O Banco do Japão, o último entre os grandes bancos centrais que ainda tinha as taxas de juro num nível negativo, aumentou nesta quarta-feira a taxa de juro pela primeira vez em 17 anos. A taxa de juro no Japão estava num nível negativo desde 2016 mas a recente aceleração dos salários na economia japonesa levou a um aumento da inflação que o banco central quis controlar rapidamente.
A taxa de juro estava em -0,1%, desde 2016, e passou para um nível positivo entre 0% e 0,1%. O passo de colocar as taxas de juro num nível negativo foi dado no Japão pouco tempo depois de também na zona euro, sob a liderança de Mario Draghi em 2014, se ter passado a impor uma taxa de juro negativa.
Em todos os locais onde foram aplicadas taxas de juro negativas, na prática, os bancos tinham de pagar para colocar excedentes de liquidez no banco central (em vez de receberem um juro), servindo como um estímulo para emprestarem mais à economia. Por sua vez, também os consumidores eram incentivados a gastar mais, já que a poupança depositada nos bancos tinha um rendimento nulo ou negativo (sobretudo considerando a inflação).
Esse enquadramento alterou-se nos últimos anos e a zona euro acabou com as taxas de juro negativas em julho de 2022. Já no Japão, cuja economia há várias décadas sofre pressões deflacionistas, as taxas de juro ligeiramente negativas mantiveram-se por mais tempo, até esta quarta-feira.
Além de ter a taxa de juro num nível abaixo de zero, o Japão também tem recorrido a uma política controversa conhecida como “Controlo de Curva de Rendimentos” (yield curve control, ou YCC) que, em termos simples, passa por uma intervenção direta do banco central com a compra de títulos de dívida no mercado, para fazer o preço desses títulos subir de forma “artificial” e, dessa forma, impedir que as taxas de juro de longo prazo subam.
Também esta prática foi interrompida, a partir desta quarta-feira, embora o Banco do Japão tenha avisado os participantes do mercado que está disponível para voltar à YCC caso as taxas de juro subam muito rapidamente.
A decisão surge depois de, no início deste mês, as maiores empresas do país terem aceitado aumentar os salários numa média de 5,28%, o que corresponde ao maior aumento salarial em mais de 30 anos e vem na sequência de uma quase estagnação dos salários desde o final da década de 1990. Perante este aumento salarial rápido, negociado neste ano, o banco central decidiu atuar para evitar a formação de pressões inflacionistas maiores, numa altura em que a inflação já está em 2%.