A Scotland Yard enfrenta acusações de que agentes da Polícia Metropolitana ajudaram a encobrir crimes de Mohamed Al Fayed, nomeadamente de perseguição a elementos que trabalhavam para o bilionário, incluindo uma mulher que alegadamente terá recusado avanços de caráter sexual levados a cabo pelo proprietário do Harrods, avança o The Guardian.

De acordo com um antigo chefe de segurança dos grandes armazéns de luxo, um agente da polícia, acusado de aceitar regularmente subornos em dinheiro para cumprir ordens de Al Fayed, terá recebido secretamente um telemóvel do Harrods, enquanto um comandante sénior da polícia terá recebido cabazes dos armazéns “sempre que tinha sido uma grande ajuda”.

Uma das vítimas terá sido Hermina da Silva, uma jovem ama dos filhos de Al Fayed, que foi despedida em 1994 depois de supostamente ter rejeitado avanços de cariz íntimo do antigo proprietário do Fulham, clube onde também há relatos de queixas de assédio. Como consequência, foi detida sob alegações forjadas de roubo, depois de ter ameaçado o seu então chefe com um processo de assédio sexual, mas mais tarde foi libertada sem qualquer acusação.

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“É espantoso o que eles fazem por uns trocos”, terá dito John Macnamara, chefe de segurança de Al Fayed, sobre a polícia na altura da detenção de Hermina. Já um porta-voz da Polícia Metropolitana informou que estavam “a proceder a uma revisão completa de todas as alegações existentes que foram comunicadas sobre Al Fayed para garantir que não existem novas linhas de investigação baseadas em novas informações que surgiram”. “Isto inclui a ligação com a Direção de Normas Profissionais, quando apropriado”, acrescentou.

As alegações de corrupção policial constam de uma declaração de 52 páginas datada de 1997 e redigida por por Bob Loftus, que trabalhou com Macnamara no Harrods, como parte da defesa da Vanity Fair num processo de difamação movido por Fayed contra a revista. O caso foi resolvido fora do tribunal, mas uma cópia do rascunho da declaração de Loftus vista pelo The Guardian foi guardada pelo então editor britânico da Vanity Fair, Henry Porter, que afirmou ao jornal que alguns agentes da polícia tinham sido “importantes facilitadores” e “um fator que permitiu que [Al Fayed] continuasse o seu abuso anos depois do acordo em 1997”.

Loftus, de 83 anos, que trabalhou para Al Fayed como diretor de segurança no Harrods entre 1987 e 1996, não pôde comentar devido a problemas de saúde, mas Eamon Coyle, de 70 anos, que foi adjunto de Loftus, disse ao The Guardian reconhecer como verdadeiras as alegações contidas na declaração. “Eu sabia que existia um polícia que estava sob o controlo direto de Macnamara. Estava sob escuta. Estava na folha de pagamentos”, afirmou, acrescentando que era do conhecimento geral que Macnamara tinha uma influência significativa na Scotland Yard.

Um documentário da BBC, emitido no mês passado, incluiu o testemunho de várias mulheres, entre as quais cinco que alegam ter sido violadas por Al Fayed. Desde então, a Polícia Metropolitana afirmou que está a investigar uma série de novas alegações de crimes sexuais, para além de rever os casos de 19 mulheres que já tinham sido apresentados desde 2005 até morte de Al-Fayed em 2023, aos 94 anos.

Dono histórico do Harrods acusado de abuso sexual e violação por 37 mulheres

A Scotland Yard afirmou que, apesar de não ser possível instaurar um processo penal contra alguém que já morreu, têm que “garantir que são exploradas a fundo as possibilidades de outros indivíduos serem acusados de quaisquer infrações penais”.