Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, afirmou esta quarta-feira ser inútil “falar sobre o dia seguinte ao fim da guerra, enquanto o Hamas ainda existe”. Poucas horas depois, o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, insurgiu-se contra a posição para garantir que não dará o seu consentimento à governação civil ou militar israelita de Gaza num cenário em que o conflito armado chegue ao fim.

O ministro dirigiu-se a Benjamin Netanyahu, notando que terá de tomar “decisões difíceis” para fazer avançar a governação de Gaza, porque os ganhos da guerra estão a ser corroídos e a segurança de Israel a longo prazo está em jogo. Os comentários públicos de Gallant foram interpretados como o desafio político interno mais direto a Netanyahu desde o início da guerra, com apelos da coligação no poder para que o líder dispense o membro do Governo.

Num discurso transmitido pela televisão e citado pelo The Times of Israel, o governante com a pasta da Defesa avisa que a governação por palestinianos locais, não pertencentes ao Hamas, é do interesse de Israel. Netanyahu, disse o ministro, deve excluir publicamente a noção de uma governação israelita permanente na Faixa de Gaza.

“Enquanto o Hamas mantiver o controlo civil na Faixa de Gaza, poderá restaurar o seu poder. Temos de eliminar as capacidades de governação do Hamas. A chave para isso é a atividade militar e a criação de uma entidade alternativa”, afirmou.

Para Gallant, só restam duas opções negativas, “o domínio do Hamas em Gaza ou o domínio militar israelita em Gaza”. “O significado da indecisão é escolher uma das opções negativas. Isso iria corroer as nossas conquistas militares, reduzir a pressão sobre o Hamas e sabotar as hipóteses de conseguir um quadro para a libertação dos reféns”, apontou ainda.

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Como noticiou o New York Times no final de janeiro, o mundo árabe, em parceria com os EUA, acenou a Israel a possibilidade de formalizar laços diplomáticos oficiais com a Arábia Saudita (um processo que foi interrompido com o início do conflito em Gaza), em troca de garantias para um avanço na criação de um Estado palestiniano. Com as suas recentes declarações, Gallant aproxima-se da solução apoiada internacionalmente num cenário pós-guerra.

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Esta quarta-feira, Benjamin Netanyahu garantiu que Israel está envolvido “há vários meses em várias tentativas para encontrar uma solução para este problema complexo” . “Algumas destas tentativas têm sido escondidas [do público] e isso é bom. Isto faz parte dos objetivos de guerra que definimos e que estamos determinados a conquistar”, acrescentou.

Para Netanyahu, “não há substituto para a vitória militar“. “As tentativas de tentar chegar à vitória com afirmações é desligada da realidade. Só há um único substituto para a vitória — a derrota.”