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O ataque aéreo conduzido pelas forças armadas israelitas contra um campo de refugiados palestinianos em Rafah, e que terá provocado a morte a cerca de 50 pessoas, gerou uma onda de críticas à atuação militar de Telavive na Faixa de Gaza. Enquanto o chefe da diplomacia europeia Josep Borrell condenava o bombardeamento (levado a cabo durante a última noite) e pedia o fim dos ataques, os Estados Unidos — o maior aliado de Israel — recomendavam precaução nas operações militares, tendo em vista a proteção dos civis.

Ao início da manhã desta segunda-feira, o exército israelita anunciava que tinha lançado ataques contra um complexo do Hamas em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, admitindo ter ferido civis. Por essa altura, já o Hamas acusava Israel de ter atingido deliberadamente um centro para pessoas deslocadas perto de Rafah, matando, pelo menos, 35 pessoas. Um número que foi sendo atualizado ao longo do dia, com o último balanço do Ministério da Saúde de Gaza (controlado pelo Hamas) a apontar para 50 mortos, entre os quais mulheres e crianças, muitos carbonizados.

Israel admite que atingiu civis em Rafah em ataque denunciado como “deliberado” pelo Hamas

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Zona atingida albergava refugiados que fugiam da operação militar israelita noutra zona de Rafah

O bombardeamento aéreo levado a cabo pelo exército provocou um incêndio naquela zona da parte leste de Rafah, onde se concentravam, em tendas, muitos deslocados de guerra que tinham fugido da zona oeste da cidade, onde decorriam operações militares israelitas.

[Já saiu o terceiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio e aqui o segundo episódio.]

Ciente das dezenas de feridos e mortes que resultaram do ataque aéreo — que Telavive dizia ter como alvo dois altos dirigentes do Hamas — Israel apressou-se a “lamentar” quaisquer vítimas civis e garantiu estar a investigar as circunstâncias do ataque ao campo de refugiados. A meio da manhã, já circulavam nas redes sociais, sobretudo no X (o antigo Twitter) vídeos de uma enorme brutalidade, mostrando corpos mutilados e carbonizados.

A condenação internacional a Israel também não demorou. Um dos primeiros países a reagir ao incidente em Rafah foi a Irlanda (um dos três países que se preparam para reconhecer a Palestina como Estado). O ministro dos Negócios Estrangeiros  Micheál Martin falou de um “ataque bárbaro” das forças israelitas. O homólogo norueguês Espen Barth Eide acusou Telavive de “violação da lei humanitária” internacional.

Blinken diz que ataque israelita a Rafah causaria danos “além do aceitável”

Chefe da diplomacia europeia condena veementemente o ataque

De França chegou uma das mais contundentes reações ao ataque, com o Presidente Emmanuel Macron a confessar-se “ultrajado” e a pedir um cessar-fogo imediato e “respeito pela lei internacional”. Horas depois, era o próprio Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros Josep Borrell a condenar “nos mais fortes termos” o bombardeamento a Rafah. “[Estou] horrorizado com as notícias vindas de Rafah sobre os ataques israelitas que mataram dezenas de pessoas deslocadas, incluindo crianças pequenas”, escreveu Borrell na rede social X, pedindo o fim imediato dos ataques.

Já Portugal, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, condenou os bombardeamentos em Rafah e apelou a um “cessar-fogo imediato” em Gaza, “ao respeito pelo direito internacional e à entrada urgente de ajuda humanitária em Gaza”.

A meio da tarde, e perante o avolumar da pressão internacional, as Forças de Defesa de Israel garantiam que “antes do ataque, foram tomadas várias medidas para reduzir as hipóteses de ferir” civis. Em comunicado, as IDF sublinhavam que foi feita uma “inspeção aérea visual” à zona, que foi usado “armamento de precisão” no ataque e que foram utilizadas informações recolhidas pelos serviços de inteligência – “com base nas quais se estimou” que não era expectável que civis fossem feridos. Segundo as IDF, o ataque tinha como alvos o chefe do Hamas na Cisjordânia, Yassin Rabia, e o oficial Khaled Nagaram.

Contudo, a primeira admissão clara de culpa por parte de Israel só surgiu ao final da tarde, quando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu assumiu, no Parlamento israelita, que o ataque aéreo a Rafah foi um “erro trágico”. Netanyahu garantiu que o ataque a um campo de refugiados em Rafah iria ser investigado. Ainda assim, o chefe de governo israelita reafirmou a intenção de não parar a guerra em Gaza enquanto os objetivos de Israel não forem alcançados.

Incêndio que matou muitos palestinianos foi causado por estilhaços que atingiram tanque de combustível do Hamas, diz Israel

Enquanto Netanyahu discursava no Knesset, dos Estados Unidos, o maior aliado de Israel, vinha uma crítica explícita. “Israel tem o direito de ir atrás do Hamas mas, e já fomos claros [quanto a isso], tem de tomar todas as precauções para proteger civis”, disse o porta-voz do Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA John Kirby, acrescentando que as imagens que chegavam de Rafah eram “desoladoras”. Ainda assim, a Casa Branca continua não defender uma paragem dos combates, como pedem a maioria dos países europeus.

Já ao final da noite, a imprensa norte-americana avançava com a justificação dada por Israel aos Estados relativamente ao ataque a Rafah. Segundo Telavive, o incêndio no campo de refugiados foi causado por estilhaços que atingiram um tanque de combustível que pertencia ao Hamas e que se encontrava a apenas 100 metros das tendas onde dormiam os refugiados palestinianos.