Óscar Figuera, secretário-geral do Partido Comunista Venezuelano, não compreende como os seus camaradas portugueses do PCP emitiram um comunicado a saudar a eleição de Nicolás Maduro como presidente. “Atrevo-me a fazer-lhes [ao PCP] a seguinte pergunta: acham que conhecem a Venezuela melhor que nós?”, questiona-se, em declarações ao Observador, o homem que lidera os comunistas venezuelanos desde 1996.

O dirigente comunista expõe em seguida uma série de outras perguntas dirigidas ao partido liderado por Paulo Raimundo, e que mostram a sua perplexidade pelo apoio do PCP ao regime venezuelano: “Sabem como os trabalhadores e os sindicalistas que reclamam os seus direitos são presos? Sabem que os sindicatos não podem realizar as suas eleições porque (Nicolas Maduro) interveio judicialmente, porque o governo não tinha possibilidade de vencer junto dos sindicatos? Se eles sabem que se está a destruir parte da Amazónia como consequência da forma como se exploram as minas neste país? Se eles sabem que não se respeita a Constituição nos processos (judiciais), e que se incrimina quem o Estado considera que está a cometer um delito político?…”

Num tom de alguma perplexidade e indignação, Óscar Figuera completou: “Vale a pena perguntar-lhes se sabem tudo isso. E em consequência, se o nosso ‘partido irmão’ está a privilegiar a situação do governo da Venezuela na geopolítica e não vê o que se está a passar com a classe trabalhadora e o povo venezuelano às mãos de um governo burguês”.

As críticas do líder dos comunistas venezuelanos foram feitas depois de deixar claro que respeita as posições de cada partido comunista: “Entendemos que cada partido comunista tem a sua leitura da realidade mundial e a partir dessa leitura define a sua posição”. E referiu-se especificamente ao PCP e à sua História: “Temos grande apreço pela história do Partido Comunista Português. Sabemos que o PCP considera que a Venezuela está num processo revolucionário, que tem um presidente com uma política patriótica, o que não é verdade porque o governo está a entregar a riqueza do país às grandes empresas internacionais”.

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[Já saiu o primeiro episódio de “Um rei na boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor.]

Contactado pelo Observador, o PCP não quis comentar estas declarações do líder dos comunistas venezuelanos. Vários políticos comunistas têm mostrado desde segunda-feira indisponibilidade para aceitar convites da Rádio Observador para debater a situação na Venezuela.

“Quem grita ‘Bingo!’ tem de apresentar o bilhete”

O Partido Comunista Venezuelano (PCV) esteve alinhado com Hugo Chávez, e também com Nicolas Maduro, até 2020. O Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela destituiu a direção partidária e nomeou uma nova mais alinhada com o regime. Nestas eleições os comunistas venezuelanos declararam apoio a outro candidato.

Óscar Figuera não acredita nos resultados anunciados que deram a vitória ao atual presidente. O dirigente comunista explica que a “transmissão de informação entre as mesas eleitorais, o Conselho Nacional Eleitoral e os delegados, especialmente das forças da oposição” deixou de ser feita a partir do momento em que as mesas de voto fecharam, e que as atas não foram entregues para verificação dos resultados.

Acusa o Conselho Nacional Eleitoral de acatar ordens diretas do governo e reforça a necessidade de serem apresentadas as várias eleitorais, ironizando: “Quem grita ‘Bingo’ tem de apresentar o bilhete”.

PCP saúda a eleição de Maduro e condena a reação do Governo português