Uma habitante de Royton, no Reino Unido, procurava a sepultura de dois irmãos gémeos, quando se deparou com “uma revelação desoladora”: uma vala comum com 303 corpos, sendo que 146 são nados mortos, 128 são bebés e crianças pequenas e 29 são adultos.

As mais de três centenas de corpos estavam enterrados no cemitério desta cidade da área metropolitana de Oldham, num quadrado de 3,6 metros, e não é a única neste local, nem no país, escreveram Maggie Hurley e Jade Hughes, vereadores locais, num comunicado divulgado no Facebook.

Aliás, adianta o jornal britânico The Times, foram também descobertos restos mortais de bebés nados-mortos em Lancashire, Devon, Middlesbrough e Huddersfield nos últimos 2o anos.

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Este facto justifica-se com uma prática do país até meados do anos 80 do século passado: os nados mortos e recém-nascidos eram sepultados depois de serem retirados dos pais sem que estes tivessem qualquer intervenção nos arranjos para o funeral ou fossem informados do local onde os filhos tinham sido enterrados, informa a Sands, uma organização que lida com estes casos, citada pela Sky News.

Aos pais era dito para “esquecerem” referiu, em 2015, o Instituto de Gestão de Cemitérios e Crematórios. Havia uma “convicção generalizada, tanto entre os profissionais como na sociedade em geral, de que era melhor continuar como se nada tivesse acontecido”, explica a Sands.  Os pais “poderiam ser desencorajados a falar ou a recordar o seu bebé e a expressar o seu pesar”, recorda a organização.

Já a BBC acrescenta que o “pessoal médico dizia aos pais enlutados que os filhos seriam enterrados ao lado de ‘uma pessoa simpática’ que seria sepultada nesse mesmo dia“. Mas, em vez disso, os bebés eram enterrados em valas comuns.

A residente de Royton não quis esquecer. Em 1962, os seus pais nunca tiveram oportunidade de ver, segurar ou despedir-se dos filhos — um era um nado-morto e o outro tinha morrido cinco horas após o nascimento — contou aos vereadores. E decidiu ir à procura dos dois gémeos depois de ler a história de Gina Jacobs que em 2022 encontrou o filho enterrado numa vala comum num cemitério de Wirral.

Solidários com a consternação desta mulher, os vereadores manifestaram em comunicado o seu desagrado com a “injustiça que é a negação do direito fundamental dos pais de enterrar os seus bebés”, realçando ainda que diante de uma situação como esta é preciso “sentido de justiça e empatia”.

Nesse sentido, no dia 11 de setembro vai ser discutida em reunião autárquica uma proposta para erguer um memorial em nome dos que foram enterrados nesta vala comum.

“Não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos garantir que os bebés que nasceram a dormir sejam nomeados, reconhecidos e nunca esquecidos”, escreveram os vereadores.

Mas, e os 29 adultos? A BBC diz que se presume que sejam os chamados “enterros de indigentes”, pessoas cujas famílias não podiam pagar o funeral.