O Ministério Público espanhol pediu 226 anos de prisão para um cidadão português que matou quatro pessoas em Madrid, durante um atropelamento intencional, em novembro de 2022. Micael da Silva Montoya, de 35 anos, conhecido como “El portugués”, enfrenta quatro acusações de homicídio e nove de tentativa de homicídio, avançam os jornais espanhóis.

Segundo a acusação, os atropelamentos “ocorreram com total vontade do arguido de causar as mortes das vítimas e assumindo a possibilidade de isso acontecer“. O Código Penal espanhol não prevê a pena perpétua, exceto em casos muito graves, pelo que os procuradores pedem uma pena cumulativa: 25 anos por cada acusação de homicídio mais 14 por cada tentativa, num total de 226 anos.

Mas o que aconteceu em Torréjon de Ardoz, na noite de 6 de novembro de 2022, quando foram cometidos os crimes? Uma reportagem à data do jornal El Mundo reconstrói os acontecimentos. Micael Montoya terá entrado num casamento entre duas famílias ciganas, com mais de 200 convidados, com alguns membros da sua família, sem nenhum deles ter sido convidado.

Apesar das tentativas de os retirar do recinto – um restaurante chamado El Rancho –, o português, a mulher, os dois filhos e um primo conseguiram mesmo invadir a festa. Os convidados relatam que o grupo incomodou as pessoas, começando discussões e aproximando-se demasiado dos noivos. A situação escalou quando o filho mais novo de Montoya, ainda menor, se envolveu num incidente. Alguns relatos dizem que o jovem de 14 anos teria uma faca consigo.

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Já passava da uma da manhã, quando foram finalmente expulsos do casamento. Em vez de se ir embora, Montoya entrou no carro, à porta do restaurante, onde ficou até pouco antes das três manhã, altura em que os convidados começaram a sair.

“El portugués” terá, então, acelerado propositadamente na direção da pequena multidão, atingindo algumas pessoas. Os convidados relatam que o condutor colocou o carro em marcha atrás, atropelando novamente as pessoas que tinham caído e descrevem um “cenário de carnificina”.

O ataque matou quatro pessoas, a mais velha uma mulher de 66 anos e a mais nova um rapaz de 17, e feriu outras nove. Depois do ataque, Montoya escapou de carro, afastando-se de Madrid.

O suspeito foi detido na manhã seguinte pela Guardia Civil, já nos arredores de Toledo, com os filhos e 3.600 euros em notas no carro. O dinheiro terá sido entregue pelo primo e outros familiares para financiar a sua fuga para Portugal, onde tinha mais família.

No relatório da Guardia Civil sobre a detenção é possível ler que depois de cometer “actos execráveis, [fugiu] em direção à Avenida de Castilla, em San Fernando de Henares, perdendo na fuga várias partes do veículo, nomeadamente, o para-choques dianteiro, vários fragmentos da grelha frontal e um espelho retrovisor exterior, alguns destes elementos com vestígios de sangue”.

Para além da descrição gráfica da violência do atropelamento, as autoridades acusaram ainda Montoya de uma contraordenação por condução da viatura sem seguro de responsabilidade civil.

Os motivos do violento ataque ainda não são conhecidos. Enquanto o El País fala sobre uma rivalidade com uma das famílias, o El Español escreve que um dos atacantes era um ex-companheiro da noiva e que o ataque foi motivado por ciúmes.

Os filhos, devido à idade, acabaram por não ser acusados, mas Montoya foi colocado em prisão preventiva, onde aguarda agora julgamento.