Há dez anos que Adam Britton, conhecido zoólogo britânico, cometia os crimes sem que ninguém percebesse. Agora, o académico da universidade de Darwin, especialista em crocodilos e famoso por apresentar programas da BBC e da National Geographic, foi condenado a dez anos e cinco meses de prisão. Confessou 56 atos de bestialidade e crueldade contra animais e foi dado como provado em tribunal que torturou, abusou sexualmente e matou mais de 42 cães.

“A sua depravação [de Adam Britton] está fora de qualquer conceção humana comum”, descreveu o juiz Michael Grant, do supremo tribunal do Território do Norte, na Austrália, na quinta-feira, ao ler a sentença.

Dos 42 cães de que abusou sexualmente nos 18 meses antes de ser detido, 39 acabaram por morrer, avança a BBC.

A descrição dos crimes de Britton (apenas os cometidos nesse ano e meio) foi de tal forma gráfica durante o julgamento, os detalhes dos crimes eram de tal forma “grotescos”, que o juiz aconselhou os presentes na sala de audiências a saírem com o receio de que tivessem um “choque nervoso”. O que, de facto, acabou mesmo por acontecer, com pessoas a abandonarem rapidamente a sala, e outras a chorarem e a precisarem de ser assistidas, conta o The Guardian.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O britânico de 53 anos filmava-se a torturar os cães bem como a praticar zoofilia (atos sexuais com animais) e depois publicava os vídeos na internet dando dicas de como fazer o mesmo. E foi precisamente num desses vídeos onde abusava de oito cães (sete eram cachorrinhos) que surgiu uma pista que acabaria por o desmascarar. Uma trela de cor laranja da Cidade de Darwin, onde o especialista em crocodilos residia há vinte anos. O vídeo foi entregue anonimamente às autoridades de proteção dos animais que acabaram por identificar Britton e a polícia deteve-o em abril de 2022. Nunca mais saiu da prisão porque os juizes entenderam que, em liberdade, continuaria a praticar os mesmos crimes.

Na quinta-feira o juiz Michael Grant considerou que os 56 crimes contra animais — e quatro crimes relacionados com o acesso e partilha de conteúdos de abusos sexuais infantis —, são de uma crueldade “grotesca”.

 As suas motivações foram da mais baixa e perversa espécie. Cada caso é um crime com a pena máxima. Não consigo imaginar nada pior”, declarou o presidente do Supremo Tribunal ao dirigir-se a Adam.

Na audiência foi lida uma carta onde Britton dizia que vai procurar tratamento, para além de explicar que nenhum amigo ou familiar sabia o que ele fazia e dava conta do seu alegado arrependimento: “Nenhuma palavra pode expressar o quão arrependido e envergonhado estou, nem desfazer o que fiz”.

Adam tinha uma “sala da tortura” — como a designou — onde torturava não só os seus cães como também os de outras pessoas.

[Já saiu o segundo episódio de “Um rei na boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no YouTube. Também pode ouvir aqui o primeiro episódio. ]

Segundo a acusação do Ministério Público, Britton possuía um “interesse sexual sádico” por animais pelo menos desde 2014, manipulando outros tutores de cães para ficar com eles. O zoólogo recorria à Gumtree Australia, plataforma de comércio online para encontrar pessoas que muitas vezes doavam os seus cães ou precisavam de alguém que tomasse conta deles enquanto viajavam.

“Os neus cães são família e eu tenho os meus limites. Só maltrato os cães dos outros. Não tenho qualquer ligação emocional com eles, são brinquedos pura e simplesmente. E há muitos mais de onde eles vieram”, confessou na conta de Telegram que utilizava para divulgar os vídeos e que, entretanto, já foi cancelada, assim como o seu Instagram.

Questionado sobre como fazia para descartar os restos mortais dos cães, Britton que tinha crocodilos na sua propriedade (onde chegou a receber o grande veterano naturalista britânico David Attenborough para este filmar um dos seus célebres programas) disse: “Dou-os aos outros animais (crocodilos) para comerem“.

À porta do tribunal dezenas de manifestantes apelavam a que a condenação fosse a pena de morte e alguns criticavam a pena recebida por ser demasiado leve. É que Britton poderá sair da prisão dentro de quatro anos. Incluindo o tempo de pena já cumprido, pode ser elegível para sair em liberdade condicional em setembro de 2028, ficando apenas proibido de ter em sua posse qualquer mamífero para o resto da vida.