Não era aquela medalha esperada, era mais uma medalha possível. Sandro Baessa entrava na final dos 1.500 metros T20 com o quarto registo, quase como se estivesse destinado a terminar naquela que é a posição mais cruel numa qualquer competição dos Jogos Paralímpicos. Não estava. Não estava e fez questão de mostrar que não estava com uma prova fantástica onde nunca andou na frente mas soube perceber da melhor forma quando deveria atacar para resgatar o pódio e acabou mesmo com a prata na manhã desta sexta-feira, naquela que foi a quinta medalha da Missão em Paris-2024 depois de dois ouros e de dois bronzes.

Com um pormenor curioso no arranque em que ficou na ponta de fora dos sete atletas presentes mas com a preocupação de “alertar” o italiano Ndiaga Dieng para a iminência do tiro de partida, o atleta do Clube de Futebol de Oliveira do Douro andou a primeira volta mais na cauda do grupo com o norte-americano Michael Branningan a vir rápido para a frente para marcar o ritmo tendo o britânico Ben Sandilands por perto e Dieng a ter de acelerar para não descolar em demasia do grupo que estava a ficar desenhado. Nem mesmo perante esse cenário Sandro Baessa alterou a estratégia que trazia, permanecendo com uma margem recuperável para o grupo da frente enquanto os restantes atletas começavam a ceder a partir dos 800 metros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na última volta, tudo mudou: Dieng quis atacar Branningan na frente a esticar ao máximo ainda longe do final, Sandilands saltou para a liderança num ritmo que lhe permitiria ganhar uma vantagem confortável para novo recorde mundial (3.45,40) e só mesmo em cima da linha de meta se percebeu a recuperação conseguida por Sandro Baessa, que atacou nos 200 metros finais perante uma dupla em quebra para resgatar a medalha de prata (3.49,46), à frente de Branningan (3.49,91) e Dieng (3.50,24). O português conseguiu estabelecer um novo recorde pessoal mais de três segundos abaixo da anterior melhor marca (3.52,84).

Sandro Baessa alcançou assim o melhor resultado da carreira aos 25 anos, depois de ter acabado a presença em Tóquio-2020 com um sétimo lugar nos 400 T20 e uma 12.ª posição nos 1.500 metros T20. O atleta natural do Porto, que tem Rui Pinto como treinador e ocupa nesta fase o quarto lugar do ranking mundial, já somara outros pódios internacionais em Mundiais, com prata em 2019 e 2024 e bronze em 2023.

Um quinto lugar, um bronze, o ouro: Miguel Monteiro sagra-se campeão paralímpico no peso (e ainda só tem 23 anos)

Está assim confirmada uma “viragem” naquilo que estava a ser um trajeto descendente na Missão nacional em Jogos Paralímpicos, com esta quinta medalha a ser o melhor resultado desde Pequim-2008 com sete pódios (contra três em Londres-2012, quatro no Rio-2016 e duas em Tóquio-2020). Em paralelo, Portugal não alcançava dois ouros desde Atenas-2004, quando somou mais cinco pratas e cinco bronzes. Miguel Monteiro no atletismo (ouro), Cristina Gonçalves no boccia (ouro), Diogo Cancela na natação (bronze) e Luís Costa no ciclismo (bronze) conseguiram as outras medalhas nesta edição de Paris-2024.

Duas décadas depois, o regresso às finais foi pintado com o segundo ouro: Cristina Gonçalves sagra-se campeã paralímpica de boccia