Seis horas depois de ter desafiado diretamente Luís Montenegro a cortar cem euros no IRS de quem recebe um salário médio de 1500 euros brutos, Rui Rocha voltou ao tema no comício do Porto, reconhecendo que ainda não tinha tido qualquer resposta.

“Até agora não tivemos ainda resposta, mas quero dizer-vos que não é a mim que Luís Montenegro não responde. É mesmo às famílias portuguesas, que querem saber a posição do PSD sobre alívio fiscal. O programa do PSD propõe para estas pessoas um alívio de 5 ou 6 euros por mês. É suficiente para as famílias portuguesas?”, perguntou o líder do partido, para ouvir os cerca de 300 simpatizantes responderem em coro que não.

Antes, Carlos Guimarães Pinto, ex-presidente do partido e cabeça de lista pelo Porto, também passou uma parte significativa do discurso a atacar a ideia do voto útil, numa tentativa de evitar que muitos indecisos acabem por escolher a AD em vez da IL.

“Esta urgência de afastar os socialistas do poder não deve afastar-nos das nossas convicções. A conversa do chamado voto útil é um desrespeito perante a democracia. O voto útil numa democracia saudável é em quem acreditamos que pode mesmo fazer a diferença, não um voto táctico num sistema eleitoral desenhado para servir alguns”, afirmou o ex-presidente da IL.

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Mas Carlos Guimarães Pinto também deixou ataques ao poder socialista. “O problema de base deste país são as políticas socialistas e são essas políticas que precisamos de afastar. Foram as políticas socialistas de Guterres, Sócrates, Costa e Pedro Nuno Santos que contribuíram para a enorme emigração jovem que temos hoje, e que levaram a saúde e a educação ao estado que têm hoje”.

Carlos Guimarães Pinto também traz a avó para a campanha: “Tem corrido bastante mal”

Numa provocação a Mariana Mortágua, Carlos Guimarães Pinto contou uma história sobre a sua avó, começando por admitir que era uma jogada de risco: “Trazer os avós para a campanha tem corrido bastante mal. Mas há uns dias estive com a minha avó, ficou sobressaltada quando recebeu carta das finanças, não…” A audiência riu-se, mas o ex-líder tinha mesmo uma história com a avó, em que tem pensado quando a visita.

“A minha avó nasceu antes do Estado Novo e estava prestes a ser avó a seguir a 25 de abril. Viu a fome e a miséria da II Guerra, viu a entrada de portugal na CEE e a revolução que isso foi na nossa vida, viu a Expo 98, viu os telemóveis a aparecer e teve o seu telemóvel, viu as autoestradas, viu o uso e abuso dos fundos europeus, viu um partido liberal a entrar na Assembleia da República e viu o seu próprio neto a entrar na Assembleia da República”.

Carlos Guimarães Pinto é ovacionado em nome próprio — “Carlos, Carlos, Carlos” — (enquanto o líder será incentivado mais à frente chamando pelo apelido: “Rocha, Rocha, Rocha”). O ex-líder prosseguiu o seu ponto: “Nós como país passámos por tanto, mudámos tanto ao longo das últimas décadas. E eu penso: se a minha filha tiver a sorte de chegar à idade da minha avó viverá a passagem do próximo século. O que é que a minha filha irá viver nos próximos 70/80 anos? Teremos um mundo melhor?”

Depois resumiu as opções: “Estamos numa encruzilhada complicada. Não sabemos onde isto vai dar. Portugal irá recuperar e voltar a ser um dos grandes países da europa? Voltará a estar no pelotão da frente? Iremos recuperar este atraso ou atrasar ainda mais? Nesse processo, eu não estarei em casa a olhar para o facebook ou a reclamar no twitter, vou estar aqui convosco. Porque é para isso que nós trabalhamos. Para garantir que os filhos e netos possam olhar para trás e dizer que nós contribuímos para que tivessem um futuro melhor.”

Rui Rocha: “Temos soluções para que netos e filhos de Cavaco vejam futuro em Portugal”

Rui Rocha discursou a seguir, de improviso, e além do desafio a Montenegro quis deixar a mensagem de que “a Iniciativa Liberal é o partido das famílias” e voltou a apresentar as propostas para a habitação (eliminação do IMT e redução para 14% do imposto predial pago pelos proprietários, para tentar libertar mais casas para o arrendamento). E também para a saúde, repetindo a promessa de atribuir um médico de família para crianças até 9 anos, idosos com mais de 65 anos e grávidas.

Já tinha feito esta proposta na véspera, quantificando em cerca de 500 mil as pessoas abrangidas, mas em declarações aos jornalistas no mercado de Braga, de manhã, não conseguiu apontar uma estimativa de custo da medida. No discurso da tarde referiu mesmo essa pergunta: “Hoje a comunicação social perguntava quanto custa. Não custa nada, está no Orçamento de Estado. E a saúde não tem preço. O preço da saúde destas pessoas é o da má gestão do governo socialista”. Uma vez que promessa implica a contratualização com as misericórdias e os privados, não é linear que o investimento já esteja todo contemplado no Orçamento de Estado, uma vez que implica assegurar acompanhamento médico para meio milhão de pessoas que atualmente não têm médico de família.

Rui Rocha também voltou a usar o artigo do ex-Presidente da República hoje publicado no Correio da Manhã. “Cavaco Silva diz que não vê futuro para os seus netos e os seus filhos em Portugal. Temos as soluções para que os netos e filhos de Cavaco Silva vejam futuro em Portugal”.

No artigo desta manhã, Cavaco Silva refere que tem filhos e netos e se preocupa com o futuro das gerações mais novas. E mais à frente diz que a reeleição de um governo do PS fará com que “os jovens de espírito inovador continuem a fugir para o estrangeiro, para conseguirem melhorar as suas condições de vida”. Não refere expressamente a situação concreta dos seus netos. Os dois filhos do ex-Presidente já têm cerca de 60 anos, pelo que já não se enquadrarão nos jovens que têm de ir para fora ganhar salários mais altos.

No fim do discurso, Rui Rocha dirigiu-se aos indecisos, perguntando: “Que outro partido garante a coragem, a ambição e as pessoas, para transformar realmente o país? Onde querem que os vossos filhos estejam daqui a 4 anos? A resposta é aqui, que estejam cá, num Portugal a crescer”.

Eleição como deputado por Braga: “Eu vou conseguir, não ponho esse cenário”

Este sábado terminou com a ação de campanha no Porto, mas começou em Braga, com uma visita ao mercado, onde Rui Rocha não se cruzou com os adversários locais José Luís Carneiro (PS), Hugo Soares (AD) e Filipe Melo (Chega) por ter chegado com um atraso de 45 minutos.

Apesar de ter sido o único deputado eleito por Braga há dois anos, o líder do partido não admite a hipótese de não ser reeleito para o Parlamento: “Eu vou conseguir, não ponho esse cenário”.

“Não gosto de coisas fáceis, gosto de coisas difíceis. Moro em Braga, vivi praticamente toda a minha vida em Braga, concorri por Braga a primeira vez, era a única decisão que fazia sentido”, justificou o líder da IL. “É aqui que conheço as pessoas, que tenho intervenção cívica, política e familiar”.