Passaram-se 16 minutos desde o momento em que os fortes ventos e ondas começaram a atingir o iate Bayesian e até que este se afundou, causando a morte de sete pessoas. E é esse período de tempo — esses 16 minutos que poderiam ter sido cruciais para tomar precauções e tentar salvar vidas — que está a fazer com que a tese de que uma série de erros humanos deram a esta tragédia proporções muito maiores do que poderia ter tido ganhe força junto dos investigadores responsáveis pelo caso.
A Sky News já tinha avançado, nesta sexta-feira, que os procuradores do Ministério Público italiano estão no local no naufrágio, perto da costa de Palermo, na Sicília a reunir provas para uma potencial investigação criminal, que poderá levar a acusações de homicídio involuntário. Agora, o La Reppublica relata que foi logo pelas 3h50 da manhã de segunda-feira, 16 minutos antes do momento em que o iate se afundou, que se começaram a sentir os sinais de aviso que poderiam ter dado “tempo de sobra” à tripulação para tomar as cautelas necessárias.
Segundo o relato do jornal, que cita fontes da investigação, às 3h50 o iate lançou ao mar a sua âncora, uma vez que já estava a ser atingido por rajadas de vento superiores a 100 quilómetros por hora. Tendo falhado a ancoragem, passou a andar à deriva das ondas e do vento. Por essa altura, ainda a tripulação estava toda no convés, “exceto talvez o cozinheiro”.
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Para os investigadores, esse período teria chegado para que se tomassem medidas preventivas. “Foi um agravamento rápido mas progressivo das condições do mar e do vento que culminou na tromba de água” , diz uma fonte da investigação ao La Reppublica. Ou seja, para procuradores, a frase curta que o comandante, James Cutfield, foi repetindo enquanto era tratado no hospital — “não previmos que ia acontecer” — não serve de explicação. Sobretudo porque o veleiro holandês mais pequeno que estava localizado a trezentos metros do Bayesian também foi apanhado pela tempestade e saiu ileso.
Ou seja, até ao momento em que o iate de 56 metros e três pisos se afundou, em menos de um minuto, já tinha passado mais de um quarto de hora que pode ter sido crucial para o desfecho do iate. O jornal acrescenta, por isso, que o Ministério Público italiano está cada vez mais convencida de que a causa do desastre é na verdade uma “cadeia muito longa de erros humanos”, a somar a uma subestimação das condições meteorológicas. Também Giovanni Costantino, diretor-executivo do The Italian Sea Group — que constrói estes barcos — já veio sugerir que existiu erro humano, acusando a tripulação a bordo do barco de não estar em estado de alerta após ter garantido que este tipo de embarcação é “inafundável”.
Os resultados são conhecidos: o iate, que seguia cheio — tinha capacidade para 22 pessoas, sendo 12 delas passageiros e 10 tripulantes — afundou-se depois de ser atingido por uma forte tromba de água, tendo uma grande quantidade de água entrado no iate pela popa ou pela proa, o que terá provocado que o casco se inclinasse e a embarcação se afundasse. Sete dos passageiros não sobreviveram, tendo os seus corpos sido recuperados ao longo desta semana.