Estão escolhidos os 12 membros do júri que terá a responsabilidade de julgar o ex-presidente norte-americano Donald Trump no caso que envolve o pagamento à atriz pornográfica Stormy Daniels, um julgamento inédito que está atualmente em curso no Tribunal Criminal de Manhattan, precisamente no ano em que o ex-Chefe de Estado deverá ser o candidato republicano às eleições presidenciais dos EUA.
De acordo com a Associated Press, o júri inclui um profissional de vendas, um engenheiro de software, um engenheiro de segurança, um professor, um terapeuta da fala, vários advogados, um profissional da banca de investimento e um gestor de fortunas já reformado. As identidades dos 12 elementos do júri são secretas — mas o processo de seleção foi longo e difícil, com dezenas de possíveis jurados excluídos.
Na terça-feira, já tinham sido selecionados sete jurados. Contudo, o processo sofreu um revés na quinta-feira, quando o juiz Juan Merchan anunciou que dois dos jurados já escolhidos tinham sido excluídos.
Uma enfermeira especializada no tratamento do cancro tinha “transmitido [ao tribunal] que, depois de dormir sobre o assunto, tinha preocupações sobre a sua capacidade de ser justa e imparcial neste caso”. Apesar de a sua identidade ter sido mantida em segredo, alguns aspetos da identidade, como a profissão, tinham sido revelados, o que a levou a ponderar novamente a situação.
“Só ontem, tive amigos, colegas e familiares a enviar-me coisas para o telemóvel a questionar a minha identidade como jurada. Não acredito que, nesta fase, possa ser justa e imparcial nem impedir que influências exteriores afetem a minha tomada de decisão no tribunal“, disse a enfermeira.
Outro dos jurados que já tinham assumido funções era um especialista em informática sobre o qual surgiram suspeitas de que poderá não ter sido totalmente honesto nas declarações que prestou ao tribunal. De acordo com a AP, os procuradores responsáveis pelo caso encontraram um artigo sobre uma pessoa com o mesmo nome que, na década de 1990, tinha sido detida por vandalizar cartazes políticos da direita.
Na quinta-feira, o tribunal acabaria por selecionar os restantes sete jurados e um suplente — e ficaram a faltar ainda cinco suplentes.
Praticamente uma centena de potenciais jurados estiveram no processo de seleção e mais de metade já foram excluídos por não lhes ser possível assegurar total imparcialidade no caso. De acordo com a AP, a primeira semana do julgamento tem sido exclusivamente dedicada ao longo e complexo processo de inquirição dos potenciais jurados, que inclui audições detalhadas sobre as opiniões políticas dos pré-selecionados, sobre as suas vidas pessoais e até sobre o seu uso das redes sociais. Tanto os procuradores como os advogados de defesa e o juiz procuram eliminar quaisquer pessoas que tenham o mínimo conflito de interesses que possa colocar em causa a justiça do julgamento.
Ainda assim, há dentro do tribunal um consenso entre as várias partes: este não é um caso como os outros e será impossível encontrar jurados que nunca tenham ouvido falar do arguido, como seria ideal. Isso seria, nas palavras de um dos procuradores, tentar encontrar alguém que “viveu debaixo de uma pedra nos últimos oito anos”.
Segundo a AP, vários dos jurados já escolhidos admitiram em tribunal ter opiniões sobre a presidência de Trump. “Posso não gostar de algumas das políticas dele, mas trouxe algo de bom”, disse um dos jurados. Outra assinalou que considerava Trump “muito egoísta”.
Em causa está um caso sem precedentes — a primeira vez na história dos EUA em que um antigo Presidente é julgado criminalmente. Em causa está um pagamento de 130 mil dólares feito em 2016 por um advogado de Trump à atriz pornográfica Stormy Daniels, com o objetivo de comprar o silêncio da mulher. Trump estava a começar o seu primeiro mandato como Presidente e Daniels poderia vir a revelar que em 2006 tinha tido um caso com o empresário.
Trump é acusado de 34 crimes, incluindo falsificação de registos empresariais para esconder a origem do dinheiro.
O julgamento deverá durar seis semanas — e espera-se que Donald Trump esteja presente em todas as sessões, o que afetará consideravelmente a disponibilidade do ex-presidente para andar pelo país em campanha eleitoral.