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O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou esta sexta-feira que não ouviu “nada de novo” do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que, tal como ele, participou numa cimeira anual da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), no Laos. “Ouvi-o. Não posso dizer se ele me ouviu, mas não ouvi nada de novo”, disse Blinken aos jornalistas.

O chefe da diplomacia norte-americana deixou claro que não teve qualquer contacto direto com o seu homólogo, naquele que foi um dos raros momentos que partilharam a mesma sala.

“Penso que todos os países presentes nesta sala, sem falar em seu nome, deixaram claro que esta agressão tem de parar, não só porque é uma agressão contra o povo ucraniano, mas também porque é uma agressão contra os princípios que estão no centro do sistema internacional”, afirmou.

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“É surpreendente que tantos países do outro lado do mundo, na região do Indo-Pacífico, estejam a interessar-se pelo que se passa na Ucrânia, porque sabem que se um país puder agir com impunidade e cometer atos de agressão, isso é um sinal para potenciais agressores em todo o mundo”, continuou Blinken.

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Apesar das observações de Blinken sobre o consenso na cimeira, Washington está cada vez mais preocupado com o apoio da China à Rússia, sob a forma de exportações industriais avançadas que não constituem um apoio militar direto. A Índia, que mantém relações cordiais com os Estados Unidos, também irritou Washington ao recusar-se a aderir às sanções ocidentais contra Moscovo.

O Presidente Joe Biden e a Vice-Presidente Kamala Harris, a candidata democrata às eleições presidenciais de novembro, comprometeram-se a apoiar a Ucrânia a longo prazo e prometeram não negociar com a Rússia nas costas de Kiev. A sua posição contrasta fortemente com a do candidato republicano, Donald Trump, que se comprometeu a pôr rapidamente fim ao conflito ucraniano. Os democratas sugeriram que Trump ameaça suspender a ajuda à Ucrânia para forçar o país a fazer concessões territoriais.

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EUA preocupados com ações “perigosas e ilegais” chinesas no mar do Sul da China

Na mesma cimeira, Blinken disse que os EUA estão preocupados com atividades “cada vez mais perigosas e ilegais” do Exército chinês no disputado mar do Sul da China e prometeu que Washington vai continuar a defender a liberdade de navegação naquela rota comercial marítima vital.

“Estamos muito preocupados com as atividades cada vez mais perigosas e ilegais da China no mar do Sul da China, que feriram pessoas, prejudicaram embarcações de nações da ASEAN e contradizem os compromissos de resolução pacífica de disputas”, disse Blinken. “Os Estados Unidos vão continuar a apoiar a liberdade de navegação e a liberdade de sobrevoo no Indo-Pacífico”, apontou.

Esta cimeira seguiu-se a uma série de confrontos violentos naquelas águas entre a China e as Filipinas e o Vietname, membros da ASEAN. Pequim, que reivindica quase todo o mar do Sul da China, tem reivindicações sobrepostas com membros da ASEAN, como Vietname, Filipinas, Malásia e Brunei, bem como com Taiwan. Cerca de um terço do comércio mundial transita por esta rota marítima, também rica em reservas de pesca, gás e petróleo.

[Já saiu o segundo episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio.]

O Governo chinês recusou reconhecer uma decisão de arbitragem internacional de 2016 de um tribunal da ONU em Haia, que invalidou as reivindicações chinesas, tendo construido e militarizado as ilhas que controla.

Os EUA não têm reivindicações no mar do Sul da China, mas enviaram navios da marinha e jatos de combate para patrulhar as águas, desafiando as reivindicações chinesas.

Este ano, navios chineses e filipinos entraram em confronto repetidamente e, na semana passada, o Vietname afirmou que forças chinesas atacaram os seus pescadores no mar em disputa. A China também enviou navios de patrulha para áreas que a Indonésia e a Malásia reivindicam como zonas económicas exclusivas.

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Os EUA têm avisado repetidamente que são obrigados a defender as Filipinas — o mais antigo aliado na Ásia — se as forças, navios ou aviões filipinos forem alvo de ataques armados. O Presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr., queixou-se aos líderes da cimeira que o país “continua a ser alvo de assédio e intimidação” por parte da China.

Lamentou que a situação permaneça tensa e inalterada devido às ações da China, que, afirmou, violam o direito internacional. No início desta semana, o líder de Singapura, Lawrence Wong, alertou para os “riscos reais de um acidente que se transforme em conflito” se a disputa marítima não for abordada.

A Malásia, que vai assumir a presidência rotativa da ASEAN no próximo ano, deverá acelerar as conversações sobre um código de conduta para as águas disputadas. As autoridades concordaram em tentar completar o código até 2026, mas as conversações têm sido dificultadas por questões delicadas, incluindo desacordos sobre se o pacto deve ser vinculativo.

Durante a cimeira, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, designou o mar do Sul da China como uma “casa partilhada”, mas repetiu a afirmação de que Pequim está apenas a proteger os seus direitos soberanos.

Li culpou a intromissão de “forças externas” que procuram “introduzir o confronto entre blocos e conflitos geopolíticos na Ásia”, numa referência velada a Washington.

Blinken disse também que os EUA acreditam ser “importante manter o compromisso comum de proteger a estabilidade no estreito de Taiwan”. A China reivindica a ilha, com um governo autónomo, como um território seu. A ASEAN tem sido cautelosa na disputa marítima com a China, que é o maior parceiro comercial do bloco e o terceiro maior investidor.

O conflito não afetou as relações comerciais, uma vez que as duas partes se concentraram na expansão de uma zona de comércio livre que abrange um mercado de dois mil milhões de pessoas.

Notícia atualizada às 12h40 com mais declarações de Blinken na Cimeira da ASEAN