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Joias da rainha Maria Pia regressaram a casa: as três novas aquisições em exposição no Museu do Tesouro Real

Joias que tinham sido leiloadas em 1912 foram adquiridas pelo Palácio da Ajuda em 2023. Dois conjuntos de colar e brincos e uma pulseira estão agora expostos ao público no Museu do Tesouro Real.

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As salas do Museu do Tesouro Real estão mergulhadas em profunda escuridão, deixando sobressair os elementos que estão iluminados no interior das vitrinas. Numa manhã de quarta-feira em agosto, na primeira sala um grupo de turistas com uma guia que fala espanhol demora-se longamente na vitrina onde estão as joias que pertenceram a vários membros da família real. Logo ali ao lado estão ordens honoríficas e uma série de referências ao período em que a família real portuguesa esteve no Brasil, como por exemplo uma grande “pepita de ouro nativo” da segunda metade do século XVIII, que impressionou um casal de turistas que falava inglês. Mariana Fernandes faz visitas guiadas e tinha passado há pouco por aquela sala a conduzir um grupo com idades entre os quatro anos e a adolescência. Conta ao Observador que há poucas semanas teve de adaptar o seu guião para incluir três novas aquisições do museu. Trata-se de dois conjuntos compostos por colar e brincos e de uma pulseira que pertenceram a dona Maria Pia. Estas joias integraram os lotes do famoso leilão de peças privadas da rainha em 1912, voltaram a casa (o Palácio da Ajuda) no ano passado e podem agora ser vistas pelo público.

O acervo do Palácio Nacional da Ajuda conta com um grupo de “joias da coroa” que eram propriedade do Estado e estavam reservadas aos soberanos em funções, mas conta também com “dezenas de objetos de joalharia que foram propriedade privada de soberanos e membros da família real portuguesa entre os séculos XVII e XX”, pode ler-se numa das paredes do museu. As novas joias em exposição eram peças particulares da rainha dona Maria Pia que foram adquiridas pelo Estado português em 2023 para integrar o acervo do Palácio da Ajuda – Museu do Tesouro Real.

O conjunto de colar e brincos em ouro, turquesa e ágata encontra-se no seu estojo original, tem estética neoclássica, data da primeira metade do século XIX e chegou à então princesa de Saboia como uma herança por parte da tia-avó paterna, Maria Luisa da Toscana. As peças integraram o conjunto de 68 joias que trouxe consigo de Itália para Portugal em 1862, quando se casou com o rei D. Luís. No ano passado foram adquiridas pelo Estado a um colecionador particular por 35 mil euros.

O meio-adereço, conjunto de colar e brincos em ouro, turquesa e ágata, que dona Maria Pia recebeu de herança © Francisco Romão Pereira

Há um outro conjunto, este composto por um pendente e um par de brincos em prata, ouro e diamantes, da segunda metade do século XIX. Foi adquirido pelo Estado a uma leiloeira por 17.099,60 euros. Cada um destes dois conjuntos é, tecnicamente, um meio-adereço. O nome significa que é considerado um conjunto de peças inacabado, ou seja um adereço contaria com três joias. Há ainda uma pulseira em ouro, safiras e diamantes, feita em Paris no terceiro quartel do século XIX pela joalheira Caillot & Peck. Foi adquirida pelo Estado a uma leiloeira por 8.549,80 euros e acredita-se que fazia parte de um conjunto de peças com pedras de outras cores, como rubis e esmeraldas. O valor total destas três aquisições em 2023 foi de 60.649,40 euros.

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Mariana Fernandes faz visitas guiadas “desde o pré-escolar à universidade sénior e até a lares”, descreve a própria e, claro, a visitantes estrangeiros. Conta ao Observador que há muitos visitantes franceses ansiosos por ver a baixela de François-Thomas Germain, de quem quase não existem peças em França, enquanto no Museu do Tesouro Real há uma baixela quase completa. Contudo, para o público em geral, o primeiro piso é o mais atraente, “porque tem mais detalhes, porque tem mais peças, porque brilha mais”. É também na primeira sala que a visita se estende no tempo, há mais histórias e História para contar e este membro do serviço educativo do museu chama a atenção para as joias novas, explicando o que é uma peça da coroa e uma peça particular.

