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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, discursou esta sexta-feira em Nova Iorque, na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde defendeu a posição de Israel em Gaza e no Líbano e deixou críticas à ONU, ao TPI e à comunidade internacional. Porém, ainda antes de ter começado a falar, a maior parte das delegações internacionais já tinha abandonado o auditório em protesto.

Entre assobios e vaias, também foi possível ouvir um grupo mais pequeno a aplaudir Netanyahu. Perante esta situação, o presidente da 79ª Assembleia Geral, Philémon Yang, foi obrigado a intervir, exigindo silêncio, mas o chefe do governo israelita acabou mesmo por endereçar um auditório quase vazio.

O cenário não demoveu o chefe do governo israelita que afirmou, logo à partida, que decidiu discursar para “esclarecer as coisas”, depois de ter ouvido “mentiras e calúnias”. “Estamos a ganhar”, garantiu. “Não há lugar no Irão que o longo braço de Israel não possa alcançar e isso é verdade para todo o Médio Oriente”, ameaçou, apresentando dois mapas. Num, a negro, mostrou “a maldição” da influência iraniana. Noutro, a verde, mostrou “a bênção” da influência israelita.

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A dicotomia entre o bem e o mal, frequente nos seus discursos, ficou clara nesta intervenção. “Que escolha é que vão tomar? Vão apoiar Israel, a paz e a democracia? Ou vão ficar do lado do Irão, uma ditadura que apoia o terrorismo numa escala global?”, apelou Netanyahu, acrescentando que “numa batalha entre o bem e o mal, não podem haver equívocos”.

Como exemplo do pacifismo israelita, o primeiro-ministro focou-se na situação em Gaza, insistindo que Israel está a apenas a defender-se de “assassinos selvagens”, que só têm de se render para a guerra acabar, e comparando o Hamas às forças Nazi na Alemanha em 1945. Afirmou ainda que as IDF já mataram metade dos militares do Hamas e eliminaram mais de 90% do arsenal de rockets do grupo. Das críticas ao Hamas, passou para as críticas ao Hezbollah e a situação no Líbano.

“O Hezbollah é o prototípico grupo terrorista, tem tentáculos por todo o mundo, já afetou mais pessoas do que Osama Bin Laden”, acusou, utilizando como exemplo dos afetados, os 6 mil israelitas que abandonaram as suas casas no norte do país e invocando um cenário hipotético de comparação com o que aconteceria se fosse nos EUA. “Se fosse em El Paso ou em São Diego, os Estados Unidos toleravam este comportamento durante quanto tempo? Dias? Semanas? Meses? Nós aguentámos anos”, defendeu Netanyahu.

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Depois de ter defendido as posições militares de Israel, Netanyahu comentou as críticas, feitas ao longo desta semana, de que as Forças de Defesa de Israel (IDF) não se preocupam com vidas civis. “Fazemos muitos para minimizar [o número de] vítimas civis. Nenhum exército fez o que Israel está a fazer para minimizar as vítimas civis: lançamos panfletos, enviamos SMS, fazemos telefonemas para garantir que os civis palestinianos saem do caminho do perigo”, considerou, sem justificar as 41 mil mortes, de que são acusadas pelo Ministério da Saúde palestiniano.

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O primeiro-ministro israelita continuou, deixando inúmeras críticas. Aos manifestantes pró-Palestina, acusou-os de “confusão moral”. “Não se apercebem que apoiam os bandidos apoiados pelo Irão, em Teerão e em Gaza”, declarou. Ao Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, criticou o facto de não condenar “o massacre horrível de 7 de outubro”. E à ONU, acusou-a de continuar a “patrocinar a horrenda resolução para expulsar Israel”, numa referência à 147 resoluções do Conselho de Segurança aprovadas contra o país nos últimos 40 anos.

Netanyahu diz que a forma como o dedo está a ser apontado a Israel representa uma “mancha moral nas Nações Unidas”, tornando a instituição um “pântano de bílis antissemita”. “Que hipocrisia, que duplicidade de critérios, que anedota”, atirou, acrescentando que “até que Israel seja tratada como outras nações”, a ONU será vista como uma “farsa desdenhosa”.

As acusações de antissemitismo estenderam-se ao Tribunal Penal Internacional (TPI), criticando os mandados de detenção contra si próprio e o ministro da Defesa de Israel, “líderes democraticamente eleitos”. A acusação do TPI “é difícil de explicar de outra forma que não antissemitismo puro”. “Os verdadeiros criminosos de guerra não estão em Israel: estão no Irão, em Gaza, na Síria, Líbano, Iémen.”, afirmou Netanyahu. “Tenho uma mensagem para vocês: Israel vai ganhar esta batalha porque não temos escolha.”, rematou.

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A intervenção do chefe do governo israelita foi uma das mais longas no Debate Geral da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas — apenas o Presidente turco, Recep Tayip Eerdogan, falou durante mais tempo. Ainda assim, os familiares dos reféns israelitas em Gaza criticaram o facto de não ter apresentando passos concretos para o seu regresso. “Uma vez mais, o primeiro-ministro teve a oportunidade de apresentar parâmetros para um acordo. Uma vez mais, falhou em apresentar qualquer solução para se aproximar de um cessar-fogo”, afirmaram num comunicado.