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A tempestade dos últimos dias em Valência é descrita como a mais destruidora do século XXI, mas a História mostra que a província espanhola foi vítima, ao longo dos séculos, da força destruidora da água das chuvas torrenciais. A mais famosa e mortífera inundação ocorreu em Valência a 27 de setembro de 1517 e provocou o desabamento de centenas de casas e estruturas. As vítimas mortais contaram-se às centenas, não existindo registo de um número certo.
A cidade da costa oriental de Espanha estava em preparativos para uma semana de festividades para celebrar a chegada do novo rei, aquele que seria o futuro imperador Carlos V, como recorda o El Español. Crónicas de jornais antigas dão conta de uma chuva intensa que atingia a região durante mais de um mês. À chegada do novo monarca a Espanha, a 2o de setembro, a chuva deu tréguas, acontecimento que foi interpretado pelos valencianos como um bom presságio em relação ao futuro.
A antevisão falhou. A 27 de setembro, o rio Tura transbordou e provocou inundações em toda a cidade. José Ángel Núñez Mora, climatologista espanhol consultado pelo El Español, analisou documentos que registam a força da enchente que provocou o colapso de três das cinco pontes que existiam na cidade naquele tempo.
Outros arquivos da época conservam relatos em que se detalha que “veio o rio de Valência tão crescido, que subiu acima das pontes e entrou [na cidade]”. Outras localidades da região, como Sumacàrcer, Gavarda, Alzira ou Algemesí, também foram afetadas pelas chuvas torrenciais na mesma altura, tal como aconteceu nos últimos dias.
Em 2016, o jornal Las Provincias escreveu sobre o desastre de 1517, que nesse ano celebrava o seu 499º aniversário. Citou cronistas contemporâneos às inundações que se tornaram históricas pela sua dimensão. Davam conta da interpretação religiosa que muitos valencianos deram à tragédia natural. Consideraram-na uma “nova inundação universal de dimensões bíblicas“, comparando-a ao aviso de Noé.
Numa das crónicas consultadas relata-se que choveu quase quarenta dias seguidos, facto que era utilizado como paralelo ao episódio bíblico da arca de Noé, em que choveram “40 dias e 40 noites”. “A cidade tornou-se uma Babilónia de gritos e vozes, nascida daqueles que morreram afogados nas águas, e em baixo as casas que desabavam”, lê-se na crónica citada pelo jornal espanhol.
Do século XIV até ao século XVII, os valencianos projetaram obras com o objetivo de conter a força das águas e evitar que o rio Túria transbordasse de tempos a tempos. Em 1957, depois de 75% da cidade ficar submergida, começou a ser estudado o desvio do rio para evitar a repetição da tragédia. O rio Túria foi então desviado para o lado sul da cidade de Valência, com o antigo leito a ser utilizado atualmente como parque da cidade.