O primeiro-ministro assegurou esta segunda-feira que o atual executivo PSD/CDS-PP “não é um Governo liberal do princípio ao fim”, mas social-democrata e democrata-cristão, e vê no SNS “a trave-mestra” do sistema de saúde.

Luís Montenegro falava no lançamento da obra do novo Hospital de Todos os Santos, na freguesia de Marvila, em Lisboa, e, no final, não respondeu a perguntas da comunicação social sobre as negociações com o PS sobre o Orçamento do Estado para 2025.

“Não há dúvida que talento não vos falta”, disse, em tom bem-humorado, no final de alguns metros a ser questionado pelos jornalistas sobre o tema, e apenas respondendo, de forma breve, mas afirmativa às perguntas se estava bem-disposto ou otimista.

Na sua intervenção na cerimónia, o primeiro-ministro reiterou que este Governo “não tem estigmas” quanto à prestação de cuidado de saúde.

“Lá onde o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não tem capacidade de responder melhor, mais depressa, nós vamos à procura dessa resposta no setor privado e no setor social”, disse.

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Mas não se enganem, este não é um Governo liberal do princípio até ao fim, este é um Governo social-democrata e democrata-cristão e é um governo que não tem dúvidas: a estrutura do sistema de saúde é o SNS e está provado que o SNS tem capacidade para ser essa estrutura, esse esteio principal”, disse.

Montenegro quis também responder aos que entendem que os vários acordos de valorização de carreiras que o executivo PSD/CDS-PP assinou nos primeiros seis meses do seu mandato servem apenas para aumentar a paz social.

“Eu sei que pode parecer que fizemos, aparentemente, o mais fácil e que esses entendimentos se circunscreveriam a questões laborais. É um erro pensar-se assim. O facto de nós termos valorizado as carreiras da administração pública (…) é uma decisão estrutural e estratégica”, disse.

O primeiro-ministro defendeu que “sem bons recursos humanos não há boa administração pública” e considerou que estas valorizações visam garantir o cumprimento dos serviços públicos “a médio e longo prazo”.

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“Não é a pensar naquilo que acontecerá já no dia de amanhã, se calhar nem é para a vigência deste Governo e dos próximos. (…) Aqueles que possam ver – como vejo muitas vezes aí dito e escrito até na minha área política – apenas o efeito imediato de haver mais paz social, acreditem que as decisões que estamos a tomar e que continuaremos a tomar é no sentido de estratégica e estruturalmente preparar o país para as próximas décadas”, afirmou.

Numa cerimónia em que discursou também a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, o primeiro-ministro disse não haver “dúvida nenhuma” que o Hospital de Todos os Santos irá melhorar “de uma forma muito significativa as oportunidades de tratamento, de cuidar da saúde das pessoas”.

“Nós precisamos de ter bons equipamentos, bons profissionais, uma boa conciliação de todas as capacidades instaladas, mas sempre com um foco que é servir as pessoas (…) Este equipamento, para além de concentrar várias das ofertas de saúde que hoje estão disseminadas em muitas unidades, vai oferecer mais qualidade”, disse, considerando que esta unidade vai ajudar a reter “talento e capital humano” no SNS.

O Hospital Todos os Santos irá agregar os hospitais que compõem a ULS São José – Santa Marta, Capuchos, São Lázaro, Curry Cabral, D. Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa.

Ele é de Todos os Santos porque de facto foram precisos todos os santos para nós chegarmos até ao dia de hoje, mas é de Todos os Santos também porque é uma forma de associar muito daquilo que foi o caminho dos serviços de saúde às unidades que partiram ou do setor social ou mesmo da igreja. Este Governo não tem problemas em assumir isso e em reconhecer a história que está subjacente a este percurso”, justificou.

Montenegro salientou que o dia de hoje é “o resultado de pelo menos anos 15 anos de trabalho”, numa cerimónia em que estiveram presentes antigos ministros da Saúde como Maria de Belém, Correia de Campos, Paulo Macedo, Arlindo de Carvalho ou Luís Filipe Pereira, bem como o presidente do Tribunal de Contas, José Tavares, em final de mandato, a quem o primeiro-ministro aproveitou para deixar um agradecimento.

“Um grande servidor público, que agora termina mais uma etapa da sua já vasta carreira, mas que não será a última, estou convencido, dado que o prestígio que granjeou, quer em Portugal, quer fora de Portugal, é um ativo importante que naturalmente o país não pode nem vai seguramente desperdiçar”, disse.

Do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, Luís Montenegro recebeu palavras de elogio por ter avançado com duas “decisões que os lisboetas nunca esquecerão”: este hospital e o futuro aeroporto em Alcochete.