Em mais uma sessão do julgamento por violação em série durante anos, Gisèle Pelicot, de 71 anos, confessou ser hoje “uma mulher totalmente destruída” devido aos indícios revelados em tribunal, nomeadamente por ter tido conhecimento de que um jovem (de quem “poderia ser avó”, lembrou) esteve entre os homens que a violaram, na sua casa, enquanto estava inconsciente.

“Este homem, que veio violar uma mulher inconsciente de 57 anos — eu também sou mãe e avó… Eu poderia ser avó dele. Eu sou uma mulher que está totalmente destruída, e não sei como posso recuperar disto“, disse Pelicot, no tribunal de Avignon, citada pelo The Guardian.

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Pelicot recusou ainda qualquer sentimento de vergonha perante os crimes e diz que são os mais de 50 abusadores (que a violaram ao longo de quase dez anos, até 2020) que devem estar envergonhados do que fizeram. “Quando uma mulher é violada, há vergonha, e não nos cabe a nós a vergonha — cabe-lhes a eles. Eu quero que essas mulheres digam: ‘A senhora Pelicot fez isso, nós podemos fazer isso também'”, disse a mulher, reafirmando que, com o seu testemunho público, tem a intenção de despertar consciências na sociedade. “É verdade que ouço muitas mulheres e homens que dizem que sou muito corajosa. Não é coragem, é vontade e determinação para mudar a sociedade”, explicou, em tribunal.

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“Hoje eu não me sinto responsável por nada. Hoje, acima de tudo, eu sou uma vítima“, sublinhou Gisèle Pelicot. Depois, dirigiu-se ao marido, que estava a assistir à sessão, pedindo-lhe explicações pela forma como permitiu e incentivou as dezenas de violações que ocorreram ao longo dos anos. “Como me pudeste trair até este ponto? Como pudeste trazer esses estranhos para o meu quarto?”, questionou Pelicot, lembrando que, tal como os testemunhos de familiares dos abusadores que já forem prestados em tribunal, também ela pensava que o marido era um “homem perfeito”. “Tantas vezes, eu disse a mim mesma o quão sortuda eu era por te ter ao meu lado”, recordou, dirigindo-se ao marido.

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Dominique Pelicot, de 71 anos, e os outros 50 arguidos podem ser condenados a 20 anos de prisão se forem condenados pelo crime de violação agravada. O julgamento vai decorrer até dia 20 de dezembro.