Depois de um jogo para a história, mais um jogo histórico. A participação de Nuno Borges no Masters 1.000 de Roma até começou com um triunfo que, apenas por si, valia muito mais do que um jogo, quando superou as mais de três horas e meia de encontro para vencer o espanhol Pedro Martínez nas vantagens do tie break do terceiro set. Não ficou por aí. E o Gladiador entrava esta terça-feira em campo com um dia de descanso e sem qualquer pressão adicional, a poder apenas fazer o jogo pelo jogo como tinha acontecido no Open da Austrália, quando apesar da derrota com Daniil Medvedev (que iria à final do primeiro Grand Slam da época, onde perdeu com Jannik Sinner) conseguiu ganhar um set e deixou uma imagem de marca no circuito.

Ovação de pé, elogios de Medvedev e os recordes de Nuno Borges no adeus ao Happy Slam: “Estou na minha melhor fase da carreira”

Na segunda ronda do Masters na capital italiana, o maiato teve pela frente o cazaque Alexander Bublik, atual 17.º do mundo. Aliás, teve pela frente um jogador que já somou em 2024 duas finais de torneios ATP (250 em França, 500 no Dubai), um público que torcia pelo tenista de leste e um vento que de quando em vez fazia das suas. Superou todos esses obstáculos, com uma enorme confiança sobretudo nos jogos de serviço do adversário, e conseguiu pela primeira vez na carreira chegar à terceira ronda de um Masters 1.000 com um triunfo por duplo 6-4 que foi o segundo melhor em termos de ranking, apenas superado pelo triunfo diante do búlgaro Grigor Dimitrov no Open da Austrália deste ano. Estava escrito mais um capítulo de história.

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Depois de uma maratona, a história a alta velocidade: Nuno Borges consegue segunda melhor vitória da carreira em Roma

Em condições normais, Nuno Borges teria depois pela frente o neerlandês Tallon Griekspoor mas o italiano Francesco Passaro voltou a surpreender, avançando também para a terceira ronda. Mais uma vez, o tenista português teve de sofrer, salvou mesmo um match point no segundo set que ganhou por 10-8 após começar a perder no parcial inicial por 6-4 e fechou a vitória em novo tie break por 7-4. “Estou muito contente por continuar neste torneio. Chegar à quarta ronda é mais do que alguma vez esperei. Já alcancei os meus objetivos para este torneio, mas estou aqui e vou a jogo para ganhar. Foi mais uma maratona de três horas mas aguentei-me bem, de cabeça, e mantive-me bem nos momentos decisivos”, comentou após o jogo.

Nuno Borges “muito contente” após “mais uma maratona” no Masters 1.000 de Roma

Seguia-se o maior desafio de todos, um pouco como tinha acontecido com Medvedev em Melbourne no início do ano: Alexander Zverev, quinto do ranking mundial e terceiro cabeça de série em Roma (sendo que do top 5 sobrava apenas ele e Medvedev, depois das derrotas de Djokovic, Rublev e Casper Ruud). Numa época em que chegou pela primeira vez ao top 50 do circuito ATP, que alcançou pela primeira vez a quarta ronda de um Grand Slam e que defendeu a vitória no challenger de Phoenix, Nuno Borges já tinha tornado o terceiro português a alcançar os oitavos de um Masters 1.000 depois de Frederico Gil e João Sousa mas queria mais. E foi num court principal com capacidade para 10.000 espectadores muito bem composto e com algumas bandeiras portuguesas que se mostrou, acabando por perder em dois sets mas com uma exibição de qualidade sobretudo no segundo parcial que foi traída por dois erros no 11.º jogo que permitiram o break.

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O encontro não começou propriamente da melhor forma, com Zverev a fazer o break logo a abrir em branco (com uma dupla falta) antes de segurar o jogo de serviço apesar de ter ido aos 40-30 antes de fazer mesmo o 2-0. Nuno Borges precisava do seu melhor primeiro serviço e foi assim que fez os dois primeiros pontos no terceiro jogo, onde conseguiu “normalizar” com o 2-1. Esse seria um momento importante, com o alemão a perder depois consistência no seu serviço, a fazer duas duplas faltas e a ver o português pressionar em todos os segundos serviços para devolver o break antes de Zverev aproveitar erros de Nuno Borges com bolas curtas que ficaram na rede e fizeram o 3-2. Já na cadeira, tal como acontece há vários anos, o tenista germânico, com diabetes tipo 1, mediu os valores e administrou insulina via coxa para normalizar todos esses parâmetros. O primeiro set parecia controlado pelo alemão que, apesar de não ter recuperado por completo o seu serviço, foi melhorando, ganhou todos os pontos chave e fechou o parcial inicial com 6-2 em 35 minutos.

O segundo set teve maior equilíbrio, com um Nuno Borges mais forte nos seus jogos de serviço e um Zverev com menos argumentos a não ser nas partidas de saque – se os primeiros serviços do português iam valendo depois pontos ganhantes, os do germânico começaram a valer ases. Foi assim que, por exemplo, com 15-30 para o maiato no oitavo jogo, Zverev fez dois ases consecutivos e salvou eventuais problemas para o 4-4 após uma partida em branco de Nuno Borges. Só mesmo no 11.º encontro houve pontos de break e com o tenista germânico a não perdoar, quebrando o serviço para o 6-5 antes de servir para fechar com 7-5 apesar de o português ter ainda virado de 30-0 para 30-40 antes de Zverev ganhar com dois grandes serviços.