A Polícia de Segurança Pública (PSP) assegurou esta quarta-feira que vai ter “tolerância zero” com eventuais  desacatos como os que se verificaram nas últimas duas noites na área metropolitana de Lisboa, desencadeados pela morte de um cidadão baleado pela PSP.

“É importante salientar que repudiamos claramente e que temos e teremos tolerância zero a qualquer ato de desordem e destruição praticados por grupos criminosos que, apostados em afrontar a autoridade do Estado e perturbar a segurança das comunidades, executam ou têm vindo a executar as ações que os jornalistas têm presenciado”, disse o diretor nacional em substituição da PSP, Pedro Gouveia.

Pedro Gouveia confirmou que têm ocorrido “alterações sistemáticas à ordem pública em várias zonas do território”, que colocam em causa “o mobiliário urbano” e a “circulação das pessoas” e assegurou que “a polícia vai pôr cobro a situações que venham a ocorrer”.

Em conferência de imprensa, o superintendente explicou também que a PSP tem “um grupo de trabalho com todas as forças e serviços de segurança” e que estão a “trabalhar em uníssono” para repor a tranquilidade pública e “garantir a segurança das pessoas de bem”. Apelou ainda à calma e denunciou que as formas de protesto que estão a ser desencadeadas são ilegais.

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Aos jornalistas, o responsável transmitiu a ideia de que as “manifestações não são as únicas condenáveis” e que “o incitamento nas redes sociais a ações violentas” é crime e é um fenómeno que está a ser monitorizados pelos serviços e forças de segurança, “no sentido de [as pessoas] poderem ser responsabilizadas criminalmente”, sublinhou Pedro Gouveia.

PSP está “prestes a identificar” dezenas de pessoas pela prática de crimes e já registou 60 ocorrências de desordem e incêndio

Para além das três detenções já feitas, a PSP está prestes a identificar dezenas de outras pessoas que praticaram crimes nas últimas duas noites na zona de Lisboa. “Salientamos as três detenções mas há várias dezenas de indivíduos que estão prestes a serem identificados pela prática de crimes no âmbito de investigações que temos em curso, quer pela instigação à prática de crime, por desordem e incêndios de mobiliário urbano”, disse o comandante do comando metropolitano de Lisboa, Luís Elias.

O responsável detalhou que foi “foi identificada uma pessoa por disparo de arma de fogo”, que foram registadas 60 ocorrências de desordem e incêndio de mobiliário urbano e dois polícias ficaram feridos. Dois autocarros da Carris e um motociclo foram incendiados. Dois passageiros de autocarro ficaram feridos depois de ameaçados com armas brancas.

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Sobre a morte de Odair Moniz, de 43, na madrugada de segunda-feira, o diretor nacional da PSP e substituição não se alongou sobre as circunstâncias em torno da morte, e sublinhou que estão a ser averiguadas numa investigação em segredo de justiça. “A PSP não deixa de respeitar o que a lei determina e acatará, obviamente, as consequências e o resultado do inquérito”, vincou o diretor nacional em suplência, que também rejeitou indicar se Odair Moniz tinha ou não antecedentes criminais, referindo que “isso irá ser apurado no âmbito do inquérito-crime”.

Questionado pelos jornalistas sobre os relatos de família de Odair Moniz e dos vizinhos, que garantem que a polícia invadiu na terça-feira a casa onde vivia o homem de 43 anos, o diretor nacional da PSP em substituição rejeitou qual tal tenha ocorrido, corroborando o comunicado emitido da PSP desta manhã. “Nunca houve entrada forçada da polícia dentro de nenhuma residência”, disse Pedro Gouveia.

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“É inadmissível que as pessoas de bem se sintam reféns de uma minoria de criminosos”, diz PSP

Questionado sobre a forma e a estratégia que a PSP tem em marcha para conseguir repor a ordem e tranquilidade públicas nas zonas afetadas na última noite por desacatos — com especial incidência no Bairro do Zambujal (Alfragide, Amadora), no Bairro da Portela (Carnaxide, Oeiras) ou em Casal de Cambra (Sintra) -, Pedro Gouveia sublinhou que há um desejo de paz destas comunidades.

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“O que temos ouvido nestes últimos tempos do bairro é que querem viver em paz e querem que a PSP reponha a normalidade nestes bairros. É inadmissível que as pessoas de bem em certas zonas se sintam reféns dos criminosos. As pessoas pedem justiça, tal como a polícia pede justiça para as pessoas que estão a ser reféns de um pequeno grupo de criminosos”, afirmou.

Questionado sobre a alegada falta de experiência do polícia que matou Odair Moniz, e que teria pouco mais de 20 anos, o diretor nacional da PSP em substituição rejeita uma ligação entre a idade do agente e o facto de estar destacado em serviço num território considerado problemático.

“Os elementos policiais que exerciam a sua função têm a formação-base e essa formação determina que atuar em todo o território e em todas as circunstâncias. O facto de serem mais novos ou mais velhos não determina a sua capacidade de intervirem e patrulharem áreas mais ou menos críticas”, defendeu Pedro Gouveia.