O Conselho de Ministros russo aprovou, esta sexta-feira, uma lista de 47 países com políticas que “impõem atitudes que contradizem valores tradicionais da Rússia”, de acordo com a RIA/Novosti. Portugal é um dos países que faz parte da lista, juntamente com países como Estados Unidos da América, o Reino Unido, a Alemanha e a Ucrânia.

Na nota divulgada pela agência estatal russa, lê-se apenas: “Lista de estados e territórios estrangeiros que aplicam políticas que impõem ideologias neo-liberais destrutivas e atitudes ideológicas que contradizem os valores espirituais e morais tradicionais da Rússia”.

Não é de agora que o regime liderado por Vladimir Putin se define como um defensor dos “valores tradicionais” especialmente a vertente “espiritual e moral”, argumento que tem mesmo utilizado como um dos motivos para os avanços em território ucraniano nos últimos anos.

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Num relatório sobre a sociedade russa publicado em 2022, são indicados cinco pontos na secção de valores tradicionais: a preservação e fortalecimento dos valores espirituais e morais, diversidade e união étnica e religiosa, proteção da família e da infância, educação patriótica e ainda a preservação do património histórico e cultural. Relativamente ao primeiro ponto, explicam que o conceito começou a tornar-se importante com a “expansão natural dos valores ocidentais” e a formação de uma “cultura consumista” em território russo.

Desde então, aumentou a aposta na fomentação destes valores através da sua incorporação em diferentes secções da constituição russa e em “documentos estratégicos de planeamento”, incluindo políticas culturais e planos de segurança nacional. Em 2021, os valores tradicionais foram estabelecidos como valores básicos na constituição e Putin instruiu o seu governo a financiar a produção de filmes infantis e visitas de estudo a cinemas com o objetivo de propagar estas ideologias para os mais novos.

Em 2022, sete meses após o início da operação militar na Ucrânia, o Presidente russo, durante a oficialização da anexação de quatro províncias ucranianas, disse à população que os valores ocidentais estão a tender para uma “transição radical”, onde existe a negação de normas morais, religião e costumes familiares. Adicionalmente, acusou o Ocidente de ser satânico e de serem os grandes destruidores dos valores tradicionais.

Em novembro do mesmo ano, foi aprovado o decreto “Fundamentos da política estatal de preservação e reforço dos valores espirituais e morais tradicionais russos”, com o intuito de incutir na legislação as ferramentas necessárias para garantir a “preservação e reforço” destas ideologias.

A mensagem russa tem sido clara: os valores ocidentais são evidentemente contrários aos valores tradicionais russos, quer seja pelo crescimento de laicizações dos governos, quer seja pelo aumento daquilo que é considerado a “agenda LGBTQ” — os grupos de defesa de direitos homossexuais são descritos por Putin como sendo uma organização extremista. De acordo com o líder russo, a Ucrânia estava a começar a entrar na órbita dos valores ocidentais, o que justificou a “libertação” dos russos étnicos dos territórios em “decaimento social” na Ucrânia.