Mate Rimac, o fundador e criador da Rimac, é um artista dos veículos eléctricos, uma espécie de Tesla, mas para superdesportivos. O seu potencial tecnológico é tal, segundo os alemães, que o Grupo Volkswagen não hesitou em oferecer-lhe a Bugatti — para criar a Rimac/Bugatti e electrificar o sucessor do Chiron —, enquanto a Porsche lhe pagava principescamente para ter acesso aos trunfos de Mate e colocá-los no Taycan, do sistema de 800V à transmissão de duas velocidades, passando pela gestão de energia. Tudo pela mão do que muitos consideram um construtor croata de “vão de escada”.
A Rimac tem, efectivamente, um imenso potencial tecnológico, como o prova o facto de fornecer o sistema Kers a equipas de F1, a solução híbrida que faz um pequeno motor 1.6 V6 debitar muito mais potência do que os antigos 3.0 V10. Mas o construtor, que começou mesmo por dar os primeiros passos num “vão de escada”, concebeu igualmente o Nevera, um hiperdesportivo com quatro motores eléctricos (um por roda) que totalizam 1914 cv e lhe asseguram uma velocidade máxima de 412 km/h e os 0-100 km/h em somente 1,97 segundos. Graças à bateria com uma capacidade de 120 kWh, o coupé de dois lugares é ainda capaz de percorrer 550 km entre recargas, tudo por um valor de 2 milhões de euros (antes de impostos).
Depois de arrancar com as vendas do Nevera, prevendo entregar um total de 150 unidades, valor diminuto para este tipo de veículos — basta recordar que a Bugatti produziu 500 unidades do Chiron normal, a que é forçoso juntar as dezenas de modelos adicionais resultantes de uma imensidão de séries especiais —, a marca croata deparou-se com uma inesperada dificuldade: a falta de procura. De acordo com Mate, os seus Rimac não se vendem porque os ricos, que têm disponibilidade para adquirir veículos por esta grandeza de valores, preferem hiperdesportivos com motor a combustão (como o Aston Martin Valkyrie, que vendeu de imediato as 150 unidades fechadas por 3,5 milhões cada, além dos 40 Valkyrie AMR, para pista, e os 85 modelos da versão Spider). No limite, defende Mate, os clientes muito abonados preferem híbridos plug-in, como o Mercedes-AMG One (as 275 unidades desapareceram rapidamente), os mais recentes Ferrari (como o SF90 ou o 296) ou Lamborghini Revuelto.
De acordo com Mate Rimac, das 150 unidades previstas para o Nevera, que deveriam ser todas vendidas no lançamento em 2022, para depois serem fabricadas num prazo de um a dois anos, o construtor apenas conseguiu vender 50. O fundador e CEO explica que, “com a evolução do mercado, os automóveis eléctricos passaram a ser mainstream e os clientes com maior poder de compra e que tradicionalmente adquirem hiperdesportivos como o Nevera (por 2 milhões de euros a unidade, antes de impostos) preferem diferenciar-se”.
Para reforçar a sua posição, Mate Rimac recorda que os clientes mais endinheirados continuam a preferir “relógios analógicos muito caros, em vez dos smartwatches, apesar daqueles disponibilizarem muito menos funções”. E Mate vai mais longe ao afirmar que “um Apple Watch faz tudo melhor do que um relógio analógico de luxo, mas ninguém paga 200.000€ por um relógio da Apple”.
Apesar de reconhecermos o potencial tecnológico da Rimac, parece que o construtor croata está a revelar uma certa falta de conhecimento do mercado. O problema do Nevera não são os 1914 cv, a velocidade máxima que atinge, a rapidez com que supera os 100 km/h, o tempo por volta no Nürburgring ou em que recarrega a bateria. O único problema do Nevera é o emblema que exibe no capot frontal, que o associa a uma marca que menos de 1% da população europeia conhece ou considera premium. Certamente que a situação será diferente quando a Ferrari e a Lamborghini lançarem os seus eléctricos, pois mesmo que não se aproximem da capacidade de aceleração e da velocidade máxima do Rimac, o número de clientes dispostos até a pagar mais de 2 milhões deverá ser incomparavelmente superior.