Após semanas de rumores e algumas indicações, a confirmação chegou esta quinta-feira: Valery Zaluzhny, o popular chefe das Forças Armadas ucranianas, foi mesmo destituído. O substituto foi conhecido em simultâneo: Oleksandr Syrsky, até agora comandante do Exército.

Após o anúncio, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu ao seu novo líder militar um plano de batalha “realista” contra a Rússia para 2024, após o fracasso da grande contraofensiva de Kiev em 2023. “Espero tais mudanças nas forças armadas ucranianas no futuro mais próximo: um plano de ação realista e detalhado (…) para 2024”, afirmou.

Mas quem é então o militar que o Presidente da Ucrânia vê como o comandante indicado para liderar “o tempo de renovação” que o país precisa para vencer a guerra?

Zaluzhny substituído por Syrsky no comando das Forças Armadas da Ucrânia

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Oleksandr Syrsky nasceu a 26 de julho de 1965 na região russa de Vladimir, que na altura pertencia à União Soviética. Em 1986 formou-se na Escola Superior de Comando Militar de Moscovo, que é considerada a principal instituição de ensino militar superior da URSS e esteve ao serviço do corpo de artilharia soviético.

Depois de ter passado por várias unidades militares, esteve no Afeganistão, no Tajiquistão e na República Checa em serviço até à dissolução da União Soviética, em 1991, relata o The Economist. Já no século XXI, comandou a 72.ª Brigada Mecanizada da Ucrânia e acabou por ser promovido a major-general. A partir de 2013 assumiu o cargo de vice-líder do Centro de Comando Principal das Forças Armadas ucranianas, tendo estado envolvido nos processos de cooperação com a NATO.

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Com o início do conflito com a Rússia na região de Donbass, Syrsky continuou o percurso ascendente e comandou as tropas ucranianas que lutavam nas regiões orientais de Donetsk e Lugansk. Foi nessa altura que foi apelidado de “leopardo da neve” — “snow leopard”, em inglês–, devido à sua figura “muito cuidadosa, astuta e corajosa”, diz a Reuters.

Com um trabalho bem sucedido, Syrsky viria a receber o grau da Ordem de Bohdan Khmelnytsky III, que premeia aqueles que mais se destacam na defesa da Ucrânia. Mais tarde foi promovido a tenente-general devido à prestação na batalha de Debaltseve, indica a BBC.

Em 2017 assumiu a liderança da Operação Antiterrorista no leste da Ucrânia, que mais tarde foi substituída pela Operação de Forças Conjuntas. Em 2019 tornou-se Chefe do Exército ucraniano, cargo que ocupava até esta quinta-feira. Em 2020 ascendeu ao posto de coronel-general, patente em que se distingue por ser, atualmente, o único oficial militar ucraniano em serviço ativo com aquele posto.

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Pelo meio esteve ligado a algumas das maiores vitórias ucranianas na presente invasão russa, nomeadamente a defesa da capital Kiev nos primeiros meses da guerra. Esse facto valeu-lhe a condecoração de Herói da Ucrânia, entregue em abril de 2022 pelo Presidente Volodymyr Zelensky. Em julho desse ano, Syrsky planeou e executou a contraofensiva relâmpago que valeu a reconquista da cidade de Kharkiv.

Oleksandr Syrsky também esteve envolvido na defesa da cidade de Bakhmut, há cerca de um ano, naquela que é uma das batalhas mais sangrentas até ao momento. Escreve a Reuters que, na altura, alguns analistas militares questionaram-se sobre a defesa daquela cidade, que se encontrava em ruínas e resultou num elevado número de mortos e feridos. Para Syrsky, a defesa de Bakhmut foi fundamental, já que prejudicou a ofensiva russa depois de o grupo mercenário Wagner ter ficado preso.

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Para o futuro, Syrsky mantém como prioridade a moral das tropas ucranianas, que faz questão de visitar regularmente. Em declarações à imprensa ocidental, afirmou que dorme diariamente apenas quatro horas e meia e relaxa quando vai ao ginásio. O agora líder das Forças Armadas ucranianas é casado e tem dois filhos.