“O movimento de resistência islâmica anunciou a designação do dirigente Yahya Sinwar na liderança do gabinete político do movimento.” O comunicado do Hamas colocava um ponto final na incógnita sobre quem iria substituir Ismail Haniyeh, que morreu num ataque em Teerão na passada quarta-feira. O escolhido é conhecido como o cérebro do ataque de 7 de outubro, o mais devastador contra Israel em décadas, e que provocou um escalar do conflito em Gaza.
Segundo a Reuters, Sinwar nasceu num campo de refugiados na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza, tem atualmente 61 anos, e foi eleito líder do Hamas em Gaza em 2017, numa altura em que foi considerado um executor e inimigo implacável de Israel — ficou até encarregado de eliminar os palestinianos suspeitos de colaborar com Israel.
Depois de terem sido eliminadas duas daquelas que são consideradas as três “cabeças de serpente” do Hamas — Mohammed Deif, líder militar em Gaza, e Ismail Haniyeh, líder político que estava exilado no Qatar e que era responsável pelas relações internacionais — sobrava Yahya Sinwar, o líder político do grupo islâmico na Faixa de Gaza que estará escondido em túneis. Agora, quando já era o mais influente responsável vivo do Hamas, torna-se um superpoderoso líder ao acumular a liderança política e militar do grupo islâmico.
O novo líder do Hamas passou boa parte da vida em prisões israelitas. A primeira vez que foi preso foi em 1982 por atividades islâmicas, voltou a ser detido em 1985 e quatro anos depois acabou mesmo condenado à prisão perpétua por quatro homicídios. E foi durante esses anos que se tornou fluente em hebraico.
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De acordo com a imprensa local, Sinwar chegou mesmo a fazer uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro. E 2011 foi um ano de mudança na vida de Sinwar porque foi um dos homens que regressou a Gaza durante a famosa troca de mil prisioneiros palestinianos pelo soldado Gilad Shalit.
Sinwar é um dos vários líderes do Hamas que têm mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por alegações de crimes de guerra cometidos no dia 7 de outubro. Além disso, em 2017 integrou a lista de pessoas consideradas terroristas pelos EUA. E é um dos homens que tem conseguido escapar a Israel, tendo em conta que o próprio ministro da Defesa do país, Yoav Galant, chegou a dizer que tinha os “dias contados”.