O Gabinete Cibercrime da Procuradoria-Geral da República alertou esta quinta-feira para “um número muitíssimo expressivo” de chamadas telefónicas para destinatários em Portugal com “intuitos ilícitos”, alguns dos quais ainda por esclarecer.
“Os destinatários atendem telefonemas de números nacionais mas, do outro lado, ninguém responde”, menciona o alerta, revelando que o recebimento “das chamadas telefónicas mudas” tem sido muito frequentemente denunciado ao Ministério Público.
“Quando o destinatário da chamada a atende, não há resposta do outro lado, uns segundos depois a chamada cai”, relata o Gabinete, observando que caso o destinatário da chamada não a atenda e mais tarde a devolva, esta última é atendida por uma pessoa em território nacional, cliente de um operador nacional e verdadeiro titular daquele número forjado por ação dos agentes criminosos.
Ora, esta última pessoa “não efetuou a chamada em causa, nem sabe nada da mesma”, pois trata-se de uma consequência do “spoofing”: “O verdadeiro titular do número não tem qualquer conhecimento de que o seu número foi utilizado abusivamente para efetuar uma multiplicidade de chamadas”.
O Gabinete Cibercrime refere que “não se conhecem ainda cabalmente os contornos desta atividade delituosa”, mas “há já suficiente informação para permitir concluir que este tipo de telefonemas (mudos) são exploratórios, destinados a confirmar ou não a validade dos números telefónicos chamados”.
Em seu entender, são “um procedimento preparatório de outras fraudes telefónicas, das quais já existe vasto conhecimento, seja por via de falsas chamadas policiais ou de mensagens escritas que reclamam a cobrança de quantias”.
Além deste fenómeno, e em paralelo, o Gabinete Cibercrime diz ter identificado, neste caso “com clareza”, mais uma campanha de burlas telefónicas visando destinatários em Portugal, em cujos telefonemas fraudulentos a generalidade das conversações é estabelecida em inglês, “por vezes de nível rudimentar e com um sotaque comummente utilizado na região do subcontinente indiano”.
Num destes esquemas envolvendo chamadas fraudulentas, o agente criminoso refere ser funcionário de uma entidade gestora de carteiras de criptoativos e informa a vítima de que o seu endereço de email está associado a uma carteira digital de criptoativos muito antiga, onde está depositado um muito considerável valor financeiro. Ainda diz que esta carteira está inativa há demasiado tempo e, por isso, irá ser encerrada.
Adianta por último que este encerramento pode ser evitado, se o seu dono (a vítima) abrir uma conta numa outra entidade, para onde possam ser transferidos os valores que tem na carteira. O Gabinete Cibercrime diz ainda terem sido identificados casos em que o agente criminoso facultou à vítima instruções e credenciais para acesso a uma plataforma online onde poderia ser consultado o saldo da alegada carteira digital.
Caso, no decurso da chamada, a vítima se disponibilizar para abrir a tal nova conta ou carteira, como lhe é proposto pelo agente criminoso, este informa-a de que tal abertura supõe o depósito imediato, nessa nova conta, de uma quantia, que pode atingir centenas de euros.
Para o efeito, o agente criminoso dá à vítima instruções precisas quanto à forma de proceder à transferência de valores para essa suposta nova carteira de criptomoedas.
“Trata-se, naturalmente, de uma carteira controlada pelos agentes criminosos, que, uma vez na posse do dinheiro, desaparecem”, alerta.
“Estas chamadas telefónicas são fraudulentas. São efetuadas por agentes criminosos que integram grupos de criminalidade organizada internacional. O objetivo único das chamadas é o de persuadir as vítimas a transferirem quantias monetárias para a carteira de criptoativos que lhes indicam”, conclui o Gabinete Cibercrime.