A mortalidade materna global diminuiu 34% entre 2000 e 2020, mas as comunidades menos privilegiadas ficaram “ainda mais para trás”, segundo o relatório das Nações Unidas sobre a situação da população mundial na saúde e direitos sexuais e reprodutivos.

Entre 2000 e 2020, a mortalidade materna global diminuiu 34% e os nascimentos entre meninas dos 15 aos 19 anos diminuíram cerca de um terço desde 2000, revela o relatório que está a ser divulgado esta quarta-feira no Instituto Camões, em Lisboa.

A diretora do Escritório do Fundo de População das Nações Unidas em Londres, Mónica Ferro, salientou que todos os progressos verificados nos últimos anos aconteceram “nas comunidades que já estavam numa situação melhor”.

Muitos dos “que estavam mais para trás”, como as vítimas de racismo ou de discriminação com base no género ou que pertencem a outras minorias, “essas pessoas ficaram mais para trás”, lamentou Mónica Ferro.

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Os números mostram melhorias no uso da contraceção — entre 1990 e 2021 duplicou o número de mulheres que o usam — e revelam que 162 países aprovaram leis contra a violência doméstica.

Mónica Ferro salientou que é cada vez mais fácil chegar e ajudar os mais privilegiados, mas existem zonas do globo onde o progresso em questões como a autonomia corporal ou a redução da mortalidade materna desacelerou e até retrocedeu, deixando de fora “milhões de pessoas”, em parte devido a múltiplas formas de discriminação e marginalização.

“Se tivesse de definir este relatório em duas palavras seria desigualdade na equidade e intersexualidade”, disse, lamentando a “falta de vontade” de querer saber “quem são as pessoas a quem se quer chegar”. Para a diretora, “foi chocante descobrir o quanto estas realidades não estavam mapeadas”.

Em 68 países, uma em cada quatro mulheres ainda não pode tomar decisões sobre cuidados de saúde, sendo que em todo o planeta 10% das mulheres não tem autonomia para decidir usar ou não métodos contracetivos, segundo o relatório “Vidas Entrelaçadas, Fios de esperança: Acabar com as desigualdades na saúde e direitos sexuais e reprodutivos”.

Uma em cada quatro mulheres não pode dizer não ao sexo com o seu marido ou parceiro, revela o estudo apresentado esta quarta-feira  por Mónica Ferro, que disse querer trazer as desigualdades para a mesa de debate. A responsável salientou que é preciso “eliminar a invisibilidade” e que é preciso “trazer dados para a discussão pública para que se saiba quem são essas pessoas”.

Cerca de 800 mulheres continuam a morrer todos os dias durante o parto, sendo que a maioria destas mortes acontece nos países em desenvolvimento e quase todas poderiam ter sido evitadas.

Uma das propostas para contrariar esta realidade passaria por aumentar as intervenções efetuadas por parteiras, que, segundo o estudo, poderia evitar 41% das mortes maternas, 39% das mortes neonatais e 26% dos nados-mortos.

A esta situação acresce que, entre 2016 e 2020, a redução anual global da mortalidade materna foi zero, segundo o relatório, que revela ainda que as mulheres e raparigas com deficiência têm até dez vezes mais probabilidades de sofrer violência baseada em género, incluindo a violência sexual.

O relatório confirma uma melhoria desde 1994, mas ainda há milhões a quem continuam a ser negados “todos os dias a sua saúde e os seus direitos”.