Arthur Fils tem apenas um título ATP na carreira, com a vitória no 250 de Lyon do ano passado (além de um challenger, curiosamente no Jamor), chegou a ir a uma final de juniores de Roland Garros e andou perto do top 30 do ranking no início do ano mas faz a diferença por ter 19 anos e um treinador chamado Sergi Bruguera que impõe respeito ou não tivesse ganho nos anos 90 por duas vezes o Grand Slam francês. Mais do que isso, é um jogador que percebe o contexto que o envolve. Foi assim que, desde o momento em que entrou no court principal do Estoril Open, sabia que não estava apenas a jogar um jogo mas sim “o” jogo. “O” jogo que ganhou, admitindo no final que percebia que o público que enchia as bancadas estivesse do lado do adversário porque nunca sentiu que estivesse contra ele. Num gesto de classe, foi o próprio que deu o mote para o ambiente que estava criado quando agarrou na caneta e escreveu “Parabéns João” na câmara.

A Última Dança de um eterno conquistador: João Sousa perde com Arthur Fils e despede-se do Estoril Open (e do circuito ATP)

“Ele é um enorme campeão. Vi-o muito na televisão. É uma pessoa espetacular também. Foi um bocadinho difícil. Terminar a carreira de alguém é difícil mas, às vezes, tem de ser. Estou feliz por ganhar, mas é difícil para ele. Estou muito feliz porque joguei bem os pontos decisivos, joguei bem nos momentos importantes. Estou feliz com isso. A 3-2 no primeiro set tive um jogo terrível, com duplas faltas e uma direita nos meus pés e outra para fora. Às vezes, é assim. O primeiro encontro é sempre duro, estou feliz por ter ganho. Vamos ver se consigo chegar aos quartos de final e depois fazer algo mais no torneio mas é um país especial. Estou a jogar muito bem e a comida também é ótima”, comentou o francês no final do jogo.

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No entanto, era em João Sousa, que até perdeu, que estavam centradas todas as atenções mesmo depois do jogo, com a organização do Estoril Open a promover uma grande homenagem ao melhor tenista de todos os tempos naquele que foi o último set, o último jogo e o último ponto que fez no circuito profissional. Com a presença dos pais, do irmão, de mais família, do técnico Frederico Marques (que até estava mais emocionado do que o pupilo de sempre) de amigos mais próximos e de muitos jogadores portugueses do passado e do presente, o vimaranense começou por ver um vídeo dos melhores momentos da carreira, com destaque para a vitória no Estoril Open de 2018 frente a Frances Tiafoe, antes de deixar algumas palavras.

“São muitas as emoções à flor da pele pelos bastantes anos dedicados ao ténis, a minha paixão. Não podia ter escolhido melhor palco para terminar a carreira, num court tão especial para mim e sempre com este apoio incrível. Nenhum dos meus resultados faria sentido sem este apoio que tenho tido todos os anos, tem sido fantástico. Quero agradecer especialmente por estarem ao meu lado nos bons e maus momentos. Estas pessoas que aqui estão são as mais importantes da minha vida”, começou por dizer, antes de ceder pela primeira vez às emoções ao olhar para a mãe Adelaide, para o pai Armando e para o irmão Luís.

“Sem eles nada seria possível, todo o esforço que fizeram durante todos estes anos para eu poder alcançar o meu sonho e puder ser tenista profissional. Muito obrigado… São muitas as pessoas a quem podia estar a agradecer, mas é um dia muito especial, despeço-me do ténis profissional. Mas isto não é um adeus, é um até logo. A todas pessoas que fizeram parte da minha carreira, aos meus colegas que sempre puxaram por mim, que eu tive sempre ao meu lado no circuito, quero mesmo agradecer porque sem eles não teria sido um caminho tão belo e com tanto significado para mim. Muito obrigado, mais uma vez, são espetaculares”, destacou João Sousa, antes de ir até à câmara e deixar a mensagem “Até já Portugal” com um coração.

[Já saiu o sexto e último episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui, o quarto episódio aqui e o quinto episódio aqui]

Mas ainda havia mais. Depois da entrega de uma recordação por parte de João Zilhão, diretor do Estoril Open, num quadro gigante com uma montagem dos melhores momentos de João Sousa que foi exibido pela mãe no court a todos os presentes nas bancadas, o vimaranense viu desfilar o passado, o presente e o futuro do ténis nacional que passou pelo campo para dar um último abraço ao jogador de 35 anos, entre Nuno Borges, Henrique Rocha (que jogaria a seguir com Gaël Monfils), Gastão Elias, Frederico Silva, Pedro Araújo, Pedro Sousa, Jaime Faria e Francisco Cabral. Sábado haverá mais uma homenagem a João Sousa mas aqueles dez minutos depois do último encontro valeram por uma carreira inteira.