“Já há demasiada bichice” nos seminários. A frase é da autoria do Papa Francisco e está a monopolizar as manchetes dos principais jornais italianos. A polémica instalou-se esta noite mas a frase remonta a 20 de maio, durante um encontro à porta fechada com bispos em que o Papa participou.

A cúpula da igreja católica discutia um tema que gera divisões: o acesso dos homossexuais aos seminários. E — em contraste com a posição de abertura da Igreja a diferentes orientações sexuais que tem defendido durante o seu papado — Francisco mostrou uma postura conservadora e disse estar contra a entrada de homossexuais nos seminários, onde, “já há demasiada bichice” (“C’è già troppa frociaggine”, na expressão em italiano). O termo “frociaggine” é considerado ofensivo para a comunidade homossexual.

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Segundo o Corriere della Sera, alguns dos bispos presentes no encontro com Francisco reagiram à frase do Papa com algumas gargalhadas e admitiram àquele jornal que o Sumo Pontífice cometeu uma gafe, porque não teria consciência de que acabara de pronunciar uma expressão ofensiva. Os bispos justificam a gafe com  o facto de o italiano não ser a língua materna de Jorge Mario Bergoglio.

[Já saiu o segundo episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio.]

O tema da abertura de Igreja a homens assumidamente homossexuais é sensível. As últimas diretrizes estabelecidas sobre o assunto datam de 2005 e dizem que “aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente enraizadas ou apoiam a chamada cultura gay” não podem ser admitidos. No entanto, em novembro, os bispos italianos aprovaram, na assembleia de Assis, um texto para regular a admissão aos seminários, que ainda não foi publicado porque aguarda a luz verde da Santa Sé.

Nesse texto, defende-se uma distinção entre a simples orientação homossexual e as chamadas “tendências profundamente enraizadas”; na prática, os bispos defendem que um homossexual pode ser admitido na Igreja desde que dê garantias, como um heterossexual, de saber manter a disciplina do celibato.

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Esta já não é a primeira vez que o Papa Francisco (conhecido como um promotor da abertura da Igreja e da tolerância com as minorias — em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude, defendeu que a Igreja deve ser para “todos, todos, todos”) assume posições conotadas com a ala mais conservadora da igreja católica.

Em 2018, Francisco recomendou que os pais disponibilizassem apoio “psiquiátrico” aos filhos se detetassem neles tendências homossexuais durante a infância. “Quando é observado a partir da infância, há muito o que pode ser feito através da psiquiatria, para ver como são as coisas. É outra coisa quando se manifesta depois dos 20 anos”, disse o Papa Francisco, citado pela Globo, durante uma entrevista no avião que o levou de volta a Roma após uma viagem à Irlanda.

Notícia atualizada às 10h40 do dia 28 de maio com a correção da tradução da palavra usada pelo Papa: “bichice” e não “bichas”