Mesmo com a atividade suspensa em vários países devido às preocupações com a privacidade, incluindo Portugal, a Worldcoin mantém a pretensão de expansão do negócio de digitalização da íris para servir de prova de humanidade.

No primeiro evento global da empresa, que serviu para anunciar mais alguns lançamentos e serviços, falou-se muito de privacidade mas sem qualquer referência às limitações e constrangimentos enfrentados um pouco por todo o mundo. Alex Blania, um dos fundadores, anunciou que a empresa já “verificou 15 milhões de utilizadores, sete milhões por uma Orb”, o dispositivo redondo e espelhado que até há alguns meses ainda era visível em vários pontos de Portugal. Segundo Blania, a empresa conseguiu verificar “uma em cada sete pessoas em Lisboa” — mas sem qualquer referência ao facto de a empresa não estar a operar em Portugal há meses, depois da suspensão imposta pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), em março.

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A Worldcoin foi criada em 2019, com o objetivo de criar uma solução de preservação da identidade digital, chamada World ID, e também a de um ativo digital, chamado Worldcoin (WLD), que se recebe “simplesmente pela prova de que se é humano”. O token digital foi lançado oficialmente em julho, equivalente a 2,11 dólares.

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O acesso ao sistema de verificação World ID é feito através de uma deslocação até uma Orb, para que se possa digitalizar a íris e provar que é humano. Uma das mentes da empresa é Sam Altman, que lidera a companhia de inteligência artificial (IA) OpenAI, a criadora do ChatGPT. Não é por acaso que há sempre tantas referências à necessidade de se provar que é humano: a empresa acredita que a IA está a evoluir para um ponto em que se tornará cada vez mais difícil distinguir o que é humano do que é artificial.

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No evento desta quinta-feira, a empresa, que vai mudar de nome para ser apenas World, anunciou que quer expandir as operações de digitalização para territórios como Costa Rica, Brasil, Indonésia, Panamá, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Taiwan, Austrália, Hungria e Roménia. Mais uma vez, sem qualquer nota para os constrangimentos noutros países.

A vontade de escalar a presença a novos espaços, para conseguir atingir a meta de “mil milhões de utilizadores”, também passa por parcerias. Sem explicar bem em que mercados ou com que requisitos, a companhia quer trabalhar com “lojas parceiras, por exemplo, cafés e lojas de conveniência”, onde quer instalar Orbs. “Isto permite às pessoas não só descobrir o projeto encontrando uma Orb num negócio local como a fazer uma digitalização no local”, explicou Rich Heley, chefe de equipamentos da companhia, que anteriormente trabalhou na Apple, Meta e Tesla.

“As parcerias são fundamentais para escalar as localizações da Orb e obter maior distribuição”, acrescentou.

Também a Orb vai entrar na era 2.0 — ou seja, haverá uma nova versão do equipamento. A empresa diz que quer ter “muitas mais Orbs, mais mil”, e que está a trabalhar com “fabricantes independentes” para acelerar essa produção.

A Worldcoin quer também passar a vender ou alugar as Orb a utilizadores comuns — mais uma das etapas de expansão. “Queremos um novo tipo de operador: qualquer pessoa poderá alugar ou comprar a nova Orb para verificar a identidade de qualquer pessoa na sua comunidade.” Não foram revelados preços ou se há requisitos para garantir que esta atividade é feita respeitando as regras da proteção de dados ou em que mercados isto estará disponível. Pelo anúncio da empresa, quem fizer encomendas só receberá o dispositivo “na primavera”.

Também foi revelada a intenção de criar uma forma de “pedir” que a Orb vá ao encontro do utilizador como se fosse uma encomenda de comida. A empresa queixou-se de que em alguns países, há dificuldade “de acesso” às Orbs. Mais uma vez, não foram revelados mercados, apenas a referência a uma parceria com a empresa de entregas Rappi, que opera na América Latina.

Atualmente, a atividade da Worldcoin está suspensa em Portugal e Espanha. Também já foi alvo de investigações e análises em países como França, Inglaterra ou Argentina para perceber como é feita a recolha e processamento de dados. No Quénia, esteve suspensa durante alguns meses, mas as operações foram retomadas em julho, segundo a Reuters.

Passaportes e documentos de identificação de alguns países vão servir para aderir ao serviço de autenticação

Na narrativa da Worldcoin, o serviço de autenticação da empresa, o World ID, pode ser usado para provar na internet que o utilizador é humano. Na lógica da empresa, quantos mais serviços forem compatíveis, melhor.

Mas, segundo Adrian Ludwig, diretor de segurança de informação da Tools for Humanity (a organização que contra a Worldcoin), ainda há quem não consiga chegar até uma Orb para provar a sua identidade. Assim, vai ser lançada uma versão de teste em que se poderá aderir ao serviço de autenticação através de documentos de identificação, criados pelas entidades oficiais, como um passaporte ou uma carta de condução. Em teoria, um documento único para cada pessoa.

As referências à privacidade foram limitadas: “Garantimos que a informação sobre o passaporte não sai do vosso telefone, não a vamos transferir para a cloud”, declarou o executivo.

Por agora, o teste arrancará com os “passaportes dos EUA”, mas na lista de bandeiras apresentadas pela empresa como compatíveis com o teste estavam o Reino Unido, Argentina, Alemanha, França, Coreia do Sul ou Japão.

Os documentos de identificação que estejam digitalizados pela empresa nesta versão de teste vão ficar disponíveis na aplicação World App, onde quem aderiu ao serviço pode ver quantos tokens tem ou interagir com outros serviços.