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Um rapaz de 13 anos, deitado no chão, pede ajuda. Um grupo de homens aproxima-se, alguns deitam as mãos à cabeça e fazem sinais a outras pessoas para que venham ajudar a mover o rapaz, e ajoelham-se ao seu lado. Percebe-se que o rapaz está ferido. Uma explosão rebenta a poucos metros do local onde se encontram e os homens fogem, tentando ainda levar consigo o rapaz, mas sem o conseguir.

São estas as imagens que se veem num vídeo de 48 segundos captado pela jornalista palestiniana Wafaa Thaher na passada sexta-feira. O vídeo foi partilhado com o jornal Washington Post, que confirmou a sua veracidade. O vídeo foi gravado em frente à casa dos pais de Thaher, na rua de Nafaq, no norte da Faixa de Gaza, próximo do campo de Jabalia.

Depois da explosão, a câmara fica escura durante alguns segundos, enquanto Thaher diz ao pai que se refugie. Logo a seguir, volta a filmar a rua, onde o rapaz — que há alguns segundos acenava com os braços — está agora imóvel e a rua quase deserta, depois de as pessoas que o ajudavam terem fugido. “Ainda bem que morreu, ele estava em pedaços”, diz o pai de Thaher.

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O rapaz, identificado como Mohammed Salem, morreu dos ferimentos. Um outro rapaz, de 14 anos, foi atingido e morto pela segunda explosão — captada no vídeo. Ambas as mortes foram confirmadas pelos paramédicos da Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano.

As questões que Thaher faz no vídeo — “Porque é que o atingiram?” — foram repetidas por um cidadão israelita que partilhou o vídeo do Post nas suas redes sociais esta quarta-feira. “Uma criança foi bombardeada por nós e ele está ferido, a chorar por ajuda e o que faz o exército? Bombardeia aqueles que vieram ajudar. Porquê?”, questionou. Na sequência desta questão, o momento foi partilhado também pelos media israelitas.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram apenas que “estão a trabalhar para desmantelar as capacidades militares e administrativas do Hamas” e a tomar “as precauções possíveis para reduzir vítimas civis”, quando a mesma questão lhes foi colocada pelo Washington Post.

[Já saiu o quarto episódio de “A Grande Provocadora”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de Vera Lagoa, a mulher que afrontou Salazar, desafiou os militares de Abril e ridicularizou os que se achavam donos do país. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. E pode ouvir aqui o primeiro episódio, aqui o segundo e aqui o terceiro.]

O porta-voz do Crescente Vermelho Palestiniano, Nebal Farsakh, afirmou que as ambulâncias da organização estavam já próximo do local quando se deu a segunda explosão, confirmando a utilização de uma tática de ataque conhecida como “duplo toque“: um primeiro ataque é lançado e quando civis e equipas de emergência se reúnem para ajudar, é lançado um segundo ataque, maximizando o número de vítimas.

Bombardeamento israelita a hospital de Gaza provoca 15 mortes

A pouca distância, em Jabalia, as equipas médicas relatam outros cenários de terror: três hospitais foram alvos de ataque diretos por parte das IDF, que dispararam sobre socorristas em ambulâncias à porta dos hospitais e pessoas que tentavam furar o bloqueio dos soldados israelitas na região foram mortas a tiro. O cerco israelita a Jabalia dura há 19 dias e 770 pessoas foram mortas e outras 1000 foram feridas, segundo dados do Gabinete de Comunicação de Gaza, citados pela Al Jazeera.