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A fadista portuguesa Mísia morreu este sábado, aos 69 anos. A notícia foi avançada nas redes sociais pela jornalista Fernanda Mestrinho e pelo escritor Richar Zimler, e confirmada pelo Observador junto de um amigo de longa data que a estava a acompanhar no hospital onde se encontrava internada, em Lisboa. A mesma fonte adiantou que um comunicado formal será divulgado no domingo pela agência de Mísia.
A cantora, que pisou os mais variados palcos pelo mundo durante a longa carreira, “faleceu pacificamente, sem dores”, na sequência de “doença prolongada”. Ao longo dos últimos anos, a fadista tinha vindo a lutar contra vários cancros, algo que foi partilhando em várias entrevistas.
“Morreu, aos 69 anos, a Mísia. Silêncio, pois, que ela cantava o Fado magistralmente”, escreveu a jornalista Fernanda Mestrinho na rede social X (antigo Twitter). “Estou desolado, pois a minha velha amiga, a cantora Mísia, acabou de nos deixar. Partiu em paz, docemente, sem dores. Gostei tanto dela”, sublinhou o escritor Richard Zimler numa publicação no Facebook.
E morreu, aos 69 anos, a Misia…
Silêncio, pois, que ela cantava o Fado magistralmente.
O Estado francês percebeu e condecoroua https://t.co/8KRmZi0VVL— Fernanda Mestrinho (@FernandaMestri5) July 27, 2024
Sérgio Godinho também recorreu às redes sociais para se despedir: “Brava Mísia! A morte espreita-nos sempre da esquina da rua. E no caso dela entrava como se fosse da casa. Muito ela lutou contra o grande mal, de várias formas. Mas fale-se da vida dela, e sobretudo da sua ousadia permanente, um traço de caráter criativo e nisso inigualável.” Recordando várias colaborações entre os dois — escreveu para ela o “Liberdades Poéticas” e uma letra para um tema do Carlos Paredes, de “Os Verdes Anos” — lembrou que a artista sempre o interpelava.
“Era intrépida pela forma como se atirava a novos projetos, muitas vezes de figurinos diferentes, sem medo de errar, de ‘fazer diferente. Uma intrépida na vida e na criação. Gostava muito disso, gostava muito dela”, acrescentou Sérgio Godinho.
A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, também já reagiu à notícia da morte da fadista. “Com uma vasta carreira, Mísia foi uma voz fundamental na renovação do fado, sem receio de experimentar novas sonoridades e abordagens menos convencionais” sublinhou num comunicado. “Deixa-nos uma vasta lista de colaborações com músicos de todo o mundo, que demonstra a sua versatilidade e o seu talento”, refere ainda a titular da Cultura que apresenta “aos seus familiares, amigos e admiradores”, “as mais sentidas condolências.
Mísia, nome artístico de Susana Maria Alfonso de Aguiar, nasceu em 1955 no Porto, onde viveu até à sua adolescência. Foi nessa cidade que se foi estreando em casas de fado, tendo-se mudado mais tarde para Espanha, onde começou a sua carreira musical e adotou o nome Mísia.
A fadista editou o primeiro álbum, em nome próprio, em 1991, já depois de regressar a Portugal, como se pode ler na sua biografia do Museu do Fado. A esse seguiram-se, em 1993, “Fado” e, mais tarde, em 1998, “Garra dos sentidos”, distinguido com o Prémio Charles Cross, em França.
Os seus mais recentes discos são o Pura Vida (2019) e Animal Sentimental. Este último editado em 2022 e lançado em conjunto com um livro, uma espécie de autobiografia, onde a fadista passou em revista vários episódios da sua vida, desde a luta contra o cancro ao casamento em que foi vítima de violência.
“O que decide, realmente, para mim, é sentir. Por isso é que este disco se chama Animal Sentimental. Porque sentir foi o que me salvou em todas as fases difíceis da minha vida. Por isso realço sempre esta capacidade de me fazer sentir, que eu encontro num poema ou noutro”, dizia num vídeo publicado aquando o lançamento do primeiro single do disco “Da vida quero os sinais”.
Ao longo da sua carreira, Mísia arrecadou inúmeras distinções, entre elas a Ordem de Mérito Civil em Portugal e a Ordem das Artes e Letras de França. Também recebeu Prémio Gilda no 33.° Festival Cinema e Donne, em Itália, pela sua participação no filme “Passione”, realizado por John Turturro. Em 2012, recebeu o Prémio Amália Rodrigues na categoria Divulgação Internacional.