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O ator Donald Sutherland morreu esta quinta-feira aos 88 anos, em Miami. Um dos atores históricos de Hollywood estava doente há algum tempo. A morte foi confirmada pelos seus representantes ao The Guardian. Com mais de 60 anos de carreira e 190 créditos entre o cinema e a televisão, foram várias as gerações que ficam marcadas pelo trabalho do ator.
Nascido no Canadá, em 1935, estudou engenharia e drama na Universidade de Toronto, até ter decidido perseguir o sonho de ator a tempo inteiro. Em 1957, rumou a Londres, para estudar na Academia de Música e Artes Dramáticas.
Durante a década de 60 somou papéis menores na televisão britânica, aparecendo em séries como Os Vingadores (1961) ou O Santo (1962) e alguns filmes de terror. Mas Donald Sutherland brilhou pela primeira vez em Doze Indomáveis Patifes. Um dos maiores sucessos de bilheteira de 1967, o trabalho segue doze prisioneiros que são destacados para uma “missão suicida” na França ocupada pelos Nazis. Doze Indomáveis Patifes marcou, por um lado, o cinema de guerra, como um dos exemplos mais emblemáticos do estilo e, por outro, a carreira de Sutherland, catapultando-o para o sucesso sob as luzes de Hollywood.
No ano seguinte, Sutherland mudou-se para os Estados Unidos, onde continuou a fazer filmes de guerra, destacado-se M*A*S*H (1970), em que representa a personagem principal ‘Hawkeye’ Pierce, um cirurgião num hospital do exército na Coreia do Sul, numa comédia negra.
[Já saiu o sexto e último episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto episódio e aqui o quinto episódio.]
Se no ecrã Sutherland estava habituado a erguer armas e a participar em combates, fora do ecrã, a sua luta era outra: vocalmente crítico da guerra do Vietname, o ator acabou na lista de vigilância da CIA entre 1971 e 1973, pelas suas posições anti-guerra, como se tornou público em 2017. Até ao fim da vida, Sutherland manteve a sua veia ativista.
Nos anos 70, Sutherland colocou no seu currículo alguns dos seus trabalhos mais icónicos. Contracenou com Jane Fonda em Klute (1971) – com quem também colaborou no documentário anti-guerra F.T.A. –, com Julie Christie em Aquele Inverno em Veneza (1973), que levantou polémica por uma cena íntima, escandalosa para os Estados Unidos da época, e com Michael Caine em O Voo das Águias (1976). Trabalhou ainda com o realizador italiano Federico Fellini em O Casanova de Federico Fellini (1976).
Sem abrandar o ritmo de trabalho, durante as décadas seguintes destacam-se Gente Comum (1980), a estreia de realização de Robert Redford, ou Tempo de Matar (1996), onde contracenou com o filho Kiefer. Continuou sempre a fazer televisão e pequenos papéis no grande ecrã, como o de Sr. Bennet, na popular adaptação de Orgulho e Preconceito (2005). Foi nesta época que ganhou dois Globos de Ouro na categoria de Séries para Televisão: um em 1996 por Cidadão X, e outro em 2003 por Bastidores de Guerra.
O carinho das novas gerações
Com uma carreira preenchida, Sutherland reapresentou-se em 2012 a uma camada mais jovem da população com a participação na saga Os Jogos da Fome. Os nascidos no novo milénio vão lembrar Sutherland como o Presidente Coriolanus Snow, o temível ditador de Panem.
O anúncio a 6 de junho de um novo filme d’ Os Jogos da Fome, previsto para 2026, gerou, entre os fãs da saga (e os fãs mais jovens de Sutherland) a esperança de rever a estrela de Hollywood no papel de Snow. Apesar de alguns internautas terem apontado que Sutherland seria demasiado velho para retomar o papel – trata-se de uma prequela do filme original –, outros assinalaram que as posições políticas do ator o tornavam a pessoa ideal para produzir o novo título da saga.
can we please let Donald Sutherland executive produce the new Hunger Games movie pic.twitter.com/WbupfQSiw6
— hailey (@nobodynoswift) June 6, 2024
Uma fã partilhou entrevistas de Sutherland, em que este fala sobre o seu desejo que os jovens interpretassem as mensagens políticas dos seus filmes e se sentissem inspirados a levantar-se e a assumir posições. “Para mudar este mundo terrível que os velhos, como eu, criaram”, explicou.
Nunca ganhou um Óscar, mas a longa carreira acabou por ser reconhecida em 2017, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas lhe atribuiu um Óscar honorário.
Donald Sutherland foi casado três vezes e deixa cinco filhos. Um deles, o também Kiefer Sutherland, relembrou esta quinta-feira a vida do pai, através de uma publicação nas redes sociais. “Nunca se intimidou com um papel, bom, mau ou feio. Ele amava o que fazia e fazia o que amava, e nunca se pode pedir mais do que isso. Uma vida bem vivida.”, escreveu.
With a heavy heart, I tell you that my father, Donald Sutherland, has passed away. I personally think one of the most important actors in the history of film. Never daunted by a role, good, bad or ugly. He loved what he did and did what he loved, and one can never ask for more… pic.twitter.com/3EdJB03KKT
— Kiefer Sutherland (@RealKiefer) June 20, 2024