Para um jogador de futebol, o descanso é quase tão importante como treinar. Nesse aspeto, toda a logística de um jogo internacional é pensada ao pormenor para que nada falhe a uma equipa. Mas isso é quando não se vive num país em guerra onde o tráfego aéreo é inexistente. Nesses casos, a realidade é como a do plantel Shakhtar Donetsk: passar dois dias num autocarro para viajar para um jogo.

Estádios com abrigos, paragem nas sirenes e um soldado a dar o pontapé de saída: como o futebol (possível) voltou à Ucrânia

Este tornou-se um cenário habitual, contou o CEO do clube ucraniano à CNN. “Para nós, continuar a jogar futebol e concentrarmo-nos a 100% no jogo é muito difícil porque estamos sempre a pensar no que está a acontecer em casa, com os nossos pais, com a nossa família”, descreveu Sergei Palkin.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A 24 de janeiro assinalam-se dois anos desde a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Todos os setores de atividade foram afetados e o futebol não foi exceção. “Estamos todos a sofrer com tudo o que está a acontecer. Dois anos é um prazo enorme para permanecer neste tipo de condições. Um impacto muito grande na estabilidade psicológica e nos seus aspetos morais”, continuou. “Temos que jogar com o coração e mostrar o melhor futebol que pudermos, um futebol de ataque, um futebol bonito, como o nosso ADN”.

Desde o início do conflito, o futebol no país é jogado debaixo do som de sirenes e sob ameaça constante de bombardeamentos. Depois de na época 2021/22 a Ucrânia não ter atribuído o título de campeão, na temporada passada, o Shakhtar conquistou a liga. Este ano, a equipa integrou o grupo H da Liga dos Campeões, o mesmo que o FC Porto. Apesar de não ter conseguido o apuramento para os oitavos, a equipa treinada pelo bósnio Marino Pusic vai disputar o playoff da Liga Europa frente ao Marselha.

Sergei Palkin acredita no poder transformador do desporto e não atira a toalha ao chão quanto à possibilidade de ver a situação de conflito ser revertida. “O futebol tem uma influência inacreditável a nível mundial”, afirmou o dirigente. “Essa influência pode mudar qualquer pessoa e nós vivemos isso e entendemos isso porque sentimos e vemos as reações”.

Shakhtar acusa FIFA de agir ilegalmente ao suspender contratos e reclama 40 milhões de euros

O Shakhtar aponta o dedo à FIFA, organismo ao qual chegou a exigir 40 milhões de indemnização por permitir a jogadores e treinadores desvincularem-se dos clubes ucranianos e russos depois do deflagrar do conflito. Apesar de tudo, depois do início da guerra, o clube realizou negócios relevantes, o maior deles a venda de Mykhaylo Mudryk por 75 milhões de euros para o Chelsea. Também o Benfica depositou 15,3 milhões por David Neres e dez milhões por Anatoliy Trubin nos cofres dos 14 vezes campeões ucranianos.