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Na rua e nas redes sociais. Ucrânia lança novas campanhas para incentivar jovens a alistarem-se no exército

Com o escalar da ofensiva e a falta de soldados, Kiev tornou-se "criativo" no recrutamento. O Ministério criou apps e plataformas de emprego e as brigadas põem cartazes na rua e vídeos no Youtube.

Civis ucranianos realizam treinos militares voluntários nos arredores de Kiev, na preparação de um corpo paramilitar que irá apoiar o exército ucraniano em caso de invasão por parte da Rússia
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O exemplo mais bem sucedido de publicidade é a 3ª Brigada, uma unidade voluntária de elite

Pacific Press/LightRocket via Ge

O exemplo mais bem sucedido de publicidade é a 3ª Brigada, uma unidade voluntária de elite

Pacific Press/LightRocket via Ge

Terminou esta terça-feira o prazo para todos os homens ucranianos entre 25 e 60 anos se alistarem ou renovarem os seus dados na base das Forças Armadas. Mas o patriotismo que, em fevereiro de 2022, formou filas de ucranianos ansiosos para lutar pelo país à porta dos centros de recrutamento esmoreceu ao longo de quase dois anos e meio de uma guerra desgastante e sem fim à vista. Com a moral em baixo e fileiras diminuídas, Kiev tem encontrado nas redes sociais e no “poder de escolha” dos civis novas formas de recrutamento.

No início deste ano, os soldados ucranianos relatavam que o estado de espírito das tropas estava em baixo e que as únicas filas que se formavam à porta dos centros das Forças Armadas era para pedir documentos de isenção do serviço militar. A Rússia tinha ocupado quase um quinto do seu território e os números ucranianos não eram suficientes para fazer frente à ofensiva do Kremlin.

Para combater esta realidade, Kiev apertou a lei marcial e o recrutamento. Em abril, Volodymyr Zelensky promulgou o documento que baixou a idade de serviço obrigatório, dos 27 para os 25 anos, e obrigou todos os homens abaixo dos 60 anos a renovar os seus alistamentos. No mês seguinte, foi aprovada a mobilização de presos por crimes não graves, em troca de amnistia.

A par destas medidas, o Ministério da Defesa ucraniano alterou a sua campanha de recrutamento, focando-se na “liberdade de escolha dos recrutas”. Desde fevereiro, começaram a abrir novos centros especializados em diferentes áreas das Forças Armadas, medida que esperam estar concluída até ao fim do ano. Para além destes centros, o alistamento passou ainda a poder ser feito de forma digital, através de um site ou até de uma aplicação — como lembra o Ministério através de uma publicação no Facebook na véspera do fim do prazo para este registo.

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“As pessoas que agora vêm defender o nosso país não são pessoas que escolheram o exército como carreira, são civis. E os civis estão habituados a poder escolher”, explicou a ministra adjunta da Defesa, numa entrevista à Reuters, em abril. Natalia Kalmykova argumentou que manter esta possibilidade de escolha, a que os civis estão habituados era uma forma de tornar o alistamento mais atrativo.

O Ministério da Defesa aliou-se então a plataformas de procura de emprego, em que os recrutas se podem candidatar às vagas das Forças Armadas em que preferem fazer o serviço militar, de uma forma fácil de utilizar e à qual estão habituados. O CEO de uma destas empresas, a Lobby X relata que a parceria tem sido bem sucedida: registaram mais de 100 mil candidaturas a 5.000 vagas em 640 unidades.

As vagas mais populares são as que não exigem combate, como especialistas de tecnologia, cozinheiros, administrativos e assessores de imprensa. Operadores de drone também são populares, ao contrário de soldados rasos, que são as vagas com menos candidaturas. “Queremos oferecer a possibilidade de um soldado escolher o seu próprio destino”, partilha Vladyslav Greziev, em entrevista ao The Guardian.

Mas com a disparidade na popularidade dos diferentes cargos, as unidades ucranianas começaram a lançar as suas próprias campanhas publicitárias. Estas campanhas podem ser online, mas também em cartazes na rua. Um cartaz em Kiev, descrito pelo jornal britânico, mostra um soldado de pé na areia, comandando um drone, com as palavras “Verão, UAV [veículos não tripulados]”, apresentando o alistamento como um plano de verão.

Num outro cartaz lê-se “Sê tu mesmo!”, num eco do apelo governamental à “liberdade para escolher”. Um terceiro cartaz, assinado pela Brigada Khartia, promete “60 dias de preparação” antes dos combates. Antes do verão, a 93.ª Brigada das Forças Armadas já tinha lançado uma campanha em vídeo, em que um chef e um condutor de tratores se tornam cozinheiro e condutor de tanques no exército, sob o lema “Todos conseguem fazê-lo!”.

O sucesso dos “heróis” da 3.ª Brigada

O caso mais proeminente entre as brigadas que lançaram as suas próprias campanhas é a 3.ª Brigada de Assalto Separado. A unidade voluntária foi formada e começou a combater no final de 2022, início de 2023, fundada a partir de antigos combatentes do Batalhão de Azov, que ganharam a fama como “os heróis de Mariupol”, durante o cerco russo à fábrica de Azovstal, no início da ofensiva.

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No último ano e meio, a 3.ª Brigada marcou presença na batalha de Bakhmut e na libertação de Kherson e, poucos meses depois, na libertação de Andriivdka, ainda que a cidade tenha acabado por ser tomada novamente pelos russos.

Para além dos “resultados impressionantes” em batalha, esta Brigada tem também uma presença assinalável nas redes sociais, onde somam milhares de seguidores. No Youtube, acumulam 1,23 milhões de subscritores e publicam longos vídeos em que captam as suas incursões no terreno e combates com as forças russas, do ponto de vista dos soldados, que explicam as suas operações.

As semelhanças estéticas destes vídeos a um videojogo de guerra são replicadas no site, onde apresentam a sua missão e as biografias do comandantes e dos restantes combatentes da Brigada, quase como personagens. Na página, é ainda possível encontrar um formulário de inscrição, para o alistamento direto na unidade de elite.

Um dos “sortudos” que conseguiu lugar na 3.ª Brigada, numa posição operacional que o manterá longe da linha da frente, é Bohdan. O jovem, que falou mesmo da sorte por ter conseguido a vaga, diz ter apreciado o processo de recrutamento, em que teve a possibilidade de conhecer os comandantes, numa entrevista ao The Guardian publicada esta terça-feira.

Bohdan, que preferiu não dizer o apelido, admitiu que a admiração por esta unidade surge da sua campanha e ainda de um documentário que viu recentemente: We Were Recruits. Depois de ter visto o filme com os amigos, revelou que todos desejavam juntar-se à 3.ª Brigada.

Apesar de o prazo para alistamento só ter terminado esta terça-feira, as novas campanhas de recrutamento ucranianas parecem já estar a surtir efeito. Numa nota enviada à Reuters esta semana, que não contém números concretos, o exército ucraniano declara que a taxa de alistamento duplicou em maio e junho, quando comparada com os dois meses anteriores.

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