Agentes do Serviço Secreto revelaram que Donald Trump é o ex-Presidente com o maior destacamento de segurança da história. O facto de ter sido alvo de um uma tentativa de assassinato, de ser novamente candidato à Casa Branca e de ser uma figura pública altamente mediática exige um esforço extra da parte das autoridades, relatou este domingo o The Washington Post.

Os obstáculos na proteção a Donald Trump não são novos e começaram a surgir ainda antes da sua entrada na Casa Branca, em 2016. Mas a atual campanha do republicano evidenciou as dificuldades do Serviço Secreto em assegurar a sua proteção e obrigou a uma alteração. Fontes da campanha relataram ao jornal norte-americano que o destacamento de segurança se equipara agora ao que Trump teve enquanto foi Presidente.

A perceção dos republicanos é confirmada pelas novas medidas aprovadas pelas autoridades. Logo a seguir à tentativa de assassinato, no dia 13 de julho, o Serviço Secreto reconheceu que este tinha sido “o maior falhanço” da sua histórica. Na sequência do ataque, solicitaram à equipa de Donald Trump que evitasse realizar novos comícios ao ar livre e se limitasse a eventos em espaços fechados.

Serviço Secreto desencoraja comícios de Trump ao ar livre depois de tentativa de assassinato

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Na passada quinta-feira, foram conhecidas novas medidas. Em eventos ao ar livre, o candidato republicano à Casa Branca passará a usufruir de um vidro à prova de bala à sua frente, uma medida que habitualmente está reservada a presidentes e vice-presidentes, avançou a ABC News. Para além disso, o Departamento de Defesa foi chamado a colaborar com o Serviço Secreto, o que também não é habitual em campanhas eleitorais.

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A estas medidas soma-se o destacamento de agentes da Proteção do Presidente, um ramo do Serviço Secreto que se dedica à proteção do presidente em funções, para as campanhas de Donald Trump e Kamala Harris. Esta medida é possível uma vez que Joe Biden tem feito muito poucas viagens durante o último mês, permitindo que alguns agentes do seu destacamento pessoal sejam colocados noutras posições sem comprometer a segurança do Presidente, adiantou o The Washington Post, na passada sexta-feira.

Estas medidas não seriam dignas de nota se se tratasse da campanha de Kamala Harris: a candidata democrata teria sempre direito a esta proteção acrescida na qualidade de vice-presidente dos Estados Unidos. O que assinalável é o facto de estas medidas estarem a ser estendidas a Donald Trump. Ao mesmo jornal, agentes e antigos agentes do Serviço Secreto revelaram que os pedidos da sua equipa para aumentar o destacamento de segurança começaram bem antes do tiroteio em Butler, no dia 13 de julho. Alguns oficiais disseram mesmo que o Serviço Secreto estava “frustrado” com “o pesadelo” que eram os pedidos dos republicanos.

Um histórico atribulado entre o Serviço Secreto e Donald Trump

O primeiro momento de tensão surgiu em 2016, quando Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos. Na altura, o Serviço Secreto gastou vários milhões para proteger a sua residência de Nova Iorque, a Trump Tower. Porém, pouco depois, Trump deixou de a usar com tanta regularidade, passando a preferir a sua residência em Mar-a-Lago, na Florida.

Outro momento de tensão surgiu precisamente por causa desta propriedade. Em 2021, a equipa de Trump solicitou vários milhões para atualizar o plano de proteção do resort, fundos que foram entregues apenas de forma parcial pelo Serviço Secreto. Numa outra discussão, o Serviço Secreto apontou que a insistência do ex-Presidente em jogar golfe sozinho todos os dias, nos campos de Mar-a-Lago, a que todos os hóspedes têm acesso, o deixava particularmente exposto e dificultava o trabalho dos agentes no seu destacamento.

Também nas suas deslocações, Donald Trump conta com “muitos mais veículos que o antigo presidente Barack Obama”, notam oficiais do Serviço Secreto. Mas se causa tantos transtornos, por que é que Trump continua a ter direito a mais segurança que os seus antecessores? Os mesmos oficiais reconhecem que o estatuto de Trump o coloca num patamar diferentes de outros ex-Presidentes. Isto porque muito antes de ter subido à Casa Branca, Donald Trump já era uma figura pública e realizava múltiplos eventos, algo que manteve durante e após a passagem pela presidência. A sua insistência em manter um perfil mediático, exige um esforço correspondente por parte do Serviço Secreto, a quem cabe proteger todos os ex-Presidentes.

Bill Gage, que fez parte das equipas de proteção de Barack Obama e George W. Bush, argumenta ao jornal norte-americano que algumas decisões de Trump durante a presidência também contribuem para este aumento. “Trump matou Soleimani, por isso a ameaça iraniana é algo completamente diferente de lidar. É uma ameaça ativa por parte de um Estado“, notou Gage. A ameaça iraniana, tanto de ataques ao republicano como à sua campanha, tem-se feito sentir durante os últimos meses.

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Para além das ameaças externas, o ex-agente nota ainda ameaças internas, devido à retórica populista utilizada pelo candidato republicano, que leva ao extremar de posições políticas. “É um ambiente em que as pessoas literalmente odeiam líderes políticos de outros partidos. Trump alienou metade do país. Não quero ser político, mas é a realidade”, rematou Gage.

Contactadas pelos vários media norte-americanos, tanto a equipa de Trump como o Serviço Secreto recusaram comentar as novas medidas e as acusações anónimas dos agentes sobre o “pesadelo” de proteger o ex-Presidente. Ambas as partes declararam que, por motivos de segurança, não comentavam publicamente as novas medidas.

*Editado por Cátia Andrea Costa