O direito à interrupção voluntária da gravidez já foi formalmente — e literalmente, com uma prensa do século XIX — inscrito na Constituição francesa, um passo inédito no mundo, mas que para Emmanuel Macron não significa que a batalha esteja ganha: o Presidente francês quer que a UE o reconheça como um direito na carta dos direitos fundamentais da União Europeia.
A cerimónia para a inscrição do direito ao aborto na Constituição francesa decorreu esta sexta-feira e foi literal: numa cerimónia aberta ao público para celebrar o Dia da Mulher, com recurso a uma prensa do século XIX em frente ao Ministério da Justiça francês, o direito ficou gravado na Constituição de 1958. Centenas de pessoas assistiram, escreve o Le Monde. Macron cumpriu, assim, a promessa feita há um ano.
![GettyImages-2060089734](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:560/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2024/03/08180011/gettyimages-2060089734-scaled.jpg)
Prensa do século XIX inscreveu o direito na Constituição
![GettyImages-2068242506](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:560/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2024/03/08175932/gettyimages-2068242506-scaled.jpg)
Centenas de pessoas assistiram à cerimónia que também celebrou o Dia Internacional da Mulher
No discurso, o Presidente francês defendeu que esta alteração “sela uma longa batalha pela liberdade”, “uma luta feita de lágrimas, tragédias e destinos quebrados” e é um pretexto para lembrar “o destino de gerações de mulheres privadas da mais íntima das escolhas: ter ou não ter um filho”.
[Já saiu o segundo episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui]
“O destino destas mulheres, o seu sofrimento, o seu medo, as moradas trocadas à socapa, as operações clandestinas, os gritos abafados, as recuperações impossíveis, o segredo, as suspeitas, os sermões, o risco de perder tudo, a felicidade e a vida”, disse, acrescentando: “Sim, durante demasiados anos, os destinos das mulheres foram selados por outros. As suas vidas capturadas, a sua liberdade desprezada”.
Mas para Macron este “não é o fim da história, é o início da luta“. Reconhecendo que há recuos noutros países em relação aos direitos das mulheres, traça um objetivo: “(…)Desejo a inscrição desta liberdade garantida de acesso ao aborto na carta dos direitos fundamentais da União Europeia“. E garante: “Não descansaremos enquanto esta promessa não for cumprida em todo o mundo”.
Em França, esta sexta-feira de Dia da Mulher foi marcada por várias manifestações no país pelos direitos da mulher, incluindo em Paris e em cerca de 200 outras cidades, sob o mote “o meu corpo, as minhas escolhas, os meus direitos” — na capital, com confrontos entre ativistas pró-Palestina e pró-Israel, descreve o Le Monde.