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A dependência energética da Europa em relação à Rússia mantém-se, mais de dois anos após a invasão da Ucrânia, com diferenças regionais no acesso à energia e nas medidas, concluíram a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Brookings.
Esta é a conclusão do estudo “O atribulado divórcio do gás russo na Europa”, da autoria de Samantha Gross, especialista em política externa, energia e política climática, e de Constanze Stelzenmüller, diretora do centro de estudos da Europa e dos EUA da Brookings Institution, resultado de uma parceria entre a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e aquela instituição norte-americana, com a colaboração da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
Para as autoras, “a Europa continua, por enquanto, largamente dependente do gás importado, tendo-se limitado a diversificar os seus fornecedores e a aumentar a sua dependência relativa do GNL [gás natural liquefeito], que é mais caro”.
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O estudo refere que a resposta da Europa, após a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, foi rápida “e inimaginável antes do conflito”, mas esconde diferenças regionais no acesso à energia e nas medidas tomadas, que dificultarão uma resposta política unificada no futuro.
Adicionalmente, as autoras apontam que a redução da procura e substituição por GNL tem representado graves prejuízos para as indústrias de uso intensivo de energia, subsídios controversos, políticas protecionistas e o aumento de tensões políticas entre países europeus.
“Esta é, por isso, uma trajetória incompleta e exposta a riscos futuros, tais como a contínua chantagem contra os países europeus que continuam a importar gás russo, o fim do acordo de circulação de gás ucraniano, uma eventual vitória de Trump nas presidenciais dos Estados Unidos, em novembro, ou a elevada volatilidade que é típica do mercado de GNL”, aponta a análise.
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Antes da guerra na Ucrânia, mais de 40% do gás natural importado pela Europa vinha da Rússia, o seu maior fornecedor individual, sendo que alguns países europeus dependiam da Rússia para mais de 80% do seu aprovisionamento de gás, com a Alemanha como maior cliente de gás russo em termos de volume, importando quase o dobro do volume de Itália, o segundo maior.
Em 2023, a Europa ainda importava, globalmente, 14,8% do seu abastecimento total de gás da Rússia, com 8,7% a chegar através de gasodutos e 6,1% sob a forma de GNL.
O estudo adverte ainda para a necessidade de abordar questões políticas fundamentais, num futuro próximo: “quais devem ser os papéis dos mercados e dos governos na gestão da economia do gás e na distribuição de recursos escassos? Se a segurança do fornecimento de gás faz agora parte da postura da Europa face à segurança geral de um continente interdependente, aberto e globalizado, o que é que isso significa para o estatuto das infraestruturas essenciais e das empresas energéticas? Que papel deverá a UE desempenhar na integração do mercado europeu do gás e na resolução das desigualdades de distribuição e das respostas de políticas fiscais protecionistas? E, finalmente, como é que tudo isto se insere na aliança transatlântica? A segurança energética deve fazer parte das competências da NATO e, em caso afirmativo, de que forma?”.
Este documento de estratégia (‘policy paper’) faz parte de uma série de seis artigos sobre a transição energética da Europa, que vão ser publicados até ao final de 2025.