Não há como um assomo de Pedro Passos Coelho na campanha para espoletar o PS. O ex-líder do PSD em Faro, o atual líder do PS em Ponta Delgada, mais de mil milhas de distância entre os dois — e segundo Pedro Nuno Santos até mais do que isso — e a governação de há mais de dez anos continua a ser combustível para atear comícios e socialistas. O candidato do PS achou poucochinha a aparição de Passos, mas ainda assim suficiente para armar o fantasma das legislativas passadas para assustar pensionistas e não só.
Pedro Nuno Santos ainda começou por dizer que Passos Coelho parece ter ido apenas “marcar o ponto” a Faro, mas depois deu-lhe todo o palco do seu comício no pavilhão multiusos Portas do Mar, em Ponta Delgada. O território açoriano é, atualmente, de alta sensibilidade para os socialistas que ainda há pouco mais de vinte dias perderam as primeiras legislativas regionais desde 1996, por isso nada melhor do que uma assombração de um passado mais longínquo para afugentar o do presente.
Resumiu a “malfeitorias” os anos de governação de Passos Coelho e acusou os sociais-democratas de “terem enganado as pessoas”. A partir daí foi só agitar a ameaça que a presença do ex-líder do PSD pode trazer.“O espírito de Pedro Passos Coelho vai estar sempre em toda a campanha” do PSD, disse o socialista sublinhando que o que o PSD fez em 2011, quando governou, foi “esconder-se no memorando”, usando-o como “desculpa”, já que o PSD “cortou as pensões por convicção”.
E, na narrativa de Pedro Nuno, o tal perigo do passismo não ficou encerrado nessa altura. Não só paira como “um espírito” sobre a campanha da AD, como o socialista diz que será mesmo corporizado por Luís Montenegro à primeira oportunidade. “É o vira o disco e toca o mesmo”, atirou Pedro Nuno avisando que “agora é a vez de Montenegro vir fazer como Pedro Passos Coelho”, apontando para momentos idos da campanha de 2011 para avivar a memória dos eleitores, como por exemplo a promessa de não cortar os 13º e 14º meses, ou ainda as pensões. “Pedro Passos Coelho é o PSD e o PSD é Pedro Passos Coelho”, jurou perante os açorianos.
Antes do líder, já Vasco Cordeiro tinha feito as honras do comício e nos ataques ao PSD, via o mesmo Passos Coelho. A estratégia foi idêntica, e o líder do PS-Açores juntou todos no mesmo saco, ao dizer que era Passos que estava no Governo quando a lei de finanças regionais foi congelada e “tinha Luís Montenegro a apoiá-lo no Parlamento”, referiu lembrando quem comandava a bancada parlamentar na altura. Francisco César tinha tocado no mesmo ponto quando falou nos pensionistas e na necessidade de dar passos que não tenham “hipótese de voltar atrás”.
Fez-se o pleno no aproveitamento de Passos, mas de Faro ainda havia outra assombração de que Pedro Nuno Santos queria tirar proveito: o Chega e a ameaça que PS insiste em dizer que representa sobre o PSD. E em Faro o cabeça de lista do PSD é Miguel Pinto Luz que o socialista fez questão de apontar como o social-democrata que defendeu entendimentos com o Chega.
Nos Açores o PSD garantiu que não se coligará com o Chega para conseguir estabilidade para governar — e consubstanciou o “não é não” de Montenegro –, ainda assim, o PS desconfia que o adiamento para depois das eleições da votação do programa do Governo regional pode trazer, afinal, entendimentos com o Chega. Não foi, ainda assim, o assunto principal da intervenção do líder socialista na Região Autónoma, com Pedro Nuno a não resistir ao “espírito” de Passos Coelho. Para ver qual dois dois fantasmas rende mais no dia 10.
A intervenção começou pela ideologia e pelas diferenças que o PS quer marcar face ao PSD — que parece ser mesmo adversário único nesta campanha socialista –, com Pedro Nuno a enumerar os feitos do PS não só para desafiar quem queira a “fazer fact checks” , mas também para colocar a linha entre os socialistas e “as direitas”. “Não somos uma soma de indivíduos como para o PSD e as direitas, somos uma comunidade interdependente, construiremos o futuro em cooperação e não em competição“, traçou.
Também apontou a mesma diferença entre os dois quanto à noção dos problemas que estão por resolver. “Há coisas que têm de mudar, temos orgulho no que fizemos, mas não estamos satisfeitos, queremos fazer mais e de novo, sabemos o que deve ser corrigido”, assumiu para conclui: “E aqui também somos diferentes deles”. Nisso e outro ponto que, tal como António Costa em 2022, aproveitou: não se “esconde” das regiões autónomas, como acusa o seu adversário de fazer. É que o PSD não passa nem nos Açores nem na Madeira nos dias de campanha oficial, enquanto o PSD volta a começar por aí, tal como fez Costa há dois anos.