Fala também de dona Maria Pia, por quem não esconde um certo fascínio e admiração e usa “as peças para falar do gosto dela, como gostava de moda”. Gostava de artes decorativas em geral, mas era uma seguidora de tendências de moda e joalharia. “Queria o melhor, porque era a rainha e sabia a importância de ter peças de qualidade. E tudo o que tem, tem um significado”, explica Mariana Fernandes. “As serpentes românticas de D. Luís, as joias de caça, as joias portuguesas, as joias de luto, as estrelas sempre, porque era a moda do século XIX, o coral de Nápoles, a anunciação que é a ordem honorífica da família de Saboia.” O gosto da rainha por joias também a levou a desfazer peças já existentes para criar novas, mas guardava tudo, o que viria a permitir remontar e recuperar algumas peças mais tarde.

O meio-adereço, conjunto de pendente e um par de brincos em prata, ouro e diamantes e ainda a pulseira com safiras © Francisco Romão Pereira

A princesa Maria Pia de Saboia chegou a Portugal com catorze anos para casar com o então rei D. Luís e se tornar rainha. Fez do Palácio da Ajuda a sua casa e a da família real. Aos 16 teve o herdeiro, o futuro rei D. Carlos, e viria a nascer também o segundo filho, o príncipe Afonso. Era filha do Rei Victor Emmanuel II, o soberano unificador da Itália, e trouxe consigo a herança de uma das famílias reais mais importantes da Europa. Com a morte do rei D. Carlos e do herdeiro em 1908 a monarquia portuguesa viria a durar apenas mais dois anos. Quando em 1910 a família real foi para o exílio, Maria Pia regressou à sua Itália natal onde viria a morrer no ano seguinte. Diz quem estudou a sua vida que era uma mulher dinâmica e com uma mentalidade à frente do seu tempo.

As joias que agora se juntam à exposição estão na primeira sala do museu e é preciso procurá-las na grande vitrine de peças ornamentais da família real, já que estão enquadradas entre o espólio já existente. Estão bem próximas uma série de joias que integram um conjunto de 33 peças oferecidas pela cidade de Roma como presente de casamento. E a inspiração no design não engana com uma série de referências à antiguidade clássica. Há uma coroa de louros e moedas gregas e romanas originais. Mariana Fernandes explica que a museografia do museu é da responsabilidade da Providência Design, a empresa que trata da organização das peças, luzes e legendas entre outros aspetos, e, em conjunto com o Palácio da Ajuda fazem a montagem. Foi necessária uma noite para instalar as novas residentes da exposição de joias e elas podem ser vistas pelo público desde o passado dia 21 de julho.

Estas peças tinham-se dispersado na sequência do famoso leilão de bens da rainha que teve lugar entre 24 e 31 de julho de 1912. Cerca de 400 joias e pratas da coleção privada de dona Maria Pia que estavam depositadas no Banco de Portugal como garantia de empréstimo foram leiloadas no ano seguinte à sua morte num evento que terá sido bastante mediático na época. No arquivo do Banco de Portugal há um documento com um “resumo das vendas realizadas para liquidação do penhor do empréstimo 447”. Como resultado, os bens da antiga rainha de Portugal encontraram novos donos. “E muitas peças saíram do país, no leilão. Todos sabiam que dificilmente ficariam Portugal, do jeito que estava – por essa mesma razão realizou o leilão, para abastecer essa nova república – não teria condições de manter muitas peças aqui.”

No caso das joias de dona Maria Pia, com tantas dezenas de peças dispersas, não há o objetivo de recuperar todas. Quando surge uma oportunidade, a aquisição é ponderada e é feita uma triagem, como em tantos outros museus e também como em caso das doações. É preciso perceber se as peças são importantes e valiosas, se já há peças semelhantes, se são relevantes para a história que o museu está a contar e para a coleção. Porque o espaço é limitado e o orçamento também. Há um fundo do Estado para a aquisição de peças. Para estas joias de dona Maria Pia foi suficiente. Por exemplo, para a tiara que pertenceu à rainha Dona Maria II que foi a leilão na Christie’s em Genebra em 2021, o orçamento que o Palácio da Ajuda estava disponível para gastar não foi suficiente para trazer a joia com diamantes e safiras para Portugal.

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