Depois da decisão da Comissão Nacional de Eleições (CNE), que instou a SIC a assegurar que a sua programação, incluindo a dos programas humorísticos, dá o mesmo tratamento às candidaturas eleitorais, Ricardo Araújo Pereira defende que esta deliberação não lhe diz respeito — nem a si, nem ao programa ‘Isto É Gozar Com Quem Trabalha’ — e que “seria absurdo que o entretenimento estivesse sujeito às mesmas regras da informação”.

“A mim, pessoalmente, ninguém instou. Provavelmente porque estará em causa outro princípio constitucional que tem a ver com aquela coisa da liberdade, ou o que é“, disse o humorista ao Observador.

A CNE, na deliberação conhecida esta segunda-feira, refere que deve ser cumprido “o princípio constitucional de igualdade de oportunidades e de tratamento das candidaturas”. E é nesta parte que Ricardo Araújo Pereira aponta a questão da liberdade — princípio que não é apontado pela CNE –, recordando uma intervenção de uma das deputadas do Chega. “Ainda há dias vi a jovem deputada do Chega, Madalena Cordeiro, a definir o conceito [de liberdade] de forma bem eloquente, lembrando que os cidadãos têm o direito de ‘fazer o que querem e de não fazer o que não querem’“.

Comissão Nacional de Eleições insta SIC a dar o mesmo tratamento às candidaturas eleitorais

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“De facto, se alguém nos obriga a fazer o que não queremos, isso constitui uma limitação à liberdade. Deve ser por isso que nunca sou instado”, acrescentou, considerando ainda que tem o direito de convidar quem quiser para o seu programa — decisão que passa por não convidar o Chega.

[Já saiu o primeiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui.]

A deliberação da CNE refere também que a SIC deve compensar os desequilíbrios gerados pelo programa de Ricardo Araújo Pereira na restante programação. “Resta-me desejar boa sorte à SIC”, responde o humorista, lembrando que o princípio constitucional de igualdade de oportunidades, apontado pela CNE, a ser cumprido escrupulosamente, então deve ser alargado a todos os programas de entretenimento e a todas as candidaturas, não apenas às candidaturas que têm representação parlamentar. “É que a constituição não define um critério. Todas as candidaturas são mesmo todas, e não apenas as dos partidos com representação parlamentar, ou dos que fazem queixinhas à CNE.”

“Desejo assistir a uma entrevista de Luciana Abreu a Cidália Guerreiro, do PCTP/MRPP, no Domingão, e a uma conversa intimista de Marco Paulo com Élvio Sousa, do Juntos Pelo Povo. Acho que não sou o único”, acrescenta.

Esta decisão da CNE surge depois de esta entidade ter recebido três queixas contra a SIC, que consideravam que “discriminatório” o facto de nenhum representante do Chega ter sido convidado para o programa ‘Isto é Gozar Com Quem Trabalha’ nas últimas eleições legislativas.