Era um grande balão de esperança. Grande, enorme, quase a perder-se de vista. 90 minutos depois, esvaziou entre dois estoiros rápidos e vários furos lentos. Croácia e Albânia partiam para este Europeu com ambições distintas mas um ponto em comum: fazer história e premiar duas gerações de ouro nacionais nos maiores palcos europeus. A estreia, essa, foi em sentido contrário. Os croatas não jogaram para sofrer três golos sem resposta da Espanha mas se ainda estivessem em Berlim provavelmente continuavam sem marcar e corriam o sério risco de verem Livakovic não conseguiu salvar mais nada. Os albaneses tiveram literalmente a estreia de sonho com o golo mais rápido em Europeus no minuto inicial mas não conseguiram depois contrariar a lei do mais forte frente à Itália, saindo do jogo com um recorde mas sem pontos. Agora, havia margem nula.

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A grande diferença era mesmo a pressão que recaía entre os dois conjuntos, algo mais pesado na ótica da formação croata. Uma entrada em falso no Euro não tem obrigatoriamente de deixar marcas mas é também na resposta à adversidade que se mede o pulso e batimento cardíaco de uma equipa. Uma equipa e até uma geração que, verdade seja dita, não terá muito mais anos de vida em campo: Modric faz a sua última grande competição, outros nomes como Perisic, Brozovic, Vida ou Petkovic não andarão longe disso mesmo. Aqui, as contas eram mais fáceis: uma derrota significava o adeus e a confirmação das más campanhas em Europeus, uma vitória funcionava como rampa de lançamento para que os dois pódios seguidos em Mundiais chegassem à prova continental. “Somos sempre outsiders, nunca estamos nos favoritos, ninguém acreditava em nós nos últimos seis anos mas ganhámos três medalhas. Merecemos respeito”, dizia Zlatko Dalic.

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Do lado da Albânia, muita alegria e orgulho mesmo depois da derrota inicial. “É obviamente um grupo muito difícil mas é uma grande alegria para nós estar a jogar contra as melhores equipas. Não podíamos estar mais felizes por estar a jogar contra equipas que têm jogadores do Manchester City, do AC Milan do Real Madrid… É um torneio magnífico e temos muito a aprender com ele”, salientava Sylvinho, que mostrava as ilações positivas de um encontro que terminou com resultado negativo mas que foi tendo a decisão em aberto até aos minutos finais, altura em que os albaneses viram Donnarumma negar um empate surpresa na estreia. Das palavras aos atos, foi com esse espírito positivo que o outsider do grupo entrou em Hamburgo.

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O encontro começou com essa notícia de não haver golos no minuto inicial, o que foi mesmo uma “notícia” tendo em conta o início do Albânia-Itália, e com a Croácia a tentar assumir o controlo do jogo com bola mas sem velocidade. Nem a mudança passava da primeira para a segunda, o que facilitava e muito as ações da defesa albanesa, nem a própria marcha-atrás queria entrar quando saíam as transições rápidas contrárias. Era uma Croácia a passo, era uma Albânia pronta para lhe acertar o passo. Aconteceu mesmo, claro: depois de uma boa circulação entre corredores, Asllani cruzou na direita e Laçi desviou de cabeça entre a abordagem deficiente de Livakovic ao lance (11′). Os croatas tinham de mudar, os croatas não mudaram entre um desvio de cabeça de Petkovic após cruzamento de Majer que saiu por cima (26′). Assim, o intervalo chegou com essa vantagem mínima e com o guarda-redes da Croácia (e do Fenerbahçe, de Mourinho) a evitar males maiores com uma defesa fantástica ao remate de Asllani isolado na área após um erro de Modric (30′).

Dalic mexeu ao intervalo com as entradas de Sucic e Pasalic mas a maior mudança da Croácia foi mesmo na atitude. Mais pressionante, mais rápida, mais capaz de colocar bola na área, mais dominadora percebendo a parte de que ter mais bola é bom quando se sabe o que fazer com ela. Foi assim que, no quarto de hora inicial após o descanso, Strakosha evitou o empate a remates de Sucic na área (50′) e de Kovacic de meia distância (54′). Golos, nada. E aquilo que não foi feito em 74 acabou por acontecer apenas em três: Kramaric recebeu bem na área para rematar rasteiro para o empate aos 74′, Gjasula marcou na própria baliza após uma grande carambola na sequência de uma tentativa de Sucic na área e fez o 2-1 aos 76′. O sonho da Albânia tornou-se um pesadelo, o pesadelo da Croácia deu lugar ao sonho mas havia ainda mais um capítulo escrito quase por destino: os albaneses subiram, acreditaram e Gjasula foi à área contrária fazer o 2-2 aos 90+5′.

A pérola

  • A entrada de Luka Sucic em campo foi a chave para a reviravolta da Croácia. O jovem avançado do Red Bull Salzburgo deu asas à equipa mesmo sem golos nem assistências, aumentando a presença da equipa balcânica junto à área da Albânia e mexendo com a organização defensiva contrária que foi abrindo os espaços que na primeira parte nunca existiram. Sendo mais um exemplo de jogador que podia optar por três nacionalidades distintas (croata ou bósnia, a nacionalidade dos pais que fugiram da guerra, ou austríaco, onde nasceu), em boa hora optou pela Croácia para jogar ao lado da sua grande referência no futebol, Luka Modric. No entanto, nem mesmo assim os balcânicos conseguiram segurar os três pontos.

O joker

  • Até aos 72′, Laçi era de longe o principal candidato a este “prémio” pelo golo inaugural e pela capacidade que foi tendo de lançar transições que foram deixando a Croácia em sentido sempre que se tentava ir adiantando no campo. A partir daí, o seu substituto, Gjasula, tomou conta da distinção: marcou na própria baliza o 2-1 da reviravolta croata mas ainda foi a tempo de, em período de descontos, subir à área contrária para fazer com um remate rasteiro o empate. De saída do Darmstadt aos 34 anos e ainda sem clube, o médio defensivo deixou o cartão de visita: para ele há improváveis mas nunca impossíveis.

A sentença

  • Com este resultado, o grupo B era aquele onde podia imperar mais a normalidade (não a nível de golos marcados e sofridos mas de resultados) até ao empate que chegou aos 90+5′. Assim, a Croácia irá defrontar a Itália com tudo em aberto, podendo lutar pelo segundo ou pelo terceiro lugar sem ter qualquer margem de erro porque um empate pode equivaler à despedida da prova. Já a Albânia podia começar a preparar as malas para sair de cabeça erguida deste Europeu mas com o golo de Gjasula entra na última ronda a poder ainda entrar nos oitavos, no limite, na segunda posição do grupo…

A mentira

  • O primeiro jogo não tinha corrido bem, o segundo foi ainda pior. Brozovic, companheiro de Ronaldo e Otávio, chegou à concentração da Croácia “espremido” por uma temporada com mais de 4.000 minutos em 48 encontros oficiais pelo Al Nassr mas teve tempo para recuperar e ter neste Mundial o momento de afirmação aos 31 anos até numa ótica de sucessão no trono que ficará vago quando Luka Modric deixar a seleção. Tudo correu mal e a saída ao intervalo por troca com Pasalic foi apenas a constatação da falência do meio-campo dos balcânicos tendo como principal rosto o antigo jogador do Inter.