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França revelou esta segunda-feira um novo caso de ingerência digital da Rússia: uma rede “estruturada e coordenada” de sites da Internet para difundir propaganda na Europa e nos Estados Unidos, quando se completam quase dois anos de guerra na Ucrânia. Batizado como Portal Kombat, esta rede de 193 sites foi descoberta ao fim de quatro meses de trabalho do Viginum, o organismo francês de combate a ingerências digitais estrangeiras, que divulgou um relatório sobre os achados.

Entre setembro e dezembro de 2023, o Viginum analisou a atividade dessa rede de “portais de informação” digital “com características semelhantes, que divulga conteúdos pró-russos destinados a um público internacional”. Vários deles, pertencentes ao “ecossistema pravda” – ou ‘verdade’ em russo, o nome do antigo órgão do Partido Comunista Soviético -, são diretamente destinados aos “países ocidentais que apoiam a Ucrânia”, segundo o relatório do Viginum.

O site destinado a Espanha chama-se pravda-es.com, ao passo que o destinado aos Estados Unidos e ao Reino Unido é pravda-en.com. A Alemanha, a Áustria e a Suíça têm o pravda-de.com, a Polónia o pravda-pl.com e a versão francesa é o pravda-fr.com. Entre 23 de junho e 19 de setembro, estes cinco portais publicaram mais de 150.000 artigos, principalmente a partir de mensagens de personalidades russas ou pró-russas divulgadas nas redes sociais, de conteúdos de agências noticiosas russas ou de páginas de instituições ou atores locais, indicou o Viginum.

De acordo com o organismo francês, mais de 180 outros sites com características gráficas semelhantes e que difundem conteúdos pró-russos, mas destinados a públicos russófonos ou ucranianos, estão digitalmente ligados aos portais pravda. O principal objetivo do Portal Kombat parece ser legitimar a guerra da Rússia na Ucrânia, afirmou uma fonte diplomática aos jornalistas.

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Altamente ideológicos, estes conteúdos apresentam narrativas manifestamente inexatas ou enganadoras”, observou.

A 22 de janeiro, o pravda-fr.com publicou uma lista de 13 mercenários franceses que, segundo o site, “se encontravam em Kharkiv”, no nordeste da Ucrânia, no momento de um ataque russo ocorrido alguns dias antes, um ataque que “eliminou” cerca de 60 combatentes “a maioria dos quais cidadãos franceses” e feriu outros 20, segundo Moscovo.

Enquanto Paris denunciava “mais uma grosseira manipulação russa”, a agência de notícias francesa AFP conseguiu falar com três destes alegados “mercenários” – na realidade, três voluntários do Exército ucraniano, todos eles ainda vivos e de boa saúde. Um deles, que a AFP encontrou no sopé dos Alpes franceses, disse ter deixado a Ucrânia em setembro de 2023.

Esta segunda-feira, o pravda-fr.com titulava: “‘Já chega!’: França apela para medidas radicais contra Zelensky”, quando tais declarações foram, de facto, emitidas por Florian Philippot, presidente de um pequeno partido de extrema-direita francês, e não vinculam de forma alguma Paris. Apesar de terem montado um sistema considerado “elaborado”, as repercussões no debate público digital francófono continuam a ser moderadas.

No entanto, tendo em conta a natureza das narrativas, os meios utilizados para as difundir e os objetivos perseguidos à escala europeia, o Viginum considera que estão preenchidos os requisitos de ingerência digital estrangeira, uma vez que alguns dos conteúdos podem atentar contra os interesses fundamentais da nação”, comentou a fonte diplomática.

“Esperamos uma aceleração das diversas ações russas, e até mesmo uma massificação”, comentou também uma fonte militar, perante as eleições que deverão realizar-se em mais de 70 países em 2024, incluindo nos Estados Unidos.

Os sites do “Portal Kombat”, cujos nomes o Viginum fornece, podem, assim, funcionar como células “adormecidas” que podem ser ativadas a qualquer momento e abranger “um vasto leque de públicos com base na atualidade”.

Já tinham sido identificados grupos pró-russos pela Meta (empresa-mãe do Facebook, WhatsApp e Instagram) e pelas autoridades francesas por causa da sua campanha “Doppelgänger” que, desde 2022, consiste em usurpar a identidade visual (imagem gráfica) dos meios de comunicação social para difundir mensagens propagandísticas.