A polícia moçambicana travou esta segunda-feira, no centro de Maputo, uma manifestação com poucas dezenas de pessoas em protesto contra os resultados anunciados das eleições gerais de 9 de outubro, lançando gás lacrimogéneo para dispersar.

A marcha tinha sido convocada pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), que apoia a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, e ao fim de algumas centenas de metros, na avenida Mao Tse-Tung, elementos da polícia tentaram demover os manifestantes, que tentavam chegar à estátua de Eduardo Mondlane, na avenida com o mesmo nome.

Com os manifestantes, sem a presença visível de qualquer dirigente do Podemos, a manterem a intenção de marchar, pacificamente, empunhando pequenos cartazes de contestação aos resultados, a polícia acabou por fazer vários disparos de gás lacrimogéneo para dispersar, cerca das 10h50 locais (8h50 em Lisboa).

Com moradores na envolvente a atirarem pedras e outros objetos para o local, em protesto contra a ação da polícia, o grupo acabou por se separar, mas pouco depois, na avenida Eduardo Mondlane, uma parte dessas pessoas, que se concentrou no local, voltou a ser dispersada com novos lançamentos de gás lacrimogéneo.

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Até agora, pelo menos 11 pessoas ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e polícia ocorridos nos primeiros três dias de greves convocadas por Mondlane, anunciou esta segunda-feira o Hospital Central de Maputo (HCM), maior unidade do país.

“Desde o dia 31 [de outubro] que foi o primeiro dia de tumultos até domingo [3 de novembro] deram entrada 11 pacientes com traumas”, disse Dino Lopes, diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM, durante uma conferência de imprensa.

O responsável avançou que, dos 11 pacientes que deram entrada no HCM, nove continuam internados e dois já tiveram alta hospitalar.

Dino Lopes declarou que o Hospital Central tem trabalhado com “uma escala de contingência” desde a convocação da primeira greve pelo Venâncio Mondlane e devido às manifestações, com o objetivo de assegurar o atendimento a todos os utentes que se dirigem àquela unidade hospitalar.

No entanto, voltou a alertar para o risco de apedrejamento das ambulâncias da instituição sempre que se deslocam aos locais onde há tumultos para socorrer feridos.

“Trabalhamos de forma condicionada, porque os colegas temem também tumultos que estão nos bairros periféricos e às vezes não conseguem chegar. Isso faz com que a gente trabalhe 24 horas e é sobrecarga para os colegas que se fazem ao serviço”, acrescentou o porta-voz do HCM.

Venâncio Mondlane apelou a uma greve geral e manifestações durante uma semana em Moçambique, a partir de 31 de outubro, e marchas em Maputo em 7 de novembro.

O candidato presidencial designou esta como a terceira etapa da contestação aos resultados das eleições gerais de 9 de outubro, que se segue aos protestos realizados nos passados dias 21, 24 e 25 de outubro, que provocaram confrontos com a polícia, de que resultaram pelo menos 10 mortos, dezenas de feridos e 500 detidos, segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), uma organização não-governamental moçambicana que monitoriza os processos eleitorais.

O CIP e o CDD — Centro para a Democracia e Direitos Humanos estimam que nos confrontos dos últimos dias morreram pelo menos nove pessoas nas províncias de Nampula e Zambézia em confrontos com a polícia no contexto dos protestos pós-eleitorais.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou em 24 de outubro a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975), na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos.

Venâncio Mondlane, apoiado pelo Podemos, extraparlamentar, ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas afirmou não reconhecer estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.