Os sinais que vinham do banco e das bancadas não eram os mais entusiasmantes mas aquilo que estava nas quatro linhas não melhorava o cenário. Primeiro, a reação de Vlahovic e sobretudo Lukic quando olharam de lado para a placa de substituições e perceberam que iam sair. Depois, a bola na trave de Mitrovic que parecia ser uma espécie de canto do cisne nas ambições sérvias. Por fim, a chuva de copos de cerveja para a zona da linha de fundo quando um defesa esloveno sofreu falta com o tempo dos descontos a terminar. O sonho dos balcânicos parecia estar de vez a chegar ao fim com mais uma derrota no Europeu frente à Eslovénia.

Ob-la-ki, ob-la-ka e com Jovic life goes on (a crónica do Eslovénia-Sérvia)

Contas feitas, a Sérvia não consegue ganhar um encontro em fases finais há sete jogos, naquele que é o pior registo da equipa em termos consecutivos. No entanto, havia uma vida extra resgatada pelo jogador mais improvável entre todos aqueles 22 que estavam na área da Eslovénia e arredores (22 de forma literal, tendo em conta que Rajkovic tinha ido também para a molhada) e que voltou a colocar Luka Jovic a fazer títulos. Desta vez, pelos melhores motivos. Antes, pelos piores motivos. E, não parecendo, tem apenas 26 anos.

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Dois anos depois, o avançado que voltou a ser suplente utilizado por Stojkovic marcou de novo à Eslovénia, que passou a ser a sua maior vítima pela seleção a par de Qatar e Rússia. “Estou feliz por ter marcado, mas estaria muito mais feliz se tivéssemos vencido 3-0 comigo no banco durante o jogo todo. Felizmente, conseguimos empatar e ainda temos a última partida deste grupo para tentar avançar. Temos algo pelo qual temos de lutar e é a qualificação para a próxima fase. Temos de nos preparar o melhor possível, cabeça erguida e foco total na Dinamarca agora”, apontou no final do encontro Jovic, que colocou a Sérvia a depender apenas de si na última jornada quando esteve apenas a um minuto de ter as contas quase fechadas.

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No final de uma temporada com mais baixos do que altos, Jovic tocou no topo por aguentar durante mais quatro dias a esperança de uma Sérvia que teve Tadic em campo como titular mas que só chegou ao 1-1 com o médio ofensivo e capitão de fora (ao contrário do que tinha referido no final da primeira jornada, quando foi à zona mista dizer que era o melhor jogador sérvio e que tinha de cumprir os 90 minutos). E esse foi também um espelho daquilo que tem sido a carreira do jogador que pertence ao AC Milan e que foi agora o primeiro jogador dos rossoneri a marcar numa fase final do Europeu depois de Zlatan Ibrahimovic.

Luka Jovic, o sérvio que passou de flop no Benfica a melhor marcador da Bundesliga

Filho do antigo médio Milan Jovic, que fez toda a carreira entre a Sérvia e a Rússia e vitórias nas duas ligas, Luka nasceu em Bijeljina e fez grande parte da formação no Estrela Vermelha, sendo depois uma aposta do Benfica em 2015/16. Os relatórios não enganavam: estava ali um futuro avançado centro de seleção, tanto que só mesmo em antecipação os encarnados poderiam chegar à contratação. No entanto, e ao longo de duas temporadas, Jovic teve apenas oportunidade para fazer dois encontros por época no conjunto principal dos encarnados (tendo ganho dois Campeonatos com Rui Vitória), saindo depois por empréstimo para os alemães do Eintracht Frankfurt. Aí, tudo mudou. E mudou a ponto de chegar ao “maior dos maiores”.

Depois de uma temporada de 2017/18 com nove golos em 27 jogos, Jovic teve a temporada de “explosão” em 2018/19 com 27 golos e seis assistências em 48 jogos e o recorde do jogador mais novo a marcar cinco golos num encontro da Bundesliga. Se o Benfica tinha ganho seis milhões com a venda do jogador à formação germânica, beneficiou da saída do sérvio para o Real Madrid no verão de 2019 para arrecadar mais 30% das mais valias de um futuro negócio que tinha antes garantido, somando mais 16,2 milhões com o jogador. No entanto, esse salto acabou por ser maior do que a perna com duas épocas e meia sem grande brilho e ainda menos golos mas a somar histórias como a violação do período de quarentena na altura da pandemia da Covid-19 ou o facto de apresentar-se com uma fratura no calcanhar após magoar-se a saltar um muro.

Foi em Itália que o avançado começou a encontrar uma espécie de segunda vida, com mais uma temporada muito positiva com a Fiorentina em 2022/23 (13 golos e quatro assistências em 50 partidas) depois de estar como jogador livre antes da passagem para o AC Milan, onde voltou a ter um ponto baixo na carreira com nove golos e uma assistência em 30 encontros. Os rossoneri queriam mais do avançado, admitiram mesmo “desfazer-se” do jogador mas acabaram por segurar o sérvio no plantel que será treinado por Paulo Fonseca mas acabaram por garantir a sua permanência… tendo a ideia de contratar mais um avançado.

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