Caldeira, dirigente que está há mais anos com Pinto da Costa e que esta semana se viu envolvido também na “Operação Pretoriano”. Essa foi outra das principais notas entre a confirmação de João Rafael Koehler como um dos “motores” desta 16.ª recandidatura do líder dos azuis e brancos desde 1982.

Pinto da Costa chegou às imediações do Coliseu do Porto com a mulher, Cláudia Campo, e foi de imediato “engolido” por uma adepta na rua, que foi abraçando e beijando o presidente dos portistas com um saco do partido Chega ao ombro (com um pormenor: a meio do discurso, o número 1 dos azuis e brancos referiu que “Era fácil dizer 42 anos depois, basta, não chega, basta”). Depois, fez um pequeno compasso de espera à entrada do Coliseu, tendo João Rafael Koehler a seu lado, antes de entrar na sala num dos momentos mais apoteóticos da tarde com vários cânticos pelo FC Porto. Após o discurso e esse abraço simbólico com Sérgio Conceição, ao contrário do que aconteceu com Villas-Boas, Pinto da Costa falou aos jornalistas e abordou pela primeira a “Operação Pretoriano”, além de uma das principais ausências na sala.

“Adelino Caldeira tem estado presente, ainda ontem esteve no futebol e tem estado comigo diariamente, creio que não tem nada a ver com a claque e com o que se está a passar. Naturalmente que sendo um momento desagradável, sobretudo para os visados, quero aqui deixar um abraço ao Fernando Madureira e à sua mulher, porque os amigos são para as ocasiões. Não tenho que me imiscuir num problema judicial, não me compete nem tenho nada a ver com a vida das pessoas. Agora como amigo, neste momento, mando um grande abraço de solidariedade, porque eles foram fundamentais no apoio que os Super Dragões deram às nossas equipas nos mais variados momentos. Não é por estar a passar um momento mais difícil que eu deixo de ser seu amigo, porque foi e espero que continue a ser um grande chefe de claque”, referiu, antes de frisar de forma expressiva que “Adelino Caldeira não tem nada a ver com esse caso”.

“Super Dragões? Acho que os Super Dragões criam muitos problemas à nossa imagem, sobretudo ontem [sábado] em Famalicão, foram terríveis. Não deveriam ter lá estado a fazer aqueles desacatos, mas naturalmente que terá sido a última vez que eles foram a Famalicão. Se pode ensombrar o FC Porto? Absolutamente nada. As envolvências do que pode estar em causa é a vida privada das pessoas e eu não tenho nada a ver com isso. Como líder dos Super Dragões foi sempre exemplar”, acrescentou sobre o tema.

Em paralelo, Pinto da Costa abordou também a presença de Sérgio Conceição na cerimónia. “Pela minha vontade ficará, mas agora não é tempo, como ele disse, de estar a falar disso, nem quero de maneira nenhuma usar o Sérgio Conceição como trunfo eleitoral. É o treinador do FC Porto, teve um gesto que me surpreendeu e sensibilizou ao estar aqui a dar o apoio. Além de interessar como treinador, é meu amigo. Não [apenas] enquanto for treinador, é para a vida. Desejo, como portista, que continue. Não é altura de estarmos a falar nisso. Não vou tornar públicas as conversas sobre esse ou qualquer assunto. Como quero acabar o mandato se for eleito? Espero que tendo o centro de estágio completo, o FC Porto vitorioso e a massa associativa unida”, comentou ainda Pinto da Costa, que voltou a ironizar sobre as declarações de André Villas-Boas sobre o clima de “medo”. “Há uns que são mais medrosos do que outros… Eu também tinha muito medo de cães e agora adoro cães… Também quer um cão?”, questionou aos jornalistas.