A Human Rights Watch (HRW) acusou a junta militar de Myanmar (antiga Birmânia) de ter raptado e recrutado à força mais de mil homens e jovens rohingya no estado de Rakhine (oeste) desde fevereiro.
A junta militar “está a utilizar uma lei de recrutamento que só se aplica aos cidadãos de Myanmar”, embora a Lei da Cidadania de 1982 “tenha negado há muito” a cidadania dos muçulmanos rohingya, disse na terça-feira a organização de direitos humanos num comunicado enviado à Lusa.
“Os rohingya descreveram terem sido apanhados em rusgas noturnas, coagidos com falsas promessas de cidadania e ameaçados de prisão, rapto e espancamento”, referiu a organização não governamental.
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Ainda de acordo com a HRW, são depois enviados “para treinos abusivos durante duas semanas, sendo depois destacados”. Muitos, continuou a organização, foram enviados para combates entre a junta militar e o grupo armado Exército Arakan, que eclodiram no estado de Rakhine em novembro de 2023, “tendo vários deles sido mortos e feridos”.
“É chocante ver os militares de Myanmar, que cometeram atrocidades contra os rohingya durante décadas e lhes negaram a cidadania, obrigá-los agora a lutar em seu nome”, reagiu a investigadora da HRW para a Ásia Shayna Bauchner, de acordo com o comunicado.
Bauchner apelou à junta para que ponha termo “de imediato” a este “recrutamento forçado”.
Em 10 de fevereiro, a junta que governa o país após um golpe de Estado em 2021 ativou uma lei do serviço militar de 2010, permitindo o recrutamento de homens com idades entre 18 e os 35 anos e de mulheres com idades entre 18 e os 27 anos, “por um período máximo de cinco anos, durante o atual estado de emergência”, explicou a HRW.
A decisão foi tomada após meses de combates dos militares com grupos armados étnicos e forças de resistência.
Ainda segundo a organização, a junta anunciou que o recrutamento começaria em abril, com uma quota mensal de cinco mil, mas as autoridades do estado de Rakhine “começaram a recrutar rohingya à força” no início de fevereiro, constatou a HRW.
Estima-se que 630 mil rohingya vivam no estado de Rakhine “sob um sistema de apartheid e perseguição, incluindo cerca de 150 mil mantidos em campos de detenção ao ar livre”, afirma-se ainda no comunicado.
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Em março, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou preocupação com “relatos de detenção forçada e recrutamento de jovens, incluindo rohingya, e o potencial impacto do recrutamento forçado nos direitos humanos e no tecido social das comunidades em Myanmar”.
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