Não é fácil perceber se a Ferrari está mais preocupada com o lançamento do seu primeiro veículo 100% eléctrico, já no próximo ano, ou se com a ameaça que os construtores chineses representam para os que procuram modelos que recorram a esta tecnologia. E esta hesitação é difícil de compreender na medida em que a Ferrari, à semelhança de outros construtores de super e hiperdesportivos como a Lamborghini ou a Bugatti, é das marcas que menos sofrerá com a concorrência de fabricantes como os chineses, que gozam obviamente de menos reputação e imagem.

A Ferrari, provavelmente a marca com o melhor pedigree no mundo automóvel, vai apresentar já em 2025 o seu primeiro eléctrico, o que deverá provocar suores frios à administração, liderada pelo CEO Benedetto Vigna. Isto porque, se até aqui os Ferrari lideravam confortavelmente, em nobreza das mecânicas e eficácia do comportamento, a troca de motores a gasolina para eléctricos coloca o construtor italiano fundado em 1933 por Enzo Ferrari em terrenos desconhecidos, onde há construtores com mais experiência e know-how. E não será fácil a Ferrari bater o Rimac Nevera e os seus 1914 cv em potência, autonomia, capacidade de aceleração e velocidade máxima, apesar de todos os amantes de superdesportivos estarem a torcer para que isso aconteça.

Tendo entre mãos o seu primeiro superdesportivo eléctrico, Benedetto Vigna aproveitou uma entrevista à Bloomberg para olhar para o mercado global e, sobretudo, o europeu, que está de momento numa situação de aberto confronto em relação à concorrência chinesa, suspeita de receber subsídios ilegais do Estado, o que levou a uma investigação. “Para mim, isto é uma chamada para acção na Europa”, declarou o CEO à agência especializada em temas económicos, referindo-se à nova concorrência vinda da China.

A ameaça da China retaliar em relação à investigação dos subsídios ilegais dos seus modelos, impondo taxas de 25% à importação de modelos europeus, não preocupa muito o homem à frente da Ferrari. Segundo Vigna, “dos fabricantes de luxo, a Ferrari é quem menos sofrerá com esta medida”, disse, recordando que a marca impôs um  volume de vendas a apenas 10%, devido aos impostos que já existem”, volume que está assegurado face à reputação do Cavallino Rampante no mercado chinês, sobretudo junto dos clientes com maior capacidade financeira.

Simultaneamente, o CEO da Ferrari confirmou à Bloomberg TV que o seu primeiro EV surgirá “no último trimestre de 2025”, garantindo que o seu “desenvolvimento está a correr como pretendido”. O gestor assegurou ainda que a Ferrari, além do veículo eléctrico, será responsável pela produção dos motores, inversores e baterias – a Bloomberg não perguntou se Vigna se referia aos packs de baterias ou se às células –, com a fábrica destinada a produzir os Ferrari EV a estar terminada em Junho de 2024.

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