O investigador português João Carvalho alertou nesta sexta-feira  para o risco de desintegração da União Europeia (UE) com o crescimento dos movimentos nacionalistas e lamentou que existam emigrantes portugueses que apoiam causas xenófobas e anti-migratórias.

“O futuro da Europa está hoje muito mais ameaçado do que estaria há 40 ou 50 anos atrás, porque estamos a esquecer exatamente qual foi o objetivo da sua criação e todos os conflitos do século XX já não existem na memória das pessoas”, afirmou o investigador do ISCTE especialista em migrações, mobilidade e etnicidade.

“Estamos a caminhar para uma Europa da competição entre nações e não da solidariedade entre nações, numa direção que me inquieta, porque não estamos a ser capazes de lidar [com essa tendência] e inverter o rumo”, disse o investigador.

Falando à Lusa à margem da XXI conferência anual da International Migration Research Network (Imiscoe, na sigla inglesa), a maior rede mundial de investigadores sobre migrações, João Carvalho considerou que o “crescimento da extrema-direita só vai aumentar as fragilidades” da União Europeia, uma organização que é vista por muitos como “facto adquirido”.

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No entanto, a situação política encaminha o continente para “um enfraquecimento na integração europeia”, que “pode culminar na desintegração” da União, salientou João Carvalho.

Em França, que terá a segunda volta das eleições legislativas no domingo, muitos emigrantes portugueses votam na União Nacional (extrema-direita), o que resulta também da sua própria integração na sociedade francesa.

“Muitos dos emigrantes portugueses sentem-se como europeus em França” e estão com medo da “invasão do Islão e da criação do grande califado mundial”, numa referência as imigrantes vindos de África.

Na propaganda da extrema-direita, o “medo do Islão acaba por substituir o comunismo dos anos 80” do século passado, um discurso que “acaba por ser atrativo também para os próprios emigrantes portugueses” em França, disse João Carvalho.

Por outro lado, as comunidades emigrantes “acabam por ter uma visão idílica do seu país de origem que já não corresponde à realidade”.

O mesmo sucede nos Estados Unidos, com muitos emigrantes portugueses a votarem em Donald Trump. “A comunidade portuguesa Estados Unidos já não se sente como estrangeira e sente que a entrada de mais estrangeiros é uma ameaça e uma competição desleal”, disse.

Mas João Carvalho alertou para o facto de a adoção dos valores anti-imigração e nacionalistas por parte de portugueses emigrados coloca a comunidade “numa situação de vulnerabilidade”.

Numa “situação de vitória da União Nacional, não espero que hostilidade contra os portugueses diminua”, mas “antes pelo contrário”, vaticinou João Carvalho